Especial Eleições - Chapa 20

“A gente só existe por causa dos estudantes”

 

Aline Durães

 

 Recolocar a UFRJ no primeiro lugar do ranking qualitativo do Ministério da Educação (MEC). Esse é um dos principais objetivos de Godofredo de Oliveira Neto, candidato da Chapa 20 “A UFRJ que buscamos” à Reitoria da universidade. Para atingi-lo, o professor da Faculdade de Letras acredita numa administração descentralizada e no fortalecimento dos órgãos colegiados. “Os conselheiros devem ter contato constante com seus eleitores, para que suas opiniões estejam de acordo com o pensamento daqueles que os elegeram”, afirma.

O candidato propõe a criação de uma nova instância administrativa, a Pró-reitoria de Assistências Estudantil e Comunitária (PR-6), que será responsável por promover atendimento exclusivo aos alunos da UFRJ. “A gente compreende que a assistência estudantil não é só criar um alojamento, mas, sim, dar ao discente um atendimento prioritário. A PR-6 cuidará de assuntos relativos à saúde do aluno, transporte, moradia, orientação acadêmica e alimentação. Queremos acenar nitidamente que a gente só existe por causa dos estudantes, só para isso que somos pagos.”

Favorável à transparência nas ações da administração central, Godofredo pretende estipular orçamentos específicos para as pró-reitorias de Graduação e de Extensão. O professor também se pronuncia a favor da realização de uma Comissão Temporária de Alocação de Vagas (Cotav) para a distribuição dos funcionários técnico-administrativos. Confira as demais propostas do candidato.
 

Olhar Virtual: Em sua opinião, qual o perfil do profissional que a UFRJ forma e qual ele deveria ser?

Godofredo de Oliveira Neto: Por ter sido a universidade da capital brasileira por muitas décadas, a UFRJ formou um tipo de profissional que exercia sua especialidade junto às classes mais poderosas do país. Em 1964, houve o golpe de Estado que desestruturou o Ensino Superior no país. A UFRJ não escapou desse sopro autoritário e elitista que varreu o Brasil. Tivemos uma sangria de grande parte dos quadros docente e técnico-administrativo. Aos poucos, os estudantes viram disciplinas essenciais para o seu crescimento intelectual e político serem silenciadas. A Ditadura investiu em áreas que, para ela, eram menos perigosas, como, por exemplo, as tecnológicas. O regime entendeu que esses saberes poderiam favorecer o tal “Brasil Grande” com quem tanto se sonhava. Não esperava, entretanto, que a universidade é uma só, e todos os seus centros resistiram à Ditadura. Mas isso mudou o perfil de nossos alunos. Com a abertura política, voltou a existir uma universidade extremamente crítica, que tem por objetivo formar não só especialistas, mas cidadãos críticos e competentes. Nesse quesito, a UFRJ continua a ser a melhor.

As carreiras tecnológicas, por exemplo, verificaram grande avanço, passaram a ter uma importância capital para o desenvolvimento nacional. Paralelamente a isso, as Ciências Sociais, Humanas e Artes foram se virando, se desenvolvendo à força, com menos apoio. Nos últimos anos, houve uma atenção particular à área tecnológica. Se você vai hoje aos cursos de Tecnologia, fica surpreso. Se vai a outras unidades, como as ligadas às Ciências da Saúde, por exemplo, é um mundo totalmente diferente, entretanto, os pesquisadores também são de altíssimo nível. Não é possível que todas as turmas de Graduação de área tecnológica tenham ar condicionado na sala e outras, como as da Letras, por exemplo, não usufruam desse conforto. O ar condicionado em si não é importante, mas serve como metonímia da diferença. A qualidade do Centro de Tecnologia deve ser aplaudida e expandida para toda a UFRJ!

O que vem sendo feito atualmente é uma visão própria de universidade diferente da minha. A opção feita não foi de construir novas salas de aula. Apesar dos vultosos recursos que recebemos, continua a haver penúrias em relação a salas e laboratórios como nos anos 1990. Não há prédios do chamado Reuni. Não se pensou em novos prédios para a Praia Vermelha, que também sofre com a carência de salas de aula. Não foi construído um novo alojamento, como, por exemplo, aconteceu na UFF. Os recursos vieram, mas foram mal distribuídos. Não estou falando de mau uso, mas acho que houve erro na opção de distribuição. Há verbas para que se faça uma gestão de fraternidade, sem rancor, sem olhar para trás, mas que tenha outras opções de investimento.

Olhar Virtual: Muito se discute sobre a necessidade de alterações no estatuto da UFRJ. Por onde essa mudança deve começar?

Godofredo de Oliveira Neto: A reforma é absolutamente necessária. Acho extremamente nefasto o projeto de Estatuinte ter sido votado somente no final do ano passado. Criar uma estatuinte a seis meses do término de uma gestão de oito anos é complicado. Sou super a favor de uma Estatuinte, mas com um congresso Estatuinte, onde haja reuniões. Também é preciso que a universidade seja favorável a ela e entenda que precisamos mexer em certos pontos.

 

Olhar Virtual: Como o senhor avalia o papel da Extensão na universidade?

Godofredo de Oliveira Neto: A Extensão tem um papel vital dentro da universidade. Reconheço na professora Laura (Laura Tavares, atual pró-reitora de Extensão) um desempenho altamente positivo em nível nacional, desempenho esse já verificado em outras épocas, como durante a gestão do professor Horácio de Macedo, por exemplo. Acho que a Extensão é novidade no Brasil no sentido de ajudar a construir o país e de auxiliar a formar um cidadão competente. Não falo de uma Extensão populista, mas, sim, de uma formadora de nossos estudantes e que sirva, ao mesmo tempo, para o desenvolvimento do país até onde a UFRJ possa alcançar.

 

Olhar Virtual: Dentro de uma estrutura administrativa da universidade, como o senhor avalia o papel da Comunicação Institucional?

Godofredo de Oliveira Neto: É fundamental. Para que haja produção efetiva de conhecimento, é essencial que haja disseminação do saber. A Comunicação auxilia nessa difusão de saberes. É essa disseminação que faz uma universidade ser de qualidade e não uma instituição que simplesmente expõe e transmite; ela cria um aluno crítico e competente, que não necessariamente diga “amém” a tudo e a todos. A Comunicação deve ser reforçada, é algo que admiro e aplaudo.