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Edição 352      23 de agosto de 2011


Ponto de Vista

As fotos de Clarice

 

 

Aline Durães

 

Preencher lacunas e silêncios deixados por Clarice Lispector. Esse foi o objetivo da palestra de Nádia Battella, professora de Literatura da Universidade de São Paulo (USP), ministrada na manhã desta terça-feira (23), na Faculdade de Letras da UFRJ. O evento, intitulado “Clarice Lispector: Literatura, biografia e fotobiografia”, integra o ciclo de conferências sobre a escritora, organizado por docentes da unidade.

Através da exposição de fotografias, Nádia buscou resgatar momentos até então pouco esclarecidos da vida da autora de origem ucraniana. A professora apresentou imagens da família de Clarice, de sua infância pobre em Recife, do relacionamento com o diplomata Maury Gurgel Valente e dos filhos Pedro e Paulo. “Tentamos organizar as fotos para contextualizar os textos de Clarice, para entender em que momento de sua vida ela escreve cada um deles”, afirma a pesquisadora.

Para isso, Nádia refez a trajetória da escritora. Visitou os lugares por onde Clarice Lispector passou. Foi à Ucrânia e conversou com pessoas que conheceram seus familiares. Esteve no Recife para arregimentar material que pudesse esclarecer a vinda da família Lispector para o Brasil. Lá, descobriu que Clarice morou em um bairro judeu com mais de 18 primos. Foi também à Suíça, à Itália e aos Estados Unidos. A meta era compreender melhor as influências na obra de Clarice Lispector dos quinze anos em que esteve fora do Brasil acompanhando o esposo em carreira diplomática.

As imagens narram a trajetória desta que é considerada uma das maiores poetisas da Literatura brasileira. Mostram, por exemplo, que, desde criança, “Clarice já tinha o olhar de alma formada”. Permitem ao público conhecer, para além da escritora, a jornalista que atuava no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão de censura do Estado Novo de Getúlio Vargas. Também evidenciam que Lispector, após alguns anos no exterior, estava insatisfeita com seu casamento, o que refletia em seus textos. Nádia compartilhou ainda imagens de locais, esculturas e paisagens que estiveram presentes em crônicas da escritora. Do total de fotografias, em apenas duas, Clarice esboçava sorrisos: uma em que estava ao lado de uma amiga e a outra tirada no reencontro com um antigo professor que lhe havia emprestado livros.

—  Ler Clarice Lispector não é um processo fácil. É complexo e ambíguo. Ela se deixa envolver em um fluxo no qual se perde o pé. A leitura é uma aventura, um processo que não se sabe muito bem onde vai dar. Para seguir nesse caminho, é preciso ter coragem. Não basta ler Clarice de fora. Tem que mergulhar. Refazer os passos dela nos ajudou a construir sua biografia e, consequentemente, a entender melhor sua obra — enfatiza Nádia Battella.

Todas as imagens apresentadas durante a palestra estão no livro Clarice Fotobiografia, organizado por Nádia e publicado pela IMESP.

 

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