No Foco

Memória do esquecimento

Vanessa Sol

foto no foco

Para quem pensa que a história do município de Itaboraí é de passado recente, com sua atual transformação em Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, a ser realizado pela Petrobrás, engana-se. A história do município começou há mais de cinco séculos, quando ainda era uma sesmaria banhada pelos rios Macacu e Cassarebu. O local logo se transformou em freguesia, dando origem à construção da primeira capela em homenagem a Santo Antônio. Com o crescimento da população local houve a criação, entre 1660 e 1670, do Convento de São Boaventura, o segundo mais importante do país à época, e, posteriormente, a instituição da Vila de Santo Antônio de Sá.

É a partir da importância histórica e cultural do convento, hoje em ruínas, que pesquisadores da UFRJ começaram a investigar seu passado. Para tanto, a pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), Cêça Guimaraens, participou da pesquisa que faz a fundamentação histórica, a representação do espaço físico e a pesquisa iconográfica do convento e da vila. “O patrimônio cultural fluminense encontra expressão especial no Convento de São Boaventura e no sítio onde se encontram os remanescentes da vila de Santo Antônio de Sá, lugar onde estava também, até 1986, a antiga sede da Fazenda Macacu”, explica a pesquisadora.

Segundo Guimaraens, essas construções representam a história da arquitetura franciscana e colonial e, também, a formação urbana do estado do Rio de Janeiro. Contudo, o seu esquecimento foi o ponto culminante à degradação desse patrimônio arquitetônico. “O abandono do lugar foi o resultado das ingerências políticas e desenvolvimentistas no século XIX; a negligência tornou-se um fator que, configurando-se ao longo de todo o século XX, foi crucial para o arruinamento das estruturas do convento e da vila”, ressalta.

A pesquisa arquitetônica, histórica e arqueológica realizada sobre a constituição do espaço que durante anos abrigou o convento e, hoje dá lugar às suas ruínas, tem permitido à pesquisadora, junto com alunos de graduação e pós-graduação que participam do trabalho, a reconstituição digital do que poderia ter sido a cidade no passado. Com os financiamentos da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a pretensão é construir um laboratório de imagens, onde o trabalho de reconstituição digital da vila poderá ser feito tridimensionalmente.  “O papel do arquiteto é a organização do espaço físico do ponto de vista arquitetônico e urbanístico”, conclui.

Entenda o processo de formação do município
1567 – Concessão da sesmaria
1612 – Início da freguesia de Santo Antonio de Macacu e fundação da capela em homenagem a Santo Antônio.
1660/70 – Construção do convento de São Boaventura
1697 – A vila de Santo Antônio de Sá é instituída
1710 – Criação da Ordem Terceira
1780/90 – Reforma e ampliação do convento
1840 – Incidência de cólera e malária provocam o abandono da vila
1868 – A vila de Santo Antônio de Sá é destituída
1978 – Tombamentos do convento, da antiga sede da Fazenda de Macacu e definição da ambiência da vila pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC)
1980 – Tombamento das ruínas do convento de São Boaventura pelo IPHAN
1995 – Tombamento municipal
2004 – Registro do sítio arqueológico Fazenda de Macacu no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA - IPHAN)