Entrelinhas

Fitorremediação: o uso de plantas na melhoria da qualidade ambiental



Fernanda de Carvalho

capa do livro

Você já imaginou que a solução para a limpeza de um solo contaminado por metais pesados, por exemplo, pode estar numa plantação de belos girassóis? Alternativas como esta são detalhadas no livro Fitorremediação: o uso de plantas na melhoria da qualidade ambiental, lançado no último dia 30 de novembro. A obra aborda a técnica inovadora que coloca a própria natureza a favor da preservação do meio ambiente, utilizando vegetais, assim como organismos a eles associados, no tratamento do solo, da água ou do ar.

Um dos autores é o professor Cláudio Fernando Mahler, do Programa de Engenharia Civil do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (PEC/Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele conversou com o Olhar Virtual a respeito do livro, pioneiro no Brasil, elaborado em parceria com Sílvio Roberto de Lucena Tavares e Júlio César da Matta e Andrade.

Olhar Virtual: Como funciona a fitorremediação?

A fitorremediação se divide em quatro tipos. Há a fitoextração, que consiste na absorção, por uma planta, do contaminante presente no solo, sedimento ou lodo; a fitoestabilização, que compreende a contenção deste contaminante; a fitovolatilização, que é a extração e a liberação para o ar da substância tóxica presente nos mesmos meios citados e também na água subterrânea; e, por fim, a rizofiltração, que consiste na extração e captura do contaminante em águas subterrânea e superficial.

Olhar Virtual: Essa técnica pode ser utilizada para a remoção de que tipos de substâncias? Quais plantas podem servir para conter ou extrair os contaminantes?

Os resíduos que podem estarpresente no solo ou na água são os metais pesados, assim como os compostos organoclorados, ou os à base de petróleo, etc.

Para os diferentes tipos de processos, podem ser utilizadas diversas plantas. Algumas já foram testadas, como os girassóis, as gramíneas e a alfafa, entre outras.

Olhar Virtual: Quando surgiu a idéia de escrever a respeito da fitorremediação? Como foi o processo de produção do livro?

Eu orientei um aluno de Doutorado, o Júlio. Ele escolheu fazer sua Qualifying sobre essa técnica e escreveu um texto intitulado Fitorremediação: o que é isso, companheiro? O Sílvio, que faz Doutorado comigo, achou que dava para fazer um livro sobre o assunto e, em 2002, nós três começamos a trabalhar nisso. Neste ano, comentei a idéia com a editora Oficina de Textos e ela logo ficou interessada em publicar. De fato, a editora nos deu todo apoio e rapidamente transformou em livro a nossa pesquisa. Trabalhamos bastante o texto, modificado a fim de conseguir um formato interessante, sem uma linguagem acadêmica. O Júlio concluiu seu Doutorado sobre plantas comigo em 2005 e o Sílvio está fazendo o seu também sobre plantas, mas aí realmente focado na fitorremediação e em um projeto de limpeza de uma área contaminada que estamos desenvolvendo para uma empresa.

Olhar Virtual: Tomando como exemplo esse projeto, como é a aplicação prática da fitorremediação?

Estamos trabalhando no caso de uma área cujo solo está contaminado por metais pesados. A gente está em fase de estudos em laboratório, mas já possuímos bons resultados envolvendo plantas como girassóis e outras. A aplicação consiste em uma recuperação dessa área que dure em torno de quatro anos, o que para a empresa é um prazo extremamente satisfatório.

Olhar Virtual: Quais as vantagens e desvantagens da técnica que utiliza plantas na despoluição?

A fitorremediação é mais lenta do que outros processos. Como eu disse, pelos nossos estudos, estamos prevendo um tempo em torno de quatro anos para a limpeza da área contaminada. É lógico que, se for realizada uma ação para eliminar rapidamente o contaminante, como a retirada do solo, por exemplo, o processo pode ser feito em um ano, mas haverá uma quantidade maior de resíduos a dispor em algum lugar eum custo muito maior.
Esse processo funciona de forma semelhante à medicina dos seres humanos. Dependendo da doença, o homem pode fazer um tratamento através de medicamentos e recuperar o problema, o que provavelmente leva mais tempo, no entanto terá uma solução mais duradoura; ou pode fazer uma ação invasiva, o que talvez o leve a uma recuperação mais rápida, mas que pode resultar na perda de um órgão do corpo.
Certamente, a fitorremediação apresenta muitas vantagens: ela nos dá um visual melhor, tem um custo mais baixo e, claro, do ponto de vista ambiental, faz o processo de retirada do contaminante. Associada a processos térmicos (incineração) ou a processos mecânico-biológicos (compostagem), a técnica garante o mínimo de resíduos a serem descartados.

Olhar Virtual: Os resíduos que resultam da fitorremediação podem ser reaproveitados?

No caso do projeto que estamos estudando, o processo é o seguinte: você coloca plantas como girassóis, por exemplo, na área contaminada, deixa-as lá por um tempo de seis meses e, após isso, retira essas plantas, porque a capacidade delas para a extração e absorção do contaminante chega a um determinado limite. Estes vegetais, após serem utilizados para a limpeza da área contaminada, podem servir como biomassa para a produção de energia, o que seria uma alternativa de reaproveitamento.

Olhar Virtual: Na sua opinião, qual a importância de um livro que fale sobre essa técnica?

Aqui no Brasil, a fitorremediação tem um longo caminho a percorrer e é extremamente positiva, dada a enorme diversidade de plantas que nós temos. Estamos só começando, as plantas que nós usamos são apenas as primeiras experiências, ainda há muita coisa a ser estudada. É uma técnica extremamente econômica, positiva para o meio ambiente e esteticamente bonita. Acho que estamos começando um caminho que muita gente vai percorrer, uma trilha que, certamente, será seguida por muita gente.

Olhar Virtual: A fitorremediação, então, é uma grande aliada do ideal do desenvolvimento sustentável?

Ela é uma técnica que visa à introdução das plantas no cotidiano das pessoas, a fim de melhorar a qualidade de vida. Está dentro do conceito de desenvolvimento sustentável, de recuperação de áreas contaminadas, mas não é só isso. Em cidades como o Rio de Janeiro, com a quantidade de gases que as indústrias e os veículos produzem, se cada pessoa utilizar mais plantas para criar um ambiente mais confortável onde vive também vai auxiliar na melhoria das condições da cidade. Nesse sentido, o livro procura trazer as plantas para um convívio social mais forte, beneficiando, desta forma, a nossa qualidade de vida.