Olho no Olho

 
13.01.2004  
   

Custo do aluno Universitário

Dados do MEC mostram que o aluno de ensino superior custa mais ao governo que o dos ensinos médio e fundamental. Com isso, o governo pretende diminuir as verbas para as universidades até 2011, aumentando o orçamento da educação básica e, em tese, solucionando seus problemas. As professoras Deia Maria dos Santos, Superintendente da Pró-Reitoria de Ensino de Graduação (PR-1), e Suely Souza de Almeida, Decana do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), dão sua opinião sobre o assunto.

 

Déia Maria dos Santos
Superintendente da Pró-Reitoria de Ensino
de Graduação e Corpo Discente (PR-1)

“É uma falácia dizer que o Ensino Superior de boa qualidade das universida-des públicas tira qualquer tipo de possibilidade de investimento no ensino médio. A universidade é uma instituição que não constrói uma relação professor x aluno da mesma maneira que acontece numa escola. Os docentes dessa instituição necessitam de qualificação permanente, o que acarreta custo maior, pois o quadro de professores deve prever a saída daqueles que irão se qualificar não só no mestrado ou no doutorado, mas na obtenção do pós-doutorado e nas visitas e viagens a outras instituições de ensino. Isso não deve ser visto como um fardo e sim como um investimento. Já é comprovado que a maior parte da pesquisa científica se faz na universidade pública, como também os grandes avanços tecnológicos na área de agricultura, meio-ambiente, tecnologia e saúde se dão exatamente através das pesquisas desenvolvidas nessas instituições. Mesmo para o aluno que vai para área da licenciatura, é importante ter experiência vinculada à utilização do método científico, premissa fundamental para que esse futuro professor estimule seus alunos de ensino fundamental e médio a desenvolverem uma linha de raciocínio lógico e crítico. Isso é uma formação que não se faz sem custo. Enquanto a educação não for vista como sistema integrado que ofereça e estimule a independência científica, tecnológica, cultural e de pensamento político, estaremos mal”.

 
 

Suely Souza de Almeida
Decana do Centro de Filosofia
e Ciências Humanas (CFCH)

“Bom, eu penso que é absolutamente fundamental investir na educação básica no país. Investir-se na formação docente para que haja uma educação básica de qualidade; o que não supõe reduzir os inves-timentos no ensino superior, muito pelo contrário, eu penso que é importante o investimento no aluno do ensino superior, na universidade pública, porque é uma universidade que apresenta uma formação diferenciada de alta qualidade que envolve docentes que têm longos anos de qualificação, na sua maioria doutores. Portanto, é um ensino associado à formação de pesquisadores, à formação de uma massa crítica voltada para a produção da ciência, da tecnologia. É um ensino que é realimentado por projetos sociais de intervenção na realidade brasileira, portanto é importante que tenhamos universidades públicas de qualidade com acesso democrático. Há um equívoco muito grande quando os meios de comunicação divulgam que os nosso alunos fazem parte da elite. Estudos realizados mostram que o nível de pauperização dos nossos alunos é crescente na maioria absoluta dos cursos. É claro que há cursos em que há alunos com o perfil sócio-econômico mais elevado, mas são exceções. Logo, é importante que haja mecanismos de inclusão destes alunos, de permanência destes estudantes nos nossos cursos, como, por exemplo, a criação de bolsas de graduação, de iniciação científica, de extensão e o desenvolvimento de políticas de assistência estudantil, como os restaurantes universitários, alojamentos com qualidade, assistência médica. São mecanismos que visam a redução dos índices de evasão existentes que estão associados evidentemente à falta de condições financeiras para que o aluno se mantenha na universidade pública. E uma outra medida importante é que haja plena ocupação das nossas vagas ociosas. Penso que um projeto que priorize a educação no país deve priorizar igualmente a educação básica, que envolve ensino fundamental e ensino médio, e o ensino superior.”

 
 

 

 

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