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Tecnologia pioneira na Cidade Universitária

Rodrigo Baptista

Imagem: Divulgação/Lasup

“O Maglev estará pronto até o final do ano, provavelmente em dezembro.” A previsão é de Richard Stephan, responsável pelo protótipo do trem de levitação magnética – denominado Maglev-Cobra - em desenvolvimento no Laboratório de Aplicação de Supercondutores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasup/UFRJ) da Escola Politécnica e do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe). A entrada da UFRJ na parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) que viabilizará o protótipo do veículo foi aprovada na sessão do Conselho Universitário (Consuni) do último dia 25. Além de investimentos da ordem de 5 milhões de reais do BNDES, a produção do primeiro trem em escala real com tecnologia de ímãs permanentes e supercondutores receberá 4,7 milhões de reais da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

O trajeto para testes será construído na altura do Bloco H do Centro de Tecnologia (CT) e terá inicialmente 223 metros, mas a intenção é expandir a linha para toda a Cidade Universitária, proposta contemplada no Plano Diretor UFRJ 2020. Para Richard Stephan, a universidade é o local ideal para empregar novas tecnologias. “A Cidade Universitária deve ser o modelo de cidade do futuro. Ela tem a obrigação de apresentar soluções para os problemas dos centros urbanos”, comenta o coordenador do Lasup/UFRJ.

Posteriormente, o Maglev-Cobra poderá se configurar  alternativa ao modelo “rodoviarista” existente no Rio de Janeiro e realizar a ligação entre o Aeroporto Internacional Galeão-Tom Jobim, na Ilha do Governador, e o Aeroporto Santos Dumont, no Centro, que faz parte dos cadernos de encargos, tanto da Copa do Mundo de 2014, quanto das Olimpíadas de 2016. “Primeiramente, temos que terminar o protótipo e testá-lo, mas sem dúvida o Maglev seria uma opção possível para ligar os aeroportos”, afirma. No entanto, o pesquisador é cauteloso quanto ao custo da empreitada: “isso depende, é claro, dos recursos disponíveis”, pondera.

Transporte ecologicamente responsável

Batizado Maglev-Cobra por ser totalmente articulado, inserir-se em curvas de 30 metros de raio e ser capaz de vencer declividades de 15%(ou seja, sobe mais e faz curvas mais fechadas do que o metrô),o trem de levitação magnética apresenta como característica marcante a responsabilidade ambiental. O transporte movido à energia elétrica, não produz ruído e utiliza como combustível o nitrogênio, elemento que compõe 78% da atmosfera. “Ele é todo elétrico; não há poluição sonora e emprega nitrogênio para resfriar o supercondutor e levitar”, explica. “Esse elemento existe na atmosfera, ou seja, ele é devolvido para o meio-ambiente sem prejuízo algum”, completa Stephan.

O transporte conta também com a possibilidade de ampliar sua capacidade devido à estrutura modular. O protótipo terá espaço para 25 pessoas, mas a adição de anéis permite o aumento do número de passageiros, conforme a necessidade apresentada pelo horário. Estima-se que o Maglev possa conduzir mais de 250 pessoas por viagem. “Como é um transporte composto por módulos, podemos, em um momento de maior fluxo, expandi-lo. Nos demais horários reduziríamos a capacidade”, esclarece.

Outra vantagem é o custo de implantação. O veículo tem o peso total distribuído ao longo dos blocos supercondutores, enquanto os transportes rodoviários e ferroviários transmitem o peso total ao solo por meio de eixos. O professor explica que, por ser leve, não necessita de grandes investimentos de infraestrutura. “Ele custa 1/3 do metrô, pois não precisamos abrir buracos. Além disso, não há alterações significativas na paisagem urbana”, argumenta.

Tecnologia pioneira

A tecnologia do trem é baseada na formação de um campo magnético de repulsão entre os trilhos e os módulos de levitação. Para criá-lo, os cientistas resfriam os supercondutores de elevada temperatura crítica a 196 graus Celsius negativos com nitrogênio líquido. A levitação magnética supercondutora é mais vantajosa que o método eletromagnético e eletrodinâmico utilizado em outros países e coloca o Brasil na vanguarda tecnológica.  Isso porque o projeto brasileiro tem como objetivo tornar o Maglev-Cobra uma opção de transporte urbano para curtas distâncias e baixas velocidades. “Existem pesquisas similares em outros países como Alemanha e China, onde há testes com passageiros, mas o piloto do Maglev-Cobra será o primeiro produzido em escala real”, compara. “Nesses países, os trens de levitação magnética são voltados principalmente para o transporte em alta velocidade e de longas distâncias, aplicação diferente da nossa proposta”, finaliza.

Conheça mais detalhes do projeto na página do Lasup/UFRJ.

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