Olho no Olho

Pardal Eletrônico na UFRJ: Sim ou Não?

Priscila Sequeira

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Desde 1998, quando a Divisão de Segurança da Prefeitura Universitária começou a registrar as ocorrências de acidentes de trânsito no campus do Fundão, pôde-se observar um crescimento progressivo do número de acidentes e de vítimas. De acordo com o Relatório Preliminar da Comissão para Levantamento e Identificação dos Trechos Críticos das Vias do Campus da Cidade Universitária, uma das razões para o favorecimento do excesso de velocidade dos veículos é a estrutura física das avenidas, que são, basicamente, retas largas e longas.

Entre os trechos mais perigosos para os pedestres dentro da Cidade Universitária, estão a avenida Pedro Calmon, em frente ao Prédio da Reitoria; a avenida Horacio Macedo, entre a Faculdade de Letras e o Centro de Tecnologia (CT); em frente ao CENPES; a avenida Athos da Silveira Ramos e a avenida Carlos Chagas Filho, entre o prédio Centro de Ciências da Saúde (CCS) e a Escola de Educação Física e Desportos (EEFD).

A importância da discussão sobre a segurança no trânsito do Fundão foi reacendida após o atropelamento do estudante Ícaro Bernardes de Magalhães Borges, em frente à Faculdade de Letras, na manhã do dia 12 de abril, por um ônibus, que resultou em sua prematura morte.

Visando controlar os abusos cometidos e minimizar os riscos, medidas já vêm sendo pensadas, entre elas a instalação de pardais eletrônicos. O Olhar Virtual entrevistou Hélio de Mattos, prefeito da Cidade Universitária, e Paulo Cezar Ribeiro, professor do Programa de Engenharia de Transportes (PET), da COPPE/ UFRJ, a fim de saber mais sobre o assunto e seus respectivos pontos de vista.

Hélio de Mattos
Prefeito da Cidade Universitária

A Ilha da Cidade Universitária possui hoje, aproximadamente, 65.000 pessoas e 25.000 veículos circulando, diariamente, pelas nossas ruas e avenidas. Com o crescimento de 30% ao ano da circulação de veículos em nosso país, chegaremos em breve aos 35.000 veículos.

O caso de aluno Ícaro Magalhões foi o único fatal nos últimos três anos. O assunto em discussão não é a colocação de pardal eletrônico ou não. Não existe a discussão dessa proposta. Os estudos para redução de velocidade envolvem, por exemplo, educação no trânsito, colocação de semáforos, contratação de operadores de trânsito, construção de recuos, colocação de sonorizadores, colocação de lombadas eletrônicas em três pontos.

Desde 2007, as avenidas Horacio Macedo e Carlos Chagas Filho e outras estão com nova pavimentação. Foram investidos R$ 4,5 milhões nessa troca. Em julho de 2007 colocamos, nas principais ruas e avenidas, placas de sinalização limitando a velocidade nos principais trechos e, na reforma da avenida Prof. Rodolpho Paulo Rocco, colocamos lombada de concreto. No caso das lombadas pouco adiantou, pois ônibus e caminhões ultrapassam com facilidade essas lombadas e o Código Nacional de Transito proíbe a colocação de lombadas acima de determinada altura, pois elas acabavam não deixando veículos leves circularem.

As placas com limites de velocidade em algumas situações  não são obedecidas, assim como o sinal vermelho nos três locais da Cidade Universitária. Entre várias medidas para conter essa falta de educação estão em curso uma intensificação da Campanha de Educação no Trânsito e a colocação de mais placas de advertência.

Pessoalmente, sou contra a colocação de pardal eletrônico. Sou favorável à proposta da comissão, que é a colocação de lombadas eletrônicas, que seria acoplada ao nosso sistema de monitoramento por câmeras da Ilha da Cidade Universitária.

Paulo Cezar Ribeiro
Professor do Programa de Engenharia de Transportes (PET), da COPPE/ UFRJ

Em relação a como a morte do estudante Ícaro mudou a discussão sobre a instalação de pardais eletrônicos, é necessário saber se um pardal teria evitado a morte deste aluno. Caso positivo, a instalação de pardais na UFRJ deve ser discutida.

Qualquer ponto de travessia de pedestres é um local potencialmente perigoso. Os cuidados iniciais que os pedestres e os motoristas poderiam ter, já foram tomados. Tais cuidados foram, por exemplo, a instalação de semáforos nas travessias mais movimentadas. Além disso, é necessário que, tanto motoristas quanto pedestres, respeitem a sinalização semafórica. Limitar a velocidade também é um ponto importante na questão da segurança.  Paradoxalmente, não há nenhum controle de velocidade dos veículos, que não sejam as placas regulamentadoras.

A instalação de pardais nos locais mais perigosos, onde haja desrespeito aos limites de velocidade e avanço de sinal vermelho pode diminuir o numero de acidentes entre veículos e pedestres. Por outro lado, a instalação de pardais deve ter como contrapartida a correta aplicação das medidas de engenharia de tráfego, como os tempos dos semáforos, semáforos acionados pelos pedestres com tempos razoáveis de espera, limites adequados de velocidade, etc.

Outra medida muito importante é a instalação de medidas do tipo "Moderação de Tráfego", como a mudança no tipo de pavimento, o estreitamento de faixas, a instalação de chicanes e outros dispositivos que têm o efeito de reduzir as velocidades dos veículos naturalmente, sem a necessidade de pardais eletrônicos. Esses talvez sejam mais eficientes.