Olho no Olho

Ambientes fechados: é proibido fumar


Cinthia Pascueto e Fernanda Fernandes - Agn/PV

imagem olho no olhoUm decreto municipal publicado no Diário Oficial no dia 13 de maio e que entrou em vigor no final do mês, vem causando polêmica no Rio de Janeiro. O decreto do prefeito César Maia proíbe o fumo em recintos fechados, sejam eles públicos ou privados, também restringindo o fumo nas praças de alimentação, saguões, escadas, rampas, antecâmaras e corredores, onde avisos indicando a proibição devem ser afixados. O que muita gente não sabe é que essa proibição é válida inclusive para recintos com janelas, mesmo que abertas.

Segundo a prefeitura do Rio, a medida foi tomada para garantir a qualidade do ar nos ambientes coletivos, protegendo a saúde dos cidadãos. Por outro lado, a indústria do tabaco defende que uma maior restrição ocasionaria a diminuição da freqüência nos estabelecimentos, apesar de resultados de pesquisas mostrarem que restaurantes, bares e casas noturnas não devem ter lucro reduzido por ausência de público.

Entre decretos e pedidos de liminares contra a nova lei, o que se percebe é uma grande divergência de opiniões acerca do decreto, dos conseqüentes hábitos do fumante e possíveis mudanças no comportamento dos mesmos.

Até fumantes aprovam lei

O estudo solicitado pela Aliança de Controle do Tabagismo (ACT) ao Instituto Datafolha analisou dados coletados em 120 municípios de todas as regiões do Brasil. Dos resultados obtidos com os 1.992 entrevistados, constatou-se que 88% das pessoas se consideram contrárias ao fumo em locais fechados. Desse total, 77% eram não-fumantes e 23% fumantes.

No meio da polêmica, em que não-fumantes comemoram a decisão municipal, acreditando estarem livres das inconvenientes “baforadas” ao menos nos locais fechados, há fumantes que também aprovam a medida e acreditam em sua eficácia.

Certamente não haveria polêmica com unanimidade. Cerceamento de liberdades individuais, prejuízos de mercado, inadequação de políticas relacionadas ao fumo são alguns dos contra-argumentos ao decreto.

Para comentar essas questões, o Olhar Virtual reportou a opinião de funcionários da UFRJ, numa perspectiva diferente do que o Olho no Olho costuma abordar, conversando com Jorge Fiel, do prédio do CFCH, e Antônio Marcos N. da Silva, do Forum de Ciência e Cultura.

Jorge Fiel
Técnico administrativo do CFCH

”Como em qualquer outro lugar sou contra o tabagismo no ambiente do trabalho, como também, sou a favor de uma política efetiva, séria e de resultado que atenda as necessidades da população.”

Em todas estas ações de combate e controle do fumo, não vislumbramos a mais coerente, que seria uma campanha desvinculada de marketing político, que atenda verdadeiramente a necessidade dos dependentes químicos. Não vejo uma publicidade que divulgue, por exemplo, o direito de se ter acesso ao tratamento gratuito em toda rede pública de saúde.

Obviamente que gostaríamos de parar de fumar e de ter acesso a uma melhor qualidade de vida. Gostaríamos de atender aos apelos das pessoas que tanto gostamos, mas, é extremamente difícil. Isso só ocorrerá quando as autoridades perceberem que o fumo é diretamente ligado ao consumo da bebida, é ligado à ansiedade, à decepção, ao desgosto, à frustração.

O vício do tabagismo, “como de qualquer dependência química”, não deve ser tratado com leis, autoritarismos e repressão e sim com ações sérias, desvinculadas de interesses.

O tratamento deve ser dirigido não só para os jovens, mas também, para seus pais e avós que muitas das vezes ficam responsáveis pelos filhos e netos daqueles que buscam o sustento de toda a família. Há de se considerar que estes responsáveis, em muitos casos, dado ao baixo salário e impossibilidades de uma vida independente, são pessoas extremamente amarguradas devido ao que lhe são impostas como contrapartida familiar”.

Antônio Marcos N. da Silva
Telefonista do Fórum de Ciência e Cultura

“Não gosto de fumar em lugar fechado, porque tanto faz mal pra mim quanto para os que não fumam. Quando eu fumo, fumo num lugar aberto ou que tenha uma janela, que entre um vento e leve a fumaça.

De vez em quando eu fumo ali num canto, mas é muito difícil. Quando tem muitas ligações, eu fumo sentado ali, mas rapidinho, e mais nada.

Eu sou a favor da Lei, porque tem muita gente que não fuma e não se sente bem com a fumaça. A pessoa que fuma, devia ter bom senso na hora de escolher o local pra fumar.

Acontece que você se acostuma com o lugar fechado, sabendo que não pode fumar ali, porque é proibido. Aí você arruma um tempo, na hora do almoço ou do lanche, para sair do seu setor e ir para um lugar aberto, para poder fumar.

Com certeza absoluta essa lei pode fazer com que as pessoas fumem menos.