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Edição 301      30 de junho de 2010


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Acessibilidade sem barreiras



Aline Durães

Segundo alguns dicionários, a palavra acessibilidade significa “a qualidade de ser acessível, a que se pode chegar facilmente, que fica ao alcance”. Mas, para pessoas com deficiência física, sensorial, intelectual e também para aquelas que possuem, por qualquer razão, mobilidade reduzida, a definição vai além: expressa o direito de usufruírem do espaço e dos bens simbólicos da sociedade como qualquer outro indivíduo.

A partir da década de 1990 se consolidou a concepção de que os espaços, bem como os objetos e os transportes, deveriam ser construídos para contemplar a todos. Desenvolvida pelo arquiteto norte-americano Ron Mace, essa nova abordagem da acessibilidade visava a chamar a atenção e a dirimir dificuldades enfrentadas diariamente por pessoas com deficiência.

Apesar de ter sido abraçada pela Convenção das Nações Unidas de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência e de ter sido aprovada como emenda constitucional no Brasil, a acessibilidade ainda não é uma realidade. Nem mesmo na UFRJ. Embora possua especialistas gabaritados e grupos de pesquisa engajados na discussão, a universidade ainda não se constitui um local totalmente acessível. Dos estacionamentos às bibliotecas, as dependências da instituição mostram-se pouco adequadas para atender às necessidades de todos os seus frequentadores. “O importante a ressaltar é que defendemos a ideia de percursos ou rotas plenamente acessíveis de um ponto a outro. Na verdade, a pessoa deve poder se deslocar de sua casa e chegar à universidade sem encontrar nenhum obstáculo no meio do caminho”, pontua Cristiane Duarte, uma das coordenadoras do Núcleo Pró-acesso da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da UFRJ.

Para diagnosticar as principais carências da universidade no que tange à acessibilidade, o Núcleo de Pró-acesso publicou o relatório "Universidade para Todos - Diagnóstico de Acessibilidade na UFRJ". A pesquisa constatou que faltam vagas especiais de estacionamento, rampas, sinalizações táteis direcionais e de alerta para pessoas cegas, sinais sonoros, avisos visuais ou recursos para a comunicação de pessoas com deficiência auditiva, banheiros adaptados, bibliotecas acessíveis com softwares, livros falados e audiodescrição para deficientes visuais ou com baixa visão.

O relatório aponta que as ações existentes hoje na instituição são pontuais e conclui a inexistência de uma acessibilidade mais ampla, global e universal. “Não podemos ou conseguimos apontar um local que seja perfeito ou com rotas plenamente acessíveis. Há algumas unidades que evoluíram bastante, como a Biomedicina no Centro de Ciências da Saúde. Existem também algumas medidas muito interessantes sendo tomadas, por exemplo, no Núcleo de Computação Eletrônica (NCE), que tem desenvolvido softwares para pessoas com dificuldades motoras ou com deficiência visual. Apesar desses e outros casos isolados, o diagnóstico apontou a necessidade de adaptação na grande maioria dos locais”, conta Regina Cohen, outra coordenadora do Núcleo Pró-acesso.

Um caminho longo

O Núcleo de Pró-acesso da FAU existe desde 1999. Ao longo de mais de uma década, a UFRJ avançou pouco em relação à legislação e a outras universidades. “Acredito que a universidade não esteja pronta para debater o tema da acessibilidade. Não temos percebido vontade para isso. Enquanto a acessibilidade for apenas um fator a mais a ser resolvido no final de uma lista de prioridades a serem tomadas pela UFRJ, não avançaremos muito mais do que o pouco que já alcançamos até aqui, não acompanhando a evolução que já se faz notar em outras universidades públicas e particulares”, enfatiza Regina Cohen, destacando que o Plano Diretor UFRJ 2020 deve levar em conta as discussões sobre acessibilidade.

Para Cristiane Duarte, a falta de conscientização acerca da importância da acessibilidade é uma barreira mais difícil de ser quebrada do que as barreiras físicas. “Em nosso entender, a deficiência nunca estará na pessoa que muitas vezes encontra maneiras de superá-la, de vê-la ou de vivê-la de outra forma. O espaço, na verdade, é que é o grande deficiente ao não acolher a diferença que existe entre as pessoas, muitas vezes cristalizando a própria deficiência”, conclui.

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