No Foco

África, prosa e poesia

Luiza Duarte

foto no foco

Grandes escritores, poetas, professores, pesquisadores e editores africanos se reúnem na UFRJ, nos dias 20, 21, 22 e 23 de novembro, para o III Encontro de Literatura Africana. A Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com o Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense e com o apoio de outras instituições envolvidas nos estudos africanos, realiza o evento – Pensando África: crítica, pesquisa e ensino.

O evento pretende aprofundar as discussões sobre os estudos de literatura africana, buscando pensar estratégias e metodologias de ensino, pesquisa e crítica que ajudem a consolidar um efetivo progresso dos estudos africanos no Brasil e um amplo conhecimento da cultura afro-brasileira em escolas e universidades do país.

A África e as heranças africanas incorporadas à cultura brasileira serão debatidas também através das artes plásticas, cinema, teatro, história, antropologia e sociologia.

O encontro pretende divulgar os escritores africanos de língua portuguesa e suas obras, bem como a crítica literária produzida por estudiosos dessas literaturas. A presidente do III Encontro de Literatura Africana e docente da Faculdade de Letras da UFRJ, Carmen Tindó, ressalta “a presença de literaturas de qualidade nos países africanos de língua portuguesa. São literaturas recentes, porém de grande elaboração estética. Muitos poetas e escritores escrevem com uma linguagem que encanta, que opera, simultaneamente, com recursos da modernidade em diálogo com a reinvenção das tradições e da História de seus respectivos países”.

Poetas e escritores de renome participarão do evento como: Luandino Vieira ganhador do Prêmio Camões 2006, que recusou o prêmio de 100 mil dólares; o escritor Boaventura Cardoso, atual ministro da Cultura de Angola e o escritor Manuel Rui. Além dos poetas: João Maimona, José Luis Mendonça, Paula Tavares (Angola), Vera Duarte (Cabo Verde), Odete Semedo ( Guiné-Bissau), Conceição Lima (São Tomé e Príncipe), Nelson Saúte e Patraquim ( de Moçambique). Pesquisadores e professores brasileiros e estrangeiros que se dedicam aos estudos africanos vem reforçar o debate de como a África é pensada e ensinada no Brasil. A terceira edição do evento ainda apresentará uma mesa composta apenas por escritoras africanas. O ministro da Cultura, Gilberto Gil, também deve participar do encontro.

A feira de livros africanos, com preços acessíveis, será outra grande atração do III encontro. A presença de editoras africanas permitirá aos participantes adquirir livros que dificilmente chegam ao Brasil.

Uma das coordenadoras do encontro, a professora Maria Teresa Salgado, afirma que “no campo da divulgação no Brasil, vivemos ainda um processo de construção e afirmação da Literatura Africana”. Porém, a má divulgação e distribuição dos livros de literatura africana não são a única razão para que o tema, apesar da proximidade lingüística e cultural, nos seja tão desconhecido. A professora Carmen Tindó aponta que “o fato dessa literatura ter se afirmado no bojo do processo revolucionário marxista que libertou Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe é um dos fatores, além do racismo e marginalizações e exclusões contra os negros, que censurou o ensino das literaturas africanas por muito tempo no Brasil”.

Nasce a Associação Brasileira de Estudos Africanos

Durante o evento será criada a Associação Brasileira de Estudos Africanos que vem respaldar e estimular os estudos de cultura africana no Brasil. A professora Carmen Tindó garante que “a criação de uma associação tem de partir dos interessados. Por isso, a inexistência até agora de uma associação não pode ser vista como um atraso nem como um descaso e sim fruto da fragilidade da área”.

A associação vai contar com membros de diversas universidades brasileiras, gerando intercâmbios, congressos e publicações e sócios. Estes pagarão uma mensalidade, que possibilitará congressos mais freqüentes e regulares e a criação de uma revista brasileira de estudos africanos, para divulgar os artigos produzidos pelos estudiosos e pesquisadores da área. Carmen Tindó defende que “a associação pode ser um forte instrumento para fazer com que os estudos sobre África no Brasil possam deslanchar efetivamente”.

A Lei 10.639, aprovada no Brasil em 2003, estabelece a obrigatoriedade da presença da história e cultura afro-brasileira no currículo oficial dos estabelecimentos de Ensino Médio e Fundamental do país. A história da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira, o negro na formação da sociedade nacional, a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à história do Brasil, antes disso, não faziam parte da formação acadêmica dos brasileiros.. Segundo Carmen Tindó “a lei veio, em grande parte, corrigir as discriminações e os silêncios. Mas falta muito para ela existir concretamente, pois não há ainda muitos docentes especializados para ensinarem África”.

A Faculdade de Letras, desde 1996, oferece cursos de especialização em estudos africanos que vêm sendo muito procurados por professores da rede pública. A UFRJ foi pioneira na implantação das disciplinas de Literaturas Africanas na graduação dos cursos de Letras, em 1993. Carmen Tindó defende que “para que se dê continuidade ao fortalecimento dos estudos africanos é urgente que o reitor crie uma política de vagas, abrindo concurso público para professores de Literaturas Africanas, para corrigir a carência dessa área”. Hoje, são apenas duas as docentes do Setor de Literaturas Africanas da UFRJ e o volume de trabalho é crescente.

A aplicação da Lei Federal 10.639 será um dos temas dos sete minicursos que acontecerão durante o evento. É possível participar do III Encontro de Literatura Africana como ouvinte, ou apresentar trabalhos. As inscrições podem ser feitas pelo site, mediante pagamento de taxa no Banco do Brasil. O prazo de entrega das propostas de comunicações termina em 31 de julho de 2007. Mais informações pelo site http://www.letras.ufrj.br/pensandoafrica/ ou pelo e-mail pensandoafrica@letras.ufrj.br.