Entrelinhas

O que é simulação?

 

 

Márcia Guerra

 “Isto é Simulação: A Estratégia do Efeito de Real”, de autoria de Maria Inês Accioly, o livro tem como base a tese de doutorado defendida em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da UFRJ. Recentemente publicada pela editora E-papers, a obra discute as implicações éticas e estéticas da noção de simulação, que se reconfigura no contexto contemporâneo da popularização das tecnologias digitais.

A transformação acontece na medida em que nosso envolvimento com redes digitais e ambientes virtuais populariza a noção de simulação como experiência e deixa para trás o sentido de fingimento, que, há poucas décadas, utilizávamos primordialmente. Em sua obra, porém, a autora pretende superar esse antagonismo e mostrar que essa reconfiguração deriva de uma dificuldade nossa de lidar com ambiguidades e paradoxos; mas que, a despeito disso, o duplo sentido de simulação é irredutível.”

Olhar Virtual: Qual o objetivo da análise que você apresenta no livro?
Maria Inês Accioly: O objetivo imediato é reunir elementos para uma definição robusta e transdisciplinar do conceito de simulação, capaz de superar a antinomia experimento-fingimento e, dessa forma, refutar a ideia dominante — e ingênua, a meu ver — de que a simulação-experimento, enquanto ferramenta de aprendizado, seria algo essencialmente positivo e que nada teria em comum com a simulação-fingimento. Esse objetivo se desdobra em outro menos imediato: propor, como imperativo ético, uma atitude de permanente reflexão sobre qualquer tipo de simulação em que estejamos envolvidos, em vez da adesão ou rejeição a priori, que são as atitudes mais comuns.

Olhar Virtual: De que forma a cultura tecnológico-informacional atribui positividade à ideia de simulação, antes interpretada principalmente como fingimento?
Maria Inês Accioly: Simplesmente privilegiando a acepção tecnocientífica do termo, herdada da ciência de Galileu e que se aplica com perfeição às tecnologias computacionais. Antes da emergência da cibercultura, o sentido de fingimento era o mais popular. Agora é o contrário.

Olhar Virtual: Qual a relação entre a “sociedade de controle”, como definida por Deleuze, e a simulação?
Maria Inês Accioly: A expressão “sociedade de controle” foi empregada por Deleuze para designar uma transformação ocorrida na primeira metade do século XX, quando o controle começou a sobrepujar a disciplina como tipo de poder dominante nas relações sociais. Em contraste com a disciplina, o controle se exerce necessariamente sobre objetos ou sujeitos “em ação” e dispensa códigos rígidos de funcionamento. Nesse aspecto, a simulação é a estratégia cognitiva que lhe corresponde, porque também ela se baseia na interatividade e na flexibilidade de códigos.

Olhar Virtual: Como essa cultura da simulação vem afetando as subjetividades?
Maria Inês Accioly: De diversas maneiras, dependendo do grau de assimilação que se faz dessa cultura. Quem adere a ela de modo irrefletido tende a tornar-se insensível para as diferenças entre a simulação e outros tipos de experiência menos reversíveis, tornando-se, por exemplo, mais vulnerável a manipulações ou mais irresponsável perante seus próprios atos. Quem participa com senso crítico tende a melhorar sua aptidão para lidar com situações ambíguas e, por extensão, com a complexidade do mundo real. E quem repudia a cultura da simulação, pura e simplesmente, pode estar perdendo a oportunidade de aprender com os imensos desafios éticos que ela nos apresenta.

Páginas: 170
Formato: 14x21 cm
Preço: R$ 36,25