No Foco

Intercâmbio e a formação de um ambiente acadêmico multicultural

Daniel Barros

Ilustração: João Rezende
 

Ao andar pelos corredores do prédio do Departamento de Engenharia Elétrica, no bloco H do Centro de Tecnologia, o recém-concursado professor Oumar Diene frequentemente pensa nos mais de dez anos em que está no Brasil e conclui: “Eu realizei um sonho”. Diene é senegalês e veio para o Brasil em 1997 para cursar Engenharia Eletrotécnica na universidade onde hoje leciona.

Como a maioria dos estudantes estrangeiros que a UFRJ recebe todo semestre, Diene sente saudades de casa e pensa em voltar, apesar de se considerar adaptado ao Brasil. De acordo com a Coordenação de Relações Internacionais, da Escola Politécnica, neste semestre a unidade receberá 44 alunos estrangeiros, e muitos deles vêm de países desenvolvidos. O diretor da Politécnica, Ericksson Almendra, espera que a maioria volte para seus países e, quando ocuparem cargos de alto escalão, possam beneficiar no futuro nosso país comercial ou politicamente.

Neste semestre, Almendra informa que a Escola também enviará a outros países 92 alunos. A grande maioria retornará ao Brasil com a certeza de que a qualidade do ensino de Engenharia na UFRJ é tão avançada ou superior às universidades de países europeus ou dos EUA. Esses alunos também voltarão com uma vivência multicultural que Almendra considera fundamental para a formação de um bom engenheiro, que trabalhará em empresas de médio e grande porte, cuja atuação excede os limites territoriais. Hoje, 20% dos alunos formados em Engenharia pela Politécnica fizeram intercâmbio, em algum momento do curso.

Se determinado aluno não tem a oportunidade de fazer intercâmbio, o diretor espera que, ao menos, ele possa assistir a aulas em turmas que tenham pelo menos 10% de estudantes estrangeiros. Assim, as salas de aula se tornam multiculturais.

Parceria

Segundo Almendra, mais de 85% dos estudantes da Escola Politécnica que fazem intercâmbio têm os estudos custeados pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) ou por convênios da UFRJ com empresas estrangeiras, como a Peugeot-Citröen e a Michelin. Assim como os estrangeiros não pagam mensalidade no Brasil, porque a universidade é pública, os alunos daqui não pagam nas universidades conveniadas e geralmente se hospedam nos alojamentos.

A França é a maior parceira da UFRJ no envio e recebimento de estudantes, disponibilizando nove convênios Brafitec à UFRJ. “Avalio que a França tomou uma decisão de Estado de ocupar o espaço dos EUA depois do 11 de Setembro, se interessando mais em enviar e receber estudantes”, explica Almendra. Ele lembra ainda que há professores brasileiros e franceses trabalhando juntos para avançar no ensino da Matemática, uma das poucas áreas onde o aluno brasileiro sente diferença quando chega na França.

Os programas de intercâmbio podem durar de seis meses – período que Almendra considera muito curto, mas que é comum nos EUA – a dois anos. Para o diretor da Poli, um ano é o ideal. O intercâmbio de dois anos caracteriza formação com duplo diploma, no qual o aluno recebe o reconhecimento da UFRJ e da outra universidade onde estudou. A UFRJ só mantém esse convênio com universidades francesas até o momento. Os períodos podem ser prolongados para fazer estágio em indústria, que é em tempo integral. Para mais informações clique aqui.

Em busca do equilíbrio

Para que os bons números fossem alcançados, a atual gestão da diretoria da Escola Politécnica criou um setor administrativo responsável pelo intercâmbio: a Coordenação de Relações Internacionais. Mas, para Almendra, o objetivo principal é igualar o número de alunos estrangeiros que chegam e de brasileiros que vão para o exterior. Além disso, Almendra espera que, em dois ou três anos, ao menos 25% de seus alunos façam intercâmbio.

Outra questão fundamental para o diretor da Escola Politécnica é o Programa de Estudantes-Convênio de Graduação, a PEC-G do Ministério da Educação (MEC). Esse projeto oferece a cidadãos de países em desenvolvimento a oportunidade de fazer todo o curso de graduação numa universidade brasileira. Almendra explica que o programa tem problemas. Muitos alunos que chegam são de nível educacional muito baixo e não se adaptam à universidade. Ele sugere um convênio direto com a universidade que envia o aluno, para que haja troca de informações e melhor seleção.

No entanto, o PEC-G muitas vezes acerta. Principalmente quando se trata de determinados países, onde a seleção parece ser mais cuidadosa, como Burkina Faso e Senegal. Oumar Diene, aquele que se tornou professor da UFRJ, é um exemplo de acerto do PEC-G.