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Das ruas do mundo para a ECO

Sofia Moutinho – AgN/Praia Vermelha

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A imagem do grafiteiro como um rebelde social está se apagando. Hoje o grafiteiro é artista e o grafite está invadindo o campo da publicidade. Cada vez mais, a estética do grafite está em propagandas na mídia, em galerias e agências que convidam estes artistas para fazer exposições e intervenções urbanas que divulguem uma marca. Atenta a esta tendência de incorporação do grafite pela publicidade, Fernanda Gomes, DJ nas horas vagas e professora da disciplina Criação em Mídias Alternativas do curso de Publicidade da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, convidou três grafiteiros do grupo Brothers in Arms para fazer uma intervenção na parede externa do Centro de Produção Multimídia (CPM).

O Brothers in Arms é um grupo de famosos grafiteiros internacionais reunidos pela Thunderdog Studios de Nova York, uma agência criativa, fundada pelo grafiteiro americano Tristan Eaton, que trabalha na produção de identidades visuais, design para marcas, consultoria em marketing criativo, design e produção de brinquedos estilizados de edição limitada, chamados Toyarts, além de livros, aparelhos e acessórios que primam pela estética urbana do grafite. Seus integrantes são o próprio Eaton, o coletivo de artistas franceses, 123KLAN, o iraniano radicado na Califórnia, David Flores, o inglês Kid Acne e o paulista, Calma.

— Agora o grafite vem sendo utilizado pelas grandes marcas. Esses grafiteiros já fizeram trabalhos para Nike e Adidas. As grandes marcas contemporâneas também estão se apropriando do grafite, da sua estética e linguagem contemporânea. O grafite está saindo do espaço urbano e indo para o espaço artístico e publicitário, está bem mais dentro de uma estética contemporânea — disse Fernanda Gomes.

A professora é nova na ECO e para ela a intervenção de Calma, Kid Acne e Tristan Eaton foi um espécie de marco inaugural das aulas de sua recém-criada disciplina. “Já havia uma demanda, aqui na escola, por disciplinas que dessem conta da comunicação contemporânea. Dentro do quadro de disciplinas, tinha redação, mídia imprensa, mídia sonora, produção gráfica. Coisas ainda muito relacionadas à mídia tradicional, sendo que a gente já vê um cenário hoje de mídias alternativas que estão mais dentro das dinâmicas urbanas e que fogem mais dos espaços tradicionais já saturados”, disse Fernanda que pretende contribuir para dar uma identidade mais “antenada” à ECO.

— Foi uma coisa de oportunidade, eu sabia que eles vinham, mas não sabia ao certo as datas nem seu cronograma no Brasil. Acabou que foi tudo muito no susto, já tinha até passado o dia da minha primeira aula, mas depois a gente discutiu em aula a partir do trabalho deles — contou a professora sobre a vinda do grupo de artistas para a universidade no final de agosto.

A professora destaca, ainda, que a intervenção mudou a paisagem da ECO, trazendo-lhe com isso uma nova identidade. "Você vê que o espaço da ECO já está refletindo essas novas dinâmicas da universidade e da escola, de estar mais dentro de novas tendências", afirma.

A incorporação do grafite pela publicidade vem sendo atacada por alguns críticos que defendem que o grafite estaria perdendo seu caráter contestador. Porém, segundo a professora, o grafite não é essencialmente uma manifestação de revolta como é a pichação. “A pichação está muito ligada ao reforço de uma identidade marginal, invadido os espaços. É uma coisa mais invasiva, contraventora. Já o grafite busca uma maior harmonia com o cenário urbano, ele busca se inserir neste cenário de uma forma artística, estética.”

Fernanda vê a aproximação dos grafiteiros com a publicidade como algo positivo e acredita que as estratégias publicitárias devem estar sempre se apropriando das novas tendências e saindo dos espaços tradicionais para chamar atenção para uma marca. Porém, concorda que o uso massivo do grafite na mídia pode desgastar a sua linguagem. “Tem que ver se o grafite não vai entrar nesta massa indiscriminada da publicidade que você não consegue dar muita forma, um mar de coisas, no qual nada chama atenção, uma massa visual.”