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Trabalho sobre juventude é premiado na JIC 2008

Monike Mar – AgN/Praia Vermelha

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O Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da UFRJ inscreveu 900 trabalhos para a 30ª Jornada Giulio Massarani de Iniciação Científica, Artística e Cultural (JIC 2008). Desse total, alguns trabalhos foram escolhidos para apresentações em mais duas fases gerais, das quais foram selecionados os premiados por Centro, assim como aqueles que receberam menções honrosas. Os vencedores ganharam o prêmio de R$1.000, junto com certificado. No CFCH, o trabalho vencedor foi “Juventude Institucionalizada e Violência do Abandono”, dos alunos Richarlls Martins, Camila Fineto e Maira Alves, orientados pela professora Ligia Costa Leite.

O trabalho desenvolvido no contexto do Projeto de Extensão Juventude, Desafiliação e Violência — também título do livro que tem como uma das organizadoras Lígia Costa Leite — teve como método de pesquisa entrevistas com 30 jovens entre 12 e 17 anos de quatro abrigos e uma organização não-governamental do Rio de Janeiro, que, por segurança, não podem ser identificados. Escutar os jovens foi o diferencial do projeto, pois, segundo a professora Ligia, geralmente faz-se o contrário, priorizando ouvir pessoas que fazem parte das instituições.

Durante a coleta de informações, respeitou-se a linguagem dos jovens como mais uma informação a ser acrescentada para a pesquisa. “Todo mundo faz pesquisa ouvindo os adultos. Mas os jovens é que devem ser escutados, porque eles que escolhem os rumos de suas vidas”, diz Ligia Costa Leite, que está terminando uma pesquisa sobre história oral, o que, como ela afirma, “faz valer a narrativa dos jovens, porque no momento de análise das entrevistas é necessário um suporte”.

No trabalho, esse distanciamento das partes que são comumente ouvidas foi pontuado como um dos objetivos, cujo ponto de partida foi a hipótese da rotatividade dos jovens por abrigos que o tornam “institucionalizado”, ou seja, devido ao sistema dos abrigos, menores tornam-se dependentes das instituições até à maioridade. O projeto com base no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) investigou também as relações que esses jovens constroem fora do ambiente familiar.

Os resultados da pesquisa mostraram que não há diferença quantitativa díspar entre meninos e meninas abrigados. Dos trinta entrevistados, somente dez ainda não haviam passado pela rua. Soma-se 45% de jovens que foram para as ruas por problemas familiares e violência física em casa. Foi constatada, portanto, a “institucionalização” dos jovens; alguns chegaram a passar por até oito abrigos. Mesmo fora de casa, a relação com a família é mantida, pois se registrou que 63% ainda mantêm contato com familiares e 64% apresentaram desejo de retornar aos seus lares.

A importância do trabalho

“Juventude Institucionalizada e Violência do Abandono” é resultante de pesquisas realizadas desde 2007, dentro do projeto de Extensão Juventude, Desafiliação e Violência. Camila, Richarlls e Maira são estudantes de Psicologia e o projeto conta agora com mais um aluno, Leonardo Velasco. Ele participa da continuidade do trabalho e mesmo tendo entrado depois da apresentação na Jornada avalia:

— Eu queria trabalhar com a área da reabilitação psicossocial e foi muito interessante porque a psicologia não tinha um trabalho voltado para essa área, não tinha uma representação forte na Jornada e quando teve, justamente, foi a vencedora.

Em relação ao prêmio, o título de “melhor trabalho do CFCH” é visto por todos como um ganho pelo reconhecimento ao tema e à dedicação à pesquisa. Richarlls e Camila enfatizam a importância na formação profissional em Psicologia:

— Estar em um projeto em que você pode escutar jovens que estão em condições desse tipo é muito importante porque muda muito a nossa visão enquanto profissionais em formação — diz Camila.

