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Edição 253      09 de junho de 2009


De Olho na Mídia

Israel e Palestina – Como a mídia reporta esse conflito?

Fernanda Turino


O conflito envolvendo israelenses e palestinos é bastante antigo e parece não ter solução. Gaza e Israel se enfrentam com frequência e violentas medidas são tomadas por ambos os lados, o que parece de alguma maneira atrair a mídia, que não deixa de pautar o assunto, levando-nos a pensar se ela poderia agir de forma diferente a fim de colaborar com a resolução do conflito. Por isso o Olhar Virtual conversou sobre o tema com Bernardo Sorj, professor titular do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ.

Os constantes embates entre israelenses e palestinos atraem a atenção da mídia, que, segundo o professor Bernardo Sorj, é sensacionalista: “A mídia procura imagens e imagens sensacionalistas”, diz. Ela procura por vítimas e, nesse sentido, os palestinos servem muito bem, já que são os oprimidos. Tomá-los como simplesmente vítimas é compreensível, pois eles são os mais fracos militarmente e sofrem com as ações militares de Israel.

No entanto, deve-se tomar cuidado ao vitimá-los em excesso; os recentes bombardeios de Israel em Gaza podem ser discutidos se foram ou não uma reação exagerada. O governo israelense não tomou essa decisão sem motivo, ela foi justamente a reação aos frequentes bombardeios que aconteciam em seu território, que eram de responsabilidade da autoridade radical palestina, o Hamas.

Os governos de ambos os lados não parecem dispostos a colaborar. Do lado da Palestina, em Gaza, há o Hamas, grupo eleito democraticamente, mas com fortes tendências autoritárias e fundamentalistas; já do lado israelense há um governo de extrema-direita nada disposto a avançar com os processos de paz e de reconhecimento de um Estado Palestino. Segundo o professor, esse parece ser um impasse difícil de resolver, mas que alguns novos dados podem ajudar.

Em recente pronunciamento, o presidente norte-americano, Barack Obama, disse que “a situação do povo palestino é intolerável”, demonstrando que o país mais poderoso e influente do mundo está disposto a pressionar as autoridades locais a fim de acelerar um já defasado processo de paz. “Na medida em que Obama decidiu apoiar o processo de paz, apoiar a solução de dois Estados vivendo lado a lado é um passo fundamental para que possa se avançar nessa direção”, opinou Bernardo. Outros fatores citados pelo professor, como dados positivos para o avanço do processo de paz, são o fato de que países sunitas como Arábia Saudita e Egito não veem mais em Israel um perigo geopolítico, mas sim no Irã, o que os levou a apoiar os processos de paz na região, além de o novo governo do Líbano ter conseguido se impor ao Hesbolah, evitando o surgimento de mais uma zona de conflito.

Pouca análise

A grande valorização imagética que a mídia promove leva Israel a “limpar” as cenas após bombardeios para evitar imagens chocantes de corpos mutilados, atitude oposta à do lado palestino, que parece querer se utilizar dessas cenas para hipervalorizar a destruição causada pelo Estado israelense. Mas essa não parece a melhor maneira de ganhar a opinião pública, pois imagens por si sós não explicam muita coisa.

A valorização das imagens na mídia faz com que ela acabe se tornando superficial. Reportar simplesmente o conflito não quer dizer que as pessoas estejam sendo informadas. Para Sorj, falta contextualização para melhor compreensão do conflito. “O que se trata, em relação ao olhar da mídia, é exigir dela que não fique somente no sensacionalismo, na vitimação, nas imagens chocantes, mas que ao mesmo tempo as coloque num contexto, explicando ao público as razões que levaram a essa situação”, diz.

Força da mídia

A mídia pode ser uma importante arma na resolução do conflito, pois em toda situação desse tipo os lados que se enfrentam sempre procuram se utilizar dos meios de comunicação para disseminar suas ideias e até mesmo incitar o conflito. No entanto, se não houver liberdade, a mídia não vai conseguir ter força alguma, já que não haverá multiplicidade de visões da situação. “É importante que haja liberdade de expressão, que no caso de Gaza é extremamente limitada porque o Hamas, embora eleito democraticamente em Gaza, tem demarcado enormemente as liberdades internas”, disse Bernardo Sorj.

Todavia, a mídia sozinha não é de forma alguma capaz de solucionar um conflito tão complexo quanto o que acontece entre israelenses e palestinos. Para Bernardo Sorj ela é uma representação da realidade. “O que eu digo é o seguinte: a mídia expressa realidades humanas; a mídia não é uma coisa que paira acima da realidade.”

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