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Edição 269      30 de setembro de 2009


De Olho na Mídia

Honduras em destaque

Taysa Coelho


Há alguns meses, raramente se ouvia falar com frequência sobre qualquer país  localizado na América Central, principalmente sobre Honduras, que figura entre os mais pobres e pouco desenvolvidos do continente. Como tantos outros em situação semelhante, Honduras apresentava pouca expressividade no cenário mundial. No entanto, o dia 28 de junho de 2009 alterou o cenário, colocando o pequeno território nas páginas dos jornais, bem como em  sites e redes de rádio e televisão, de todo o planeta. 

O presidente eleito em 2005, Manuel Zelaya, teve seu mandato - que terminaria este ano - interrompido por um golpe de Estado. Os militares alegam que o governante – logo em seguida extraditado para a Costa Rica - possuía interesses em alterar a Constituição nacional apenas com o intuito de se reeleger. A nação partiu-se, dividida entre os que apoiavam ou recusavam a condição instaurada e levou um grande contingente às ruas, em grandes manifestações. 

Questão hondurenha quase em tempo real 

Desde então, de um dia para o outro, Honduras passou a estampar as páginas principais de grandes sites, ganhando, inclusive, editorias especiais e apresentando atualizações constantes sobre a situação. A questão é: por que tamanho enfoque nessa região, até então tão pouco noticiada? O doutorando em História Comparada e pesquisador do Laboratório de Estudos do Tempo Presente da UFRJ, Karl Schurster, responde: "a crise chamou a atenção da comunidade internacional pelo fato de ter ocorrido em um período em que não mais se aceita e nem se apóia atos golpistas. No mundo pós-guerra fria, há um cenário novo, em que ditaduras e golpes são repudiados de forma veemente". 

Se o povo hondurenho encontra-se segmentado, a opinião de líderes mundiais - tais como os presidentes da Venezuela, Brasil e Estados Unidos - é quase uníssona: mostram-se completamente contrários ao que vem ocorrendo e não reconhecem o governo interino, sob o comando de Roberto Micheletti - inimigo político do presidente deposto.  

Como uma espécie de retaliação, diversos fundos de auxílio econômico ao país foram cortados, além de a Organização dos Estados Americanos (OEA) ter negado a legitimidade do atual governo hondurenho. O pesquisador relata que tamanho rechaço e atenção à questão acontece porque a conjuntura política na América Latina, hoje,  apresenta governos nacionalistas e de esquerda. Por essa razão, há um temor da reprodução de atitudes semelhantes em países vizinhos. 

Se há retaliação por parte dos governantes, também existe uma, velada, por parte da imprensa. A parcela do povo que apóia o golpe e o governo interino quase não possui voz. Raras são matérias, relatos ou notas que citem seu ponto de vista. Schurster esclarece a razão disto: “a ordem democrática e constitucional hondurenha foi quebrada e não há justificativa tal atitude. A negação ao golpismo pela comunidade internacional leva a este isolamento dos responsáveis pelo início da crise”.

Brasil em situação delicada 

Há pouco mais de uma semana, após migrar por vários países, Manuel Zelaya conseguiu voltar a Honduras – especula-se que na mala de um carro – e encontrou abrigo na Embaixada Brasileira, situada na capital Tegucigalpa. Notificados do retorno do presidente, diversos manifestantes invadiram o local, como um sinal de apoio, muitos outros ficaram nas imediações. O governo interino reagiu violentamente e a imprensa internacional exibiu fotos de soldados com máscaras e bombas de gás lacrimogêneo, além de protestantes feridos. 

Não apenas a participação do Brasil, envolvido diretamente com a situação, tem colocado a questão hondurenha em evidência. Karl relata, que na Venezuela, por exemplo, há um intenso acompanhamento, tanto devido ao apoio do presidente Hugo Chávez a Zelaya, quanto pelo repúdio popular ao golpe. “Os muros de Caracas estão repletos de frases com apoio ao presidente deposto”, complementa. 

O momento atual é o mais delicado e acabou prefigurando uma espécie de paradoxo. O presidente interino do país, que se encontra mais em foco que nunca, na mídias e na boca da população mundial, baixou um decreto limitando as liberdades de imprensa, de manifestação, de circulação, além de  permitir o fechamento de meios de comunicação que possam, em sua concepção, abalar a ordem do país. Além disso, estabeleceu um prazo para a Embaixada do Brasil retirar Manuel Zelaya de seu interior. Caso não o cumpra, o espaço será desconsiderado como brasileiro e poderá ser invadido quando considerarem necessário. 

“Uma das virtudes de Lula é o repúdio às ditaduras e aos golpes de Estado. Ele é um estadista que apóia a democracia e a ordem constitucional acima de tudo. Acredito que o Brasil deve apoiar o retorno de Zelaya ao governo e a realização de uma Constituinte em Honduras, tal como prevê a constituição do país para o caso de rompimento da ordem constitucional. Lula tem a missão de buscar uma saída pacífica para Honduras, evitando assim, a eclosão de uma guerra civil e intervenção da ONU”, finaliza o pesquisador. 

 

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