Ligia Costa Leite valoriza seu trabalho de orientação aos alunos como ponto-chave para o êxito da pesquisa. Ela enfatiza o trabalho conjunto entre professor e alunos, desde a elaboração dos questionários para as entrevistas até as discussões dos resultados e das conclusões. Já Richarlls valoriza outro ponto, relacionado à importância da Extensão universitária:

— Eu acho que esse prêmio tem uma dimensão muito importante para a gente. Ganhar o prêmio é, de alguma maneira, articular essa prática da Extensão na iniciação científica, num trabalho em que há todo um rigor científico e metodológico. O prêmio é resultado do trabalho de muita gente que entende que a função do universitário é sair dos muros fechados da universidade”.

Professora discute saúde mental e medidas governamentais

— É muito importante ressaltar também o fato de estarmos dentro do Instituto de Psiquiatria, porque esses meninos não são doentes mentais. Mas é uma forma de abrir o instituto para outro tipo de cliente que precisa de suporte e que não está conseguindo obtê-lo. O que é oferecido para os jovens na área da saúde mental? Geralmente um atendimento clínico, psicoterapêutico — pontua Ligia.

Foi observado também, em tom de denúncia, que o sistema de abrigamento verificado na pesquisa é restrito a regras punitivas diante da ausência de assistência social e psicológica aos abrigados. A saúde mental dos jovens, portanto, é agredida, sendo este um dos pontos a serem invertidos pelo projeto que continua a trabalhar essa questão da saúde dentro das instituições, na articulação dos jovens com os profissionais dos abrigos, como educadores, técnicos e com aqueles que trabalham diretamente com os familiares.

— Nosso governador lançou um decreto autorizando o uso de armas não letais em internatos. Ele usa o estatuto como justificativa de que é para proteção dos jovens, mas não. Na verdade, é para proteger os agentes de segurança contra os jovens. O Estatuto é sempre usado de forma desvirtuada — declara Ligia.

A professora conta que, no livro Juventude, Desafiliação e Violência, também parte da pesquisa, há um artigo de Ciro Darlan no qual ele diz que por mês cada adolescente representa para os cofres públicos R$4.400. “O que significa isso? Se esse valor fosse dado para a família ou para o próprio jovem ele jamais seria delinqüente. Então essa questão das medidas sócio-educativas e esse decreto do governador mostram que não há preocupação em educar pobres, negros e jovens com problemas familiares”, finaliza a orientadora.

Os vencedores dos outros centros

O trabalho vencedor do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) é de Marina Dias de Faria intitulado “Batalha por Talentos: a responsabilidade social das empresas é um fator importante?”, sob orientação de Daniela Abrantes e José Luis Felício dos Santos. Ainda dentro do campus da Praia Vermelha, do Fórum de Ciência e Cultura, saiu o trabalho premiado de Mariah dos Santos Martins, de título “Alípio de Miranda Ribeiro e Marechal Rondon: a relação entre o cientificismo e o positivismo no Brasil”, orientado pela Professora Maria José Veloso.

Já na ilha da Cidade Universitária, o trabalho “Precessão de Órbitas no Problema de Kepler Perturbado”, de Wilton Kort Kamp, orientado por Carlos Farina, foi o primeiro colocado do Centro de Ciências da Matemática e da Natureza (CCMN). Na mesma colocação, mas no Centro de Letras e Artes, ficou o trabalho de Michele Calil “Conhecimento Lingüístico de Tempo e Aspecto em Indivíduos Afásicos de Broca”, orientado pelas Professoras Adriana Leitão e Fernanda de Carvalho Rodrigues e do Professor Celso Vieira. No Centro de Ciências da Saúde (CCS), venceu “Análise de Polimorfismos Protéicos entre os Vírus Cantagalo e Vaccinia Cepa Ioc”, de Priscila Afonso, orientada pelos professores Clarissa Damaso, Letícia Lery, Paulo Mascarello e Wanda Von Kruger. E por fim, no Centro de Tecnologia (CT), venceu o trabalho orientado pelo Professor Theodoro Antoun Netto, da estudante Ana Carolina Caldas Aguiar, “Análise Estrutural de Tubos Expansíveis para Poços de Petróleo”.