De Olho na Mídia

Acessibilidade e inclusão na mídia

Aline Durães

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No último dia 19 de fevereiro, a Reitoria, em parceria com a Pró-reitoria de Graduação (PR-1) e unidades acadêmicas da universidade, realizou o seminário “Inclusão e acessibilidade na UFRJ”, com o objetivo de discutir as ações que visam ao acesso, à permanência e à participação efetiva dos deficientes físicos na instituição.

O evento não é uma iniciativa isolada da universidade. Ele reflete a importância que as questões relativas aos portadores de necessidades especiais vêm ganhando junto à sociedade e aos órgãos governamentais. Gradativamente, o assistencialismo e a filantropia que permeavam os debates relacionados ao tema são substituídos por discussões sóbrias sobre os direitos do cidadão deficiente.

Em alguns espaços, no entanto, ainda predominam as visões estereotipadas e os mitos estigmatizantes acerca dessa parcela da população. É o que acontece em alguns meios de comunicação. Para as professoras Regina Cohen e Cristiane Duarte, coordenadoras do Núcleo Pró-Acesso da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/UFRJ), embora a grande mídia tenha avançado na abordagem das diferenças físicas entre as pessoas, muitos veículos ainda utilizam terminologias e enfoques equivocados.

As pesquisadoras afirmam que, dado o poder de alcance da mídia, ela consegue reforçar certos estereótipos, já disseminados entre a população em geral, que vitimizam os portadores de necessidades especiais. “A pessoa com deficiência é, geralmente, vista como vítima ou como heroína, mas nunca como alguém comum, com as mesmas vontades e necessidades de todos; ela igualmente ama, trabalha, produz, sente raiva, chora, se angustia, é feliz ou triste. Características e sentimentos que fazem parte do ser humano, em geral, e não de quem possui uma deficiência, em particular”, destaca Regina Cohen.

As professoras criticam, inclusive, programas de televisão que almejam arrecadar fundos para entidades de apoio a portadores de necessidades especiais, como o Teleton, por exemplo, que há dez edições angaria recursos para a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). Na opinião das arquitetas, esse tipo de iniciativa assistencialista é ineficiente na promoção da qualidade de vida dos deficientes físicos, já que não proporciona a aceitação da diferença, item indispensável na equiparação de oportunidades.

– Dá-se o peixe, mas não se ensina a pescar. Precisamos dar educação, saúde de qualidade e condições para que estas crianças e adolescentes possam crescer e viver com dignidade, se profissionalizar, trabalhar e conquistar um lugar no mundo – alerta Cristiane Duarte.

A melhor postura midiática diante do tema, segundo as coordenadoras, seria os veículos mostrarem a vida cotidiana dos deficientes físicos através de campanhas educativas, reportagens e matérias informativas. Em função do papel mobilizador e difusor de informação, a grande imprensa poderia então transformar a opinião da sociedade.

Mas, no caminho de melhores condições de acesso aos portadores de necessidades especiais, a mídia não é a única que precisa passar por transformações: “O governo, por sua vez, ao proporcionar acesso amplo aos locais públicos, dentro de uma real política de inclusão, estaria contribuindo para a sociedade agir de forma a aceitar a diferença como uma riqueza humana e não como objeto de segregação. De qualquer forma, a qualidade das condições de acessibilidade só será de fato estimulada a partir de esforços multilaterais, advindos da mídia, do governo e da sociedade”, completa Regina Cohen.