De Olho na Mídia

Guerra pela audiência

Rachel Dimetre


No último dia 12 de agosto, a partir de uma denúncia do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), a Rede Globo de Televisão apresentou em seu principal noticiário uma reportagem de quase dez minutos sobre uma suposta lavagem de dinheiro realizada pelo fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, e outras nove pessoas. Durante a transmissão, os repórteres do Jornal Nacional mostraram como doações de fiés teriam sido desviadas para a compra de bens e empresas de comunicação, dentre elas a TV Record, quando na verdade deveriam ter sido empregadas em obras sociais.

Aproveitando a deixa, a Record contra-atacou trazendo à tona notícias que, até então, eram do conhecimento de poucos ou não passavam de suposições. A emissora acusou a rival de monopólio e tornou pública mais uma vez a suposta irregularidade na concessão de Roberto Marinho. Também foi lembrada a polêmica edição do debate presidencial de 1992 e uma possível influência no resultado das eleições daquele ano. Desde então, as duas emissoras vêm travando uma guerra, colocando o telespectador no meio do fogo cruzado.

Segundo o professor da UFRJ Eduardo Refkalefsky, doutor em Comunicação e Cultura com a tese "Comunicação e Posicionamento da Igreja Universal do Reino de Deus: um estudo do Marketing Religioso", as acusações saíram do noticiário policial e viraram uma batalha pela audiência, ou seja, pelo poder. "A Record vem crescendo muito de uns anos pra cá e tem tido um público grande em horários nobres, como no domingo à noite, por exemplo", afirma. 

Refkalefsky observa que "a Globo nunca tinha dado um espaço grande para os evangélicos, ao contrário do que fazia com outras religiões". O professor destaca a cobertura da vinda do Papa ao Brasil e a abordagem de temas do espiritismo em telenovelas. "Mas eles perceberam que é um público que cresce cada vez mais e agora, já há algum tempo, vem abrindo mais espaço." Do outro lado, a Record tenta se desvencilhar da associação imediata com a Igreja Universal, que pode afastar os anunciantes. "Eles patrocinam uma peça teatral com conteúdo espírita e veiculam comerciais do Mercadão de Madureira, conhecido pela venda de artigos religiosos." 

Entretanto, os cidadãos podem, sim, ser beneficiados com a disputa: "Se houver denúncias de ambos os lados e elas forem fundamentadas", explica o docente. "É preferível que haja essa briga a uma paz com omissão de informações, caso as informações sejam verdadeiras, claro." Afinal, para o telespectador é sempre bom que haja notícia. "Ao menos que ela seja falsa ou que as denúncias acabem em pizza", conclui.

 

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