De Olho na Mídia

Sites de busca criam ferramentas que personalizam a informação

 

Luiza Ramos

Ilustração:Diego Novaes

Novas ferramentas de busca e personalização de notícias são as novidades trazidas pelos sites Google e Yahoo! aos  usuários. No mês passado, o Google renovou a programação visual do portal de notícias Google News, na versão norte-americana, ao disponibilizar uma ferramenta que permite ao internauta personalizar a página com seus tópicos preferidos. A versão brasileira do Google News, o Google Notícias, ainda não sofreu transformações. O site Yahoo! inaugurou, há duas semanas, o blog de notícias Upshot (news.yahoo.com/upshot), também na versão americana. O blog utiliza ferramentas de busca como guia de reportagens, exibindo ao usuário as notícias ligadas à sua pesquisa.
As buscas na internet têm apresentando crescimento intenso, com destaque para empresas adquiridas pelo grupo Yahoo!, como a Demand Media ― que criou um arquivo com mais de um milhão de reportagens ― e a Associated Content ― adquirida pelo valor de US$ 100 milhões. Dessa maneira, as empresas passam a oferecer maneiras de interagir com o produto, associando-o àquilo que mais interessa ao usuário. As buscas ligadas às notícias são uma forma de manter o internauta conectado ao produto “informação”. “Através de novos paradigmas qualificados de apuração, o que levaria anos para ser apurado, hoje é revelado em minutos”, afirma Cristina Rego Monteiro, professora da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, que está em fase de finalização de um artigo sobre o tema, em parceria com a professora Inês Maciel, doutora em Tecnologia pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da UFRJ.

No trabalho, as pesquisadoras abordam os processos tecnológicos digitais e a interface de arquitetura da informação intermediada pelas plataformas digitais. Para Cristina, o ponto positivo da associação é aproximar o texto jornalístico da realidade. A docente acredita que há também um lado oposto, já que, “por ser uma ferramenta, ela depende de como é utilizada, por quem e com qual finalidade”

“Fazer jornalístico”

De acordo com Cristina, as pesquisas dos usuários podem revelar o que está em alta no interesse público, tornando-se parâmetro para pauteiros, editores ou produtores. O fato de uma palavra ou expressão ter maior ocorrência nas buscas e mensagens de internautas pode causar uma “erupção de curiosidade”, segundo a professora. “Como em um exame de sangue, que identifica as substâncias que estão circulando na corrente sanguínea do examinado, o exame pode não refletir exatamente um diagnóstico adequado ou nem mesmo revelar algo importante que esteja acontecendo”, compara. E em alguns casos “o exame é o indicador reverso de uma situação”, ressalta. Para Cristina, há a necessidade de interpretação, análise e amplo cruzamento de observações, não apenas a detecção de determinadas palavras. “As palavras-chave dos sistemas de busca refletem espécies de senhas, que podem trazer ao usuário uma sensação de participação, inclusão ou conexão coletiva. Retratar isso também é jornalismo, mas sem a investigação, análise e contextualização, há pouco ganho qualitativo“, destaca.

A docente minimiza os recursos de pesquisa como instrumentos transformadores do “fazer jornalístico” e ressalta que a cobertura jornalística é o reflexo da forma como são utilizadas as informações de interesse social. “Creio que essa ferramenta muda pouco o jornalismo em relação à realidade atual, e que considerar uma ferramenta de TI, de busca, como o futuro do jornalismo é um exagero”, aponta. A professora também lembra que “como a maioria dos sites de informação de corporações jornalísticas reproduz o material de agências de notícias, o conteúdo  dos veículos impressos é, em grande parte, terceirizado.”

Cristina, doutora em Comunicação e Cultura e Coordenadora da Central de Produção Multimídia (COM) da ECO-UFRJ, observa que “o processo de produção das notícias apresenta outras possibilidades, que, quando bem utilizadas, podem auxiliar a identificação de interesses diversos”. Segundo a docente, para que o resultado seja positivo, é preciso entender que nada substitui o ser humano, intelectualmente bem formado, para atuar na interpretação, notar sutilezas, efetuar revisão e aproveitar oportunidades anteriormente desconhecidas. “É no ser humano e na sua capacidade de avaliar, perceber e comprometer-se eticamente que poderemos encontrar o melhor caminho para o jornalismo”, afirma.

De acordo com a professora, não se trata apenas das ferramentas, plataformas e equações econômicas, muito discutidas e popularizadas nos últimos tempos. “O jornalismo não é só a empresa que o abriga, nem a estação retransmissora de rádio ou TV que o reproduz eletronicamente, mas, sim, o reflexo direto da compreensão do homem”, define. “Podemos constatar, portanto, que temos um longo caminho pela frente”, conclui.