Ponto de Vista

Descoberta nova reserva estratégica de petróleo

Julia Vieira

imagem ponto de vistaO país foi informado, no dia 8 de novembro, da descoberta de uma nova reserva de petróleo e gás, situada na Bacia de Santos, Rio de Janeiro. Essa reserva é do tipo pré-sal, localizada entre 5 e 7 mil metros abaixo do nível do mar. Caso a Petrobras consiga explorar essa província petrolífera, será mais uma vez pioneira em suas atividades, já que nenhum outro país ou empresa do mundo consegue extrair petróleo em tais profundidades.

A Petrobras estima a retirada de 5 a 8 bilhões de barris de petróleo e gás, o que corresponde a cerca de 60% das reservas atuais. Os números são apenas estimativos, maiores estudos ainda precisam ser feitos. A empresa afirma que já possui os equipamentos necessários para alcançar águas tão profundas e aposta na qualidade do material a ser encontrado, mas reconhece o grande desafio que tem pela frente.

Para comentar as expectativas sobre a exploração desta nova reserva, o Olhar Virtual conversou com João Graciano Mendonça, professor do Departamento de Geologia.

Foi descoberta no Brasil mais uma reserva de petróleo (óleo e gás). Mas esta reserva é especial por ser a maior dentre as conhecidas no país. Qual a importância desta reserva para a economia brasileira?
Esta reserva é extremamente importante porque, em um momento de valorização dos materiais energéticos, coloca o Brasil ao lado de Venezuela, Kuwait e Nigéria e atrás de países como Rússia, Irã, Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes e Iraque, em capacidade de produção de petróleo, por extração e comércio.

Se as reservas e a produtividade dos poços forem confirmadas e houver possibilidade de extração do petróleo em sua capacidade máxima – o que ainda não é uma realidade –, o Brasil teria petróleo suficiente para suprir suas necessidades internas e ainda disporia de excedentes para exportar. Além de gerar divisas para o país, possibilitaria a entrada do Brasil no grupo dos países exportadores de petróleo (OPEP).

Que mudanças ocorreriam no cenário energético com a descoberta dessas novas reservas na Bacia de Santos?
A auto-suficiência na produção de petróleo do Brasil foi conseguida há pouco. É importante lembrar que a auto-suficiência não significa que todo o petróleo consumido no país é produzido aqui. Ser auto-suficiente significa o Brasil produzir quantidades de petróleo iguais ou superiores ao consumo, porém nem sempre a qualidade do petróleo produzido é aquela ideal utilizada para o consumo. Neste sentido, essa descoberta definitivamente estabeleceria a auto-suficiência do Brasil em petróleo, o que poderia trazer a desejada “segurança energética” e retiraria o país do grande turbilhão do jogo político e comercial ligado às questões energéticas e da instabilidade econômica e diplomática causadas por este contexto.Como um bom exemplo, pode-se citar a conturbada relação comercial entre Brasil e Bolívia em 2006/2007.

O preço do barril de petróleo tem estado em alta no mercado. A exploração desta reserva pode alterar a conjuntura atual?
Pelo que se sabe até o momento, é justamente o preço atual do barril de petróleo que viabiliza a exploração nesta nova província petrolífera. Se o preço do barril baixar pode impossibilitar a exploração do petróleo neste campo, devido às condições geológicas em que se encontra (em grande profundidade de lâmina d’água e abaixo de espessas camadas de sal).

O petróleo tem um custo de produção muito elevado. A existência desta quantidade de petróleo na Bacia de Santos não significa, necessariamente, que se produzirá petróleo em quantidades suficientes para alterar qualquer conjuntura atual, até porque o preço do petróleo depende mais de conjecturas políticas do que de reservas estratégicas.

O Rio de Janeiro terá mais um centro de grande importância econômica. Isso poderá alavancar a economia Fluminense em outros setores?
O petróleo tem trazido ao país, mais especificamente a estados produtores como o Rio de Janeiro, um avanço no desenvolvimento, tanto social como político-econômico. É um bem que traz riquezas e, com elas, se bem empregadas em políticas de desenvolvimento, acontecem avanços em diversos outros setores. É o chamado efeito cascata.

O governo tem efetuado novas políticas de investimento fazendo uso de recursos petrolíferos, principalmente através da Petrobras e da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Os campos mais beneficiados por tais investimentos têm sido a educação, o desenvolvimento de mão-de-obra especializada e, principalmente, a pesquisa técnico-científica.

Ainda é importante salientar o desenvolvimento de toda uma seqüência de áreas relacionadas como as indústrias naval e de perfuração de poços; engenharia; geologia; meio ambiente e comércio, dentre diversos outros serviços, que trazem empregos, geram arrecadação de impostos, mais recursos e investimentos sociais. É impossível negar o desenvolvimento econômico associado à indústria do petróleo.