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Edição 339      24 de maio de 2011


Ponto de Vista

Faculdade de Arquitetura apresenta projeto de casa popular sustentável

 

 

Thais Carreiro

 

O termo sustentabilidade vem ganhando cada vez mais espaço na mídia, a preocupação com o meio ambiente é o slogan de corporações e governos. Porém, o conceito vai além da preservação da natureza; enciclopédias o definem como ações que sejam “ecologicamente corretas, economicamente viáveis, socialmente justas e culturalmente diversas”. Dentro desse quadro, encontra-se o projeto “Minha Casa Holcim”, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ em parceria com a empresa Holcim, produtora de cimento, concreto e agregados.

O programa é voltado para a fabricação de moradias populares de até 50 mil reais para população de baixa renda. As habitações contam com itens “verdes” como locais para descarte de lixo reciclável e óleo de cozinha usado, iluminação natural, ventilação e conforto térmico e acústico. O projeto prevê a menor quantidade de entulho e perdas de materiais na construção, além do uso de produtos que tenham sido fabricados de forma a preservar a natureza com o mínimo de desperdício.

Em 2009, as primeiras residências foram entregues na Cidade Universitária da UFRJ. Outras unidades foram inauguradas na semana passada, na Região Serrana, que foi atingida por fortes chuvas no início do ano e ainda possui várias famílias desabrigadas. O projeto prevê a entrega das casas em 60 dias e com um custo básico de R$1.000,00 por m2.

O Olhar Virtual conversou com a professora Denise Machado, diretora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo que nos falou um pouco sobre o programa.

Olhar Virtual – O que seria uma habitação verde?

Denise Machado – A habitação verde, ou o edifício verde, é um edifício que promove o melhor rendimento de utilização de energia, de iluminação, de custo de material. A habitação verde é um edifício de uso habitacional que usa desde seu início ferramentas para a economia de energia, o não desperdício aliado ao barateamento do seu custo. É sustentável por não favorecer ações danosas ao meio-ambiente, pela menor quantidade possível de entulho produzida e pelo uso de materiais que vem de empresas com compromisso com o meio-ambiente. O interessante da habitação verde popular é o barateamento da construção e diminuição de custos do morador. Dependendo do projeto de ventilação, por exemplo, não há necessidade do uso de ar-condicionado, mesmo em lugares quentes.

Olhar Virtual – Qual a importância desse projeto do ponto de vista da sustentabilidade?

Denise Machado – É importante por que busca não trazer ações danosas ao meio-ambiente, pela menor quantidade possível de entulho produzida e pelo uso de materiais que vem de empresas com compromisso com o meio-ambiente. Outra importância é que por se tratar de uma habitação de baixa renda, é uma casa sustentável e comercializável a preços razoáveis. O maior problema dos projetos desenvolvidos na faculdade é que seu produto não tem aproveitamento na sociedade.

Olhar Virtual – Como o projeto economiza água e energia?

Denise Machado – A economia de energia vem com o aproveitamento da luz natural, a casa é projetada de forma a aproveitar o máximo de iluminação natural. O projeto de ventilação também contribui com a economia de energia uma vez que mantém o ambiente mais fresco, dispensando o uso de aparelhos de refrigeração. A água, por sua vez, é reaproveitada através da captação de água da chuva.

Olhar Virtual – Essas casas já estão em processo de construção? Onde? Quem será beneficiado?

Denise Machado – Sim, no dia 20 de maio de 2011, o professor Osvaldo Silva, um dos responsáveis pelo projeto, inaugurou na cidade de Teresópolis as primeiras casas. No caso da cidade da Região Serrana, as casas estão sendo montadas para ajudar as vítimas das enchentes de Janeiro. A FAU vem dando diversos tipos de apoio à área, um deles é nessa questão da habitação.

Olhar Virtual – Esse projeto é possível mesmo em épocas de “boom” imobiliário?

Denise Machado – Pelas características principais do projeto, as habitações verdes estão fora do que chamamos de “boom” imobiliário uma vez que são voltadas para uma camada mais popular da sociedade. Se eu tenho a valorização imobiliária, tenho uma valorização artificial que não passa para habitação popular. Mas, a questão do “boom” imobiliário tem que ser vista também na visão da sustentabilidade, fugindo um pouquinho do assunto da casa e indo para o assunto do crescimento imobiliário e da sustentabilidade. Se eu tenho a valorização imobiliária, eu tenho uma valorização muito artificial em função de valores que a sociedade tem em um momento específico. A construção de um edifício custa X, incluído material, mão de obra e projeto, só que o terreno tem um custo muito diferenciado: um terreno em Ipanema vai custar 100 e em Campo Grande, com a mesma área, custará 10. Então, significa que o valor imobiliário daquele edifício vai variar de acordo com a localização, com interesses e necessidades, com valores de paisagem... Enfim, todas as questões da vida urbana que diferenciam o valor de um imóvel. O custo da construção é o mesmo, mas o custo imobiliário vai de diferenciar pelo lucro imobiliário que tem a cidade. Se isso é feito de forma rápida, apressada e volumosa, é certo que eu terei que ter cuidado na questão da sustentabilidade, principalmente nas instalações novas. Então, esse é o problema da especulação, o “boom” não é a especulação em si, o “boom” é a especulação e o desenvolvimento de diversas técnicas de construção, então esse boom não passa pela habitação popular. A casa [popular verde], em si, está em outro patamar.

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