Ponto de Vista

Trabalhando em segurança

 

Paula Ferreira

 

De 23 a 26 de novembro, o Centro de Tecnologia da UFRJ sediou a “II Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho” (Sipat). O evento, realizado em parceria com a Coppe/Copptec, abordou temas relacionados ao desenvolvimento de políticas de segurança e melhoria do ambiente de trabalho.

Durante o ciclo de palestras, foram discutidas questões referentes à saúde bucal, hábitos alimentares, ginástica laboral, ergonomia, entre outras. Esclarecendo o principal objetivo da Sipat, o professor Justino Sansón, da Divisão de Saúde do Trabalhador (DVST-UFRJ), trouxe como ponto central de sua fala os “Acidentes no Ambiente de Trabalho”. Ao longo de sua palestra, Justino destacou a importância de garantir que os trabalhadores estejam plenamente capacitados para desempenhar suas funções com segurança. Segundo o professor, a segurança é um fator que contribui para a excelência empresarial e as pessoas têm direito à informação sobre os riscos a que possam estar expostas no ambiente de trabalho.

Justino Sansón é Engenheiro de Segurança e ingressou na UFRJ em 1991.
 

Olhar Virtual: O que é a DVST ? Qual sua função?

Justino Sansón: Anteriormente conhecida como DAMS, a Divisão de Saúde do Trabalhador (DVST) é um setor atrelado à Pró-Reitoria-4 (PR-4). Ele é responsável pela parte de perícia médica dos servidores da UFRJ e de alunos alojados, licenças médicas, avaliação de ambientes do trabalho, promoção de saúde e de programas especiais, (como o apoio ao UFRJmar), assim como laudos de insalubridade, periculosidade e adicionais de irradiação ionizante (através de sua unidade interna Cotar-X). Além disso, cuida dos exames periódicos dos servidores da UFRJ. A DVST está cotada para desempenhar um importante papel na implantação do projeto Siass do Governo Federal.

A Divisão de Saúde do Trabalhador conta com profissionais médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, dentistas, assistentes sociais, psicólogos, técnicos de segurança do trabalho, um engenheiro de segurança do trabalho, fonoaudiólogos, assistentes administrativos, entre outros. Localiza-se próximo ao Pólo Náutico na Ilha do Fundão, mas possui servidores trabalhando em outros centros como Ipub e HUCFF, entre outros. 

Olhar Virtual: Qual o principal objetivo da Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho (Sipat)?

Justino Sansón: O principal objetivo é realizar um serviço de conscientização e de alerta para que as pessoas também participem do sistema. Não adianta nada o gestor desenvolver o melhor sistema de segurança, se não tiver a participação efetiva de todos os colaboradores e trabalhadores. O funcionário passa a estar esclarecido dos riscos aos quais está exposto e passa a observar coisas que anteriormente não via. Eu, por exemplo, quando me formei Engenheiro de Segurança e assisti à primeira Sipat, mudei hábitos. No cinema, por exemplo, comecei a observar as rotas de fuga, os chuveiros automáticos, passei a sentar na ponta para sair com maior facilidade, caso ocorresse algum acidente. Então, quando estamos mais esclarecidos, ficamos mais preparados para enfrentar adversidades ou evitar que elas aconteçam.

Olhar Virtual: O que esta edição da Sipat traz de inovação em relação à edição anterior?

Justino Sansón: O tema “Apaixone-se por você”. Não sendo egoísta, mas como alguém vai tratar bem dos outros se não trata bem de si mesmo? Se você não tem autoestima, se você não se apaixona por você? Os que têm família preocupam-se, principalmente, com os filhos. Mas se você não se preocupar consigo, quem irá assistir seus filhos? Então, cuidar da saúde, escovar os dentes, ir ao médico regularmente, parar de fumar, tentar emagrecer, praticar exercícios, observar o ambiente, ventilar os ambientes, iluminá-los; faz com que você aumente sua saúde e sua autoestima. Dessa forma, aumenta a saúde e, consequentemente, a qualidade de vida.

Olhar Virtual: Após a primeira edição da Sipat, vocês observaram alguma redução no número de acidentes e uma melhora no ambiente de trabalho?

Justino Sansón: Sim. Aqui no CT, dados dos últimos três anos apontam para a diminuição de cerca de 15 acidentes. Ano passado, na UFRJ, tivemos 78 acidentes de trabalho. Desses, 12 foram aqui no CT, no ano anterior tinham sido 16. Então, houve uma redução de quase 25% em dois anos! Isso pode demonstrar exatamente que a campanha de esclarecimento feita através da Sipat tem dado resultados.

Olhar Virtual: Qual motivo levou a UFRJ a criar a Sipat? Existia um número muito grande de acidentes na instituição?

Justino Sansón: Na verdade, a Sipat, é uma obrigação legal instituída na N.R-5 (Norma Regulamentadora nº 5 do Ministério do Trabalho), que é válida desde 1978. Como a UFRJ tem muitos funcionários terceirizados, a Copptec tem que realizar esse trabalho. Esse é o segundo ano que o CT, independentemente de ter terceirizados ou não, resolveu também adotar a ideia. É uma mudança de postura porque, teoricamente, funcionário público ainda não é obrigado a ter Sipat, mas é uma tendência natural que venha a ter. Até porque temos muitos casos de aposentadoria por invalidez, exatamente por doenças mentais e cardíacas, que podem estar vinculadas às condições de trabalho a que são expostos os trabalhadores estatutários da UFRJ.

Olhar Virtual: Em relação aos funcionários terceirizados que prestam serviços à UFRJ, existe alguma responsabilidade da Universidade caso aconteça algum acidente a eles? É realizada alguma política de prevenção destinada a esse trabalhador?

Justino Sansón: A UFRJ é co-responsável. A UFRJ é responsabilizada por qualquer acidente sofrido por um prestador de serviço à universidade ou outro tipo de ocorrido no campus. Por exemplo, a empresa de limpeza Nova Rio, que prestou serviço alguns anos aqui. Vamos imaginar se acontecesse algum acidente com um funcionário da empresa dentro do campus da universidade. Neste caso, a UFRJ também responde.

Em relação à política de prevenção, ela é rudimentar. Há planos para que no ano que vem já seja institucionalizada. Com isso, poderemos cobrar dos fornecedores de serviço todas as medidas relativas à segurança e à saúde do trabalhador prevista nos programas do governo.  Além disso, haverá treinamento e capacitação do funcionário. Por exemplo, um eletricista, para trabalhar na universidade, deverá ter o curso de formação básica, além de um curso chamado N.R-10 (de segurança).

Olhar Virtual: Em sua opinião, a UFRJ vem progredindo na questão de prevenção de acidentes? O que ainda precisa ser feito?

Justino Sansón: De 2005 pra cá tenho visto melhoras. Algumas lentas, algumas pontuais, mas, com certeza, melhoras. As pessoas estão se preocupando mais com a segurança e combate a incêndio, por exemplo. Há maior preparo relativo à ergonomia,  saúde e ginástica laboral. Esse é um trabalho de médio e longo prazo. Temos de mudar a cultura das pessoas; muita gente parte daquele princípio “sempre foi assim”, “nunca aconteceu nada”, mas não podemos pensar assim. Temos que mudar de posição, fazendo com que a alta administração, formada por professores e diretores, assuma responsabilidade da qual, às vezes, não estão cientes. Ou seja, temos que esclarecer as pessoas que possuem poder de decisão, as pessoas que vão fazer o trabalho e conscientizar, cada vez mais, para que seja feito o correto.