Ponto de Vista

Idade e emprego: qual o espaço das diferentes faixas etárias no mercado de trabalho?

 

por Amanda Wanderley

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), que tem como finalidade demonstrar a evolução de indicadores de primordial importância para o país. Alguns deles se referem às condições do mercado de trabalho e, nele, a participação de jovens entre 18 e 25 anos e o de adultos acima de 40 anos.

A PNAD 2006, divulgada no dia 14 de setembro, mostrou, no período entre 2005 e 2006, mais de dois milhões de pessoas entraram no mercado de trabalho. Neste número, dois perfis se destacaram: por um lado, a participação de jovens entre 20 e 24 anos caiu de 13,2% para 12,8%, de um ano para o outro. Em contrapartida, adultos com mais de 40 anos idade, no mesmo período, ganharam mais espaço, sua participação saltou de 39% para 40,1%.

Para entender os fatores oscilatórios desses grupos no mercado de trabalho e saber até que ponto as diferenças percentuais representam nova tendência empregatícia no Brasil, o Olhar Virtual da UFRJ conversou com o diretor do Instituto de Economia, João Sabóia.

Os números da pesquisa surpreendem, uma vez que a sociedade, em geral, associa o avanço da idade às dificuldades de inserção no mercado de trabalho?

Realmente, é muito comum a dispensa de trabalhadores mais velhos em troca de jovens dispostos a receber menores níveis de remuneração. Mas, tradicionalmente, são os jovens que possuem as maiores taxas de desemprego. Os jovens são aqueles que mais sofrem quando o mercado de trabalho enfrenta problemas, pois eles estão em um momento de busca do primeiro emprego, quando possuem pouca ou mesmo nenhuma experiência.

Há uma nova tendência de inversão de valores no mercado de trabalho?

O período de apenas um ano, entre 2005 e 2006, é muito pequeno para podermos inferir alguma tendência. Deve-se esperar as novas informações da PNAD 2007, levantadas neste mês de setembro, para verificar se o crescimento da participação dos mais velhos vai continuar no futuro com a intensidade que a PNAD 2006 mostrou. A partir daí poderemos fazer uma análise mais abrangente. Não vejo mudanças deste tipo no mercado de trabalho. É sabido que a maior dificuldade dos jovens é a falta de experiência, parcialmente compensada com o aumento da escolaridade. Por outro lado, a experiência acumulada pelas pessoas mais idosas é valorizada por algumas empresas, representando uma vantagem dos mais velhos. Muitos deles, mesmo aposentados, procuram se manter trabalhando a fim de complementar seus rendimentos. Retardando, assim, sua saída da população economicamente ativa.

Por que o número de jovens empregados caiu de 2005 para 2006?

Há pelo menos três causas para a redução da participação de trabalhadores jovens. Em primeiro lugar, o próprio envelhecimento populacional atinge os dados de jovens no mercado. Em segundo, eles têm suas dificuldades de entrada no mercado de trabalho por carecer de experiência.  Por último, o aumento da escolaridade dos jovens acaba protelando um pouco sua entrada no mercado de trabalho, na medida em que ficam mais tempo na escola.

Qual o conselho para os mais novos ingressarem no mercado de trabalho?

A entrada no mercado de trabalho sem o segundo grau completo é muito difícil, pois os empregos oferecidos para as pessoas com baixa escolaridade têm remunerações muito baixas. Se, além disso, a pessoa não possuir experiência sua situação se complica, uma vez que, hoje em dia, a exigência por pré-requisitos é cada vez maior. Por isso, os jovens devem estudar, estudar e estudar. Adiar a entrada no mercado de trabalho para entrar quando tiverem pelo menos o segundo grau completo. Essa seria a situação ideal, mas muitos jovens de famílias pobres são obrigados a trabalhar muito cedo para complementar a renda da casa, comprometendo seu futuro.