No Foco

89 anos: uma história a enaltecer, um legado a superar

Bruno Franco


Os 89 anos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foram celebrados no dia 8 de setembro - dia seguinte ao seu aniversário, que coincide com a Independência nacional -, com a realização de uma sessão solene do Conselho Universitário (Consuni), no salão Nobre da Reitoria, precedida pela apresentação do Grupo de Metais da Orquestra Sinfônica da Escola de Música da universidade. O reitor Aloísio Teixeira destacou que, pela primeira vez, um amplo processo de reformas é iniciado na UFRJ de maneira democrática (posto que os dois outros momentos reformistas ocorreram durante o Estado Novo e o regime militar), o que se constata com o grande número de debates, reuniões e oficinas temáticas realizados acerca do Plano Diretor UFRJ 2020.

A gestão de Aloísio Teixeira à frente da Reitoria da UFRJ coincide com o governo Lula. Foi um período no qual o orçamento de custeio da universidade saltou de 47 milhões de reais para 160 milhões, e a verba para investimentos, antes inexistente, alcançou 30 milhões de reais nos últimos dois anos

Para o reitor, esses recursos não caíram do céu. “São fruto das lutas de docentes, servidores técnico-administrativos e estudantes, e só a mobilização permitirá a preservação dessas conquistas”, apregoa. No entendimento do professor Aloísio, a defesa da melhoria da Educação não pode ser apenas uma diretriz de governo, mas deve ser apropriada como política de Estado. “Só assim transformaremos esse sistema de ensino superior elitista em um de massas e democrático”, analisa.

Após a sessão solene do Consuni, foram inauguradas duas exposições itinerantes: Olhares UFRJ, que leva um olhar diferenciado e humanístico às diversas atividades da universidade, mesmo às mais cotidianas, e Painéis do Plano Diretor, mostrando muitas das numerosas propostas e diretrizes do Plano.

Um pouco da história

Uma das maiores, mais importantes e mais produtivas universidades brasileiras, a UFRJ foi criada no dia 7 de setembro de 1920, com o nome de Universidade do Rio de Janeiro, reunindo as faculdades nacionais de Direito, Engenharia e Medicina, fundadas a partir de 1808, com a chegada da Corte portuguesa ao Rio. A universidade então tinha o propósito de educar jovens egressos das elites portuguesas, bem como das elites brasileiras, impedidas temporariamente de obter formação superior na Universidade de Coimbra, tradicional centro formador da elite colonial.

Esse quadro não mudou com a formação da Universidade do Rio de Janeiro, que manteve o padrão elitista e profissionalizante de ensino, características estas que moldaram a formação não apenas da recém-criada universidade, como do sistema universitário brasileiro que a tomaria por modelo.

Em 1937, passando a se chamar Universidade do Brasil, ressalta-se o seu caráter de modelo a ser seguido pelas demais instituições de ensino superior. Todos os cursos do país teriam de nela se referenciar. Consequentemente, a estrutura da Universidade do Brasil teria de se adequar à grandiosidade do projeto.

Houve diferentes propostas para a localização do campus, incluindo a Quinta da Boa Vista e mesmo a Lagoa Rodrigo de Freitas. Em 1945, foi escolhido como local para a Universidade do Brasil o arquipélago próximo à Ilha do Governador, formado pelas ilhas do Fundão, do Baiacu, das Cabras, do Catalão, do Pindaí do França, do Bom Jesus, do Pinheiro e do Sapucaia, que foram unidas com aterramento e regularização topográfica. Em 1965, foi novamente rebatizada: Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a estrutura que é mantida até hoje.

A UFRJ possui um amplo conjunto de terrenos e edificações espelhados pela cidade do Rio de Janeiro e mesmo fora dela, o que contribui para a noção de fragmentação da universidade e dificulta o diálogo entre as partes que compõem o todo da instituição. As mais importantes são os campi da Cidade Universitária (na ilha do Fundão) e da Praia Vermelha, mas o conjunto inclui ainda o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), no Largo de São Francisco; a Faculdade de Direito, na rua Moncorvo Filho; o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista; a Escola de Música, na rua do Passeio; o Observatório do Valongo, na Ladeira Pedro Antonio, também no centro da cidade; a Escola de Enfermagem Anna Nery, na rua Afonso Cavalcante; e a Maternidade-Escola, em Laranjeiras.

A UFRJ possui ainda o Núcleo de Pesquisas Ecológicas de Macaé (Nupem), criado em parceria com a prefeitura da cidade, a Reserva Biológica de Santa Teresa, no estado do Espírito Santo, além de ter iniciado atividades no Polo de Xerém, no município de Duque de Caxias, com o curso de Biofísica, em parceria com a prefeitura caxiense e o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). Em Xerém, serão ainda oferecidos cursos de Metrologia, Ciências Forenses e Nanotecnologia.

São cerca de 140 cursos de graduação e mais de 90 de pós-graduação stricto sensu, 43 bibliotecas, mais de uma centena de laboratórios e grande variedade de atividades de extensão (que compõem, com a pesquisa e o ensino, o tripé fundamental da atividade acadêmica), incluindo capacitação de professores de ensino fundamental e médio, além de cursos de pré-vestibular para estudantes de baixa renda.

Horizontes

Orgulhosa de sua história, mas consciente das necessidades de se libertar de armadilhas herdadas de sua constituição original, como a fragmentação, a UFRJ, por meio do seu Plano Diretor 2020, está concluindo um amplo e fecundo processo de discussão acerca de diretrizes e propostas que permitam a integração das diversas unidades, fortaleçam a interdisciplinaridade das atividades e integrem a universidade à sociedade, sobretudo às comunidades do seu entorno. Em suma, para que a Cidade Universitária se transforme em uma Cidade Acessível, Saudável e Esportiva, do Conhecimento, da Inovação, da Responsabilidade Ambiental; enfim, uma Cidade Cidadã.