Zoom

Arquitetura bioclimática: menos energia, mais conforto

Kareen Arnhold - Agência UFRJ de Notícias – Base CT

imagem zoom

A sua conta de luz vem alta por que você não vive sem ar condicionado? Caso não saiba, é possível reduzir o gasto de energia em sua casa, sem perder o conforto térmico, através de um projeto de construção pensado de acordo com o ambiente: a arquitetura bioclimática, que se alia às condições locais de clima, umidade, iluminação, ventilação e vegetação.

De acordo com Oscar Corbella, professor e pesquisador do Programa de Pós-graduação em Arquitetura (PROARQ), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU/UFRJ), quando a disponibilidade de energia tornou-se farta, os arquitetos transformaram-se em simples artistas, projetando casas, praças e edifícios com base na estética, sem preocupação com o ambiente natural. “Estes profissionais pensaram que a construção não tinha mais nada a ver com o clima, porque uma pessoa podia fazer qualquer clima dentro. Faziam um prédio lucrativo, bonito, sem se preocupar com frio, calor, luminosidade (isso ficava por conta de engenheiros mecânicos e elétricos)”, destaca Corbella.

No entanto, a arquitetura retoma sua função plena a partir da década de 70, quando a crise do petróleo força o mundo a consumir menos energia. Na Europa, a redução foi de um quarto em um período de 20 anos (1973-1993), de acordo com Corbella: “desde que os edifícios foram projetados com um sistema de isolamento térmico para conservar o calor, o gasto com energia caiu muito”.

Da mesma forma que traz conforto térmico aos usuários de países frios, a arquitetura também pode funcionar bem em um clima quente e úmido. No entanto, a julgar pelos prédios contemporâneos das grandes cidades brasileiras, avalia-se que o país ainda não incorporou esta idéia.

- O problema se instala quando o Brasil tenta imitar os europeus. Os prédios de vidro, por exemplo, que proporcionam maior entrada da luz e retenção do calor, funcionam como estufas aqui. Se a temperatura externa for de 30 graus centígrados, dentro do prédio ela será de 45 graus -, explica o professor, que acrescenta:

- Sem intenção em estabelecer um estilo único, até porque temos variações de clima em cada região, a arquitetura bioclimática no Brasil deve empregar técnicas de planejamento e construção, com a consciência de que uma casa pensada para Paris não pode funcionar bem no Rio de Janeiro.

Algumas dessas técnicas seriam o posicionamento estratégico do edifício em relação à luminosidade, assim como a disposição de elementos que barrem a incidência direta dos raios solares, como vegetação e marquises, para reduzir a absorção de calor. Também pode haver um sistema de ventilação natural, com aberturas corretamente localizadas para a circulação do ar.

Arquitetura bioclimática em um conceito maior: sustentabilidade

De acordo com Oscar Corbella, quando a arquitetura bioclimática está engajada em um projeto maior, que visa não apenas ao conforto do usuário, mas também à preservação ambiental e ao bem-estar coletivo, ela é chamada de arquitetura sustentável:

- É uma estrutura que interage com outras. Pensa-se no edifício, no entorno e no que fazer para o bem-estar de todo mundo. Não é uma coisa complexa; basta ver qual é o sentido comum aplicado para que um edifício interaja com o clima e com as construções do lugar.

Os projetos de arquitetura sustentável, no entanto, têm que enfrentar interesses como a construção não planejada e não preocupada com o ambiente, decorrente da valorização imobiliária, por exemplo, que aglutina várias construções em um único ponto e altera as condições de temperatura da área.

Por meio de um estudo, Corbella constatou uma diferença de sete graus centígrados entre a praia de Copacabana e quatro quarteirões para dentro, no sentido contrário. Esta diferença se deve ao uso dobrado de aparelhos de ar condicionado na parte interna do bairro, que expelem cada vez mais ar quente, aumentando a temperatura externa.

Apesar da luta contra as especulalções imobiliárias, somadas à dificuldade em encontrar material reciclável a ser empregado na construção e ao maior gasto com mão-de-obra – a qual deve ser mais criteriosa –, o investimento em arquitetura bioclimática e sustentável pode ser vantajoso para o usuário.

- Mesmo que a construção ecologicamente correta seja um pouco mais cara, no final o saldo é positivo - , garante Corbella. A vantagem viria da redução no consumo de energia, além – é claro – de uma vida mais saudável para as pessoas, o país e o planeta.