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Edição 263      18 de agosto de 2009


Entrelinhas

Radiografia dos estudantes de Serviço Social

Igor de Matos


Mulher de origem social mais pobre e ligada a ações sociais e religiosas. O perfil do imaginário coletivo sobre os estudantes de Serviço Social foi, por muito tempo, pouco questionado pela comunidade acadêmica. Para descobrir se esse estereótipo ainda corresponde à realidade, o professor da Escola de Serviço Social da UFRJ Pedro Simões pesquisou o perfil dos alunos de diversas universidades da capital fluminense. O Olhar Virtual entrevistou o autor da pesquisa, que foi editada no livro Gênero, Origem Social e Religião: Os Estudantes de Serviço Social do Rio de Janeiro.

Olhar Virtual: Por que pesquisar sobre o perfil dos estudantes de Serviço Social?

Pedro Simões: Na verdade, há uma grande carência de dados sobre o perfil dos assistentes sociais, profissionais ou estudantes. A única pesquisa que nós temos sobre estudantes é de 1967. Mas é uma pesquisa sobre a qual ninguém conhece os resultados. Então, eu tinha uma ideia de que o perfil dos assistentes sociais é marcado por mulheres, pessoas religiosas e pessoas que, comparadas ao universo universitário, são de camadas mais pobres. Porém, como esta se tratava só de uma impressão, era preciso quantificar. Por outro lado, tinha a intenção de criar uma série de estudos que pudessem acompanhar as modificações do perfil profissional dos assistentes sociais.

Olhar Virtual: A pesquisa confirma ou desmente o estereótipo feito do estudante de Serviço Social?

Pedro Simões: Esse estereótipo foi criado a partir dessa pesquisa de 1967. Porém, o que nós percebemos foi que o perfil do estudante varia de acordo com o perfil da universidade. Não dá pra dizer que o aluno da UFRJ tem  perfil semelhante ao do aluno de faculdade particular, onde há o predomínio de mulheres. Mas essas mulheres têm uma média de idade maior, por exemplo. Esse discurso de apenas um perfil profissional tem que ser revisto. A expansão das instituições de ensino superior privadas, o aumento de cursos noturnos e cursos à distância nos últimos 10 anos têm levado a uma diversidade maior dos estudantes. Nós temos um novo perfil de estudante e a pesquisa mostra um pouco isso. A ideia de uma maioria feminina e a ligação com a religião se mantém, mas o conceito de uma origem social menos abastada é mais variável.

Olhar Virtual: Qual o perfil do aluno de Serviço Social da UFRJ?

Pedro Simões: O aluno do curso diurno da UFRJ é mais novo que os demais. É o típico aluno que saiu direto do ensino médio para a faculdade. A maioria é composta por mulheres, sem passagem no mercado de trabalho e com uma característica muito interessante. Essas pessoas incorporam um discurso político muito forte, mas possuem  vida política pouco atuante. Isso porque o discurso político faz parte da formação profissional. Então, ele será usado como instrumento de ação profissional. No curso noturno, os alunos são um pouco mais velhos em relação aos do curso diurno; porém, muito mais novos em relação às universidades privadas. Boa parte já tem família e  trabalha. Eles entram no curso procurando  mobilidade ocupacional. Ainda há aqueles alunos que não conseguiram entrar no curso diurno, talvez por não terem  boa preparação.

Olhar Virtual: Houve alguma variação no perfil do estudante de Serviço Social entre sua primeira pesquisa, em 1999, e a segunda, em 2007?

Pedro Simões: Houve  dificuldade nessa comparação. O campo da primeira pesquisa, por ser a primeira experiência, foi menor que o  da segunda. Na segunda pesquisa, estudamos mais duas universidades. Mesmo assim, no final do livro há um conjunto de tabelas que mostram os dados pesquisados comparando-se as universidades e os tipos de curso. Então, não posso dizer que houve uma diferença muito grande de 1999 para 2007. O foco foi na comparação entre as instituições.

Olhar Virtual: Você teve alguma surpresa com a pesquisa?

Pedro Simões: A grande surpresa da pesquisa foi essa diversidade encontrada. Outra surpresa foi a questão da religião. A gente sempre considera que a religião está “fora de moda”. Porém, os dados colhidos na pesquisa mostram que, dentre as atividades desenvolvidas por alunos de Serviço Social particularmente, a religião ainda é muito presente,  ainda mais se comparando com outras atividades associativas. Essa era uma impressão que já tínhamos, mas a pesquisa terminou por consolidá-la.

Olhar Virtual: Então, qual é o perfil do estudante de Serviço Social?

Pedro Simões: O perfil do estudante de Serviço Social não pode ser visto de forma homogênea.  Ele está muito relacionado ao tipo de faculdade. No entanto, algumas marcas acompanham o perfil profissional há muito tempo e não há nenhuma indicação de que isso vai mudar. Essas marcas são os perfis feminino e religioso dos estudantes, mas eu faço uma ressalva: há um crescimento no número de alunos homens mais preocupados com o mercado de trabalho. Porém, gênero, origem social e religião ratificam uma identidade profissional histórica dos assistentes sociais. 

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