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Edição 249      12 de maio de 2009


Entrelinhas

O dia do dragão

Raquel Oliveira - AgN/ CT

capa do livro

Em pleno oceano, as labaredas crescem furiosamente em direção ao céu. Abaixo, centenas de pessoas trabalham normalmente a bordo de uma plataforma de petróleo. A cena, assustadora para os desavisados, é comum no dia a dia dessas cidades flutuantes, que chegam a descer até 1,2 mil metros sob o mar.

O dia do dragão: ciência, arte e realidade no mundo do petróleo, livro de Giuseppe Bacoccoli, fala sobre esses pedaços cotidianos da exploração petrolífera. Lançada em dezembro de 2008, a obra reúne alguns casos vividos pelo geólogo em seus 45 anos de experiência no ramo, dos quais 34 foram passados na Petrobras.

Italiano de nascimento e brasileiro por opção, Bacoccoli graduou-se em Geologia pela UFRJ em 1964, numa das primeiras turmas do curso. Atualmente é pesquisador do Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia (LAMCE) do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE/UFRJ).

Em conversa com o Olhar Virtual, Bacoccoli comentou o livro, os bastidores do petróleo, as dificuldades e perspectivas para esse recurso natural.

Olhar Virtual: Como surgiu o projeto?

Foi uma sugestão principalmente dos meus colegas, pois achavam que eu tinha muita história para contar e insistiram em que eu deixasse registro disso.

Olhar Virtual: Então seu objetivo também era relatar suas experiências?

É. Todos os fatos são longos, mas é tudo real, são contribuições para a história do petróleo brasileiro.

Olhar Virtual: O senhor é geólogo de formação. Como surgiu seu interesse pelo ramo petrolífero?

Foi através de estágios. Em todas as minhas férias de verão eu estagiava em algum lugar. Fui para minas de ferro, garimpos. O Brasil tem muita mineração. No último ano da faculdade fiz um estágio na Bahia que foi decisivo. Trabalhei numa equipe de geologia da Petrobras. Era aquilo que eu estava procurando. Mais tarde fiz concurso e entrei para a empresa. Aliás, quase todos os casos do livro aconteceram na Petrobras. Trabalhei na Bahia e depois nos estados vizinhos. A partir de 1968 fui chamado para o Rio de Janeiro para trabalhar em poços no mar. A partir daí fiquei mais ou menos baseado no Rio.

Olhar Virtual: O livro é uma coletânea de artigos sobre o mundo do petróleo, uma "autobiografia". Por que o senhor escolheu esse formato?

Na verdade são contos. Eu diria que são ensaios em que eu aprofundo os temas. A maioria fala da minha vida profissional, mas também tem uma parte “romântica”, na qual menciono a saudade de casa, as dificuldades do trabalho etc. Eu gostaria de ter escrito um livro técnico, mas precisa de gráficos, mapas e está difícil conseguir autorização para esse tipo de trabalho. Não queria escrever um romance porque parece ficção. Então escolhi contos para dar um ar mais verdadeiro.

Olhar Virtual: O senhor tem anos e anos de experiência no ramo do petróleo, então já viveu e aprendeu muita coisa. Como o senhor selecionou quais assuntos entravam ou não no livro?

Teve muita coisa que ficou por fora, mas procurei colocar os fatos mais marcantes, mais relevantes para a história do petróleo no Brasil. Também procurei colocar experiências profissionais engraçadas. Teria material para escrever um segundo livro, mas por enquanto estou tentando partir para algo mais técnico.

Olhar Virtual: O título é forte, chama a atenção. Como o senhor chegou a ele?

O título veio da época em que eu ainda trabalhava na Bahia. Quando a gente vai fazer o teste para verificar a vazