De Olho na Mídia

Mídia acima da média no combate à dengue

Vanessa Sol

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O início deste ano começou alarmante para a população do estado do Rio de Janeiro. Era a epidemia de dengue que se alastrava. Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde, foram notificados mais de 155 mil casos e o número de mortos chegou a 110. O município mais atingido foi o do Rio de Janeiro com mais 80 mil e 66 vítimas fatais da doença.

Para tentar conscientizar e mobilizar a população no combate à dengue, jornais, programas de TV, revistas e noticiários de todo o país veiculavam diariamente matérias sobre a epidemia, além de notícias que divulgavam como detectar e eliminar os focos do mosquito.

Segundo o especialista no assunto, professor Edimilson Migowski, do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira da UFRJ, a avaliação da mídia nessa epidemia foi positiva, apesar do sensacionalismo. Para o professor, a mídia divulga, populariza e democratiza a informação, fazendo as pessoas criarem consciência, educando-as, mesmo esse sendo um dever do Estado. “Por intermédio da mídia divulga-se muito mais o conhecimento, o que ajuda a modificar o comportamento da população”, ressalta.

Durante dois meses, Migowski falou diariamente, pela manhã, a uma rádio popular. Ele orientou a população sobre os cuidados, os sintomas e a prevenção da doença. Segundo o professor, a mídia é o quarto poder, tendo, portanto, a força necessária para fazer as autoridades governamentais se posicionarem diante do caso.

Migowski ressalta, ainda, o espaço dado à universidade nos noticiários foi de extrema relevância, fundamental nessa epidemia de dengue por uma série de aspectos. Entre eles estão a divulgação da necessidade de hidratação nas filas e o combate à larva e não só ao mosquito. “Fomos nós aqui da universidade que divulgamos estas informações à mídia. Depois que falamos, as ações começaram a ser realizadas”, enfatiza.

Além disso, o desenvolvimento do programa Universidade em Alerta, de acordo com Migowski, surgiu a partir do que mídia externa vinha veiculando e da sua necessidade de informação. “Com isso a universidade ocupou o lugar dela na sociedade”, destaca.

Entretanto, o sensacionalismo fez parte dos noticiários. Mas, para o professor, no caso da dengue, em particular, foi bom. “Pode parecer que sou cruel, mas não sou. Não sou a favor de sensacionalismo nos casos em que não há como gerenciar, por exemplo, o buraco na camada de ozônio. Em se tratando de dengue, se eu alerto e mobilizo, cada um faz a sua parte, ou por medo ou por consciência. Com isso, o panorama de incidência da doença muda. Nesse caso, acho que foi um sensacionalismo do bem”, explica.

Além da ajuda dos meios de comunicação, Migowski destaca alguns fatores importantes para a efetiva diminuição e o controle no número de casos de dengue: mobilização da população, esgotamento de suscetíveis (o vírus tipo 2 já circulou, 10 anos atrás, e as pessoas uma vez contaminadas não o adquirem novamente) e também a diminuição da chuvas.

De acordo com o especialista, se a mídia pudesse fazer um esquema de manutenção ao combate, sem a intensidade anterior, seria produtivo. “É importante não achar que a diminuição de casos significa o fim da doença, principalmente, porque os ovos podem eclodir no próximo contato com a água”, afirma. Para ele, é necessária uma campanha publicitária com seqüência, freqüência e uma estratégia de controle do mosquito.

Migowski acredita que a mídia ficou muito especializada no assunto por conta da epidemia, além de ter ficado mais desconfiada do poder público. “A mídia se saiu muito bem seja na cobertura impressa, radiofônica ou televisiva. Espero que esse trabalho não esmoreça porque precisamos ficar de olho na dengue”, ressalta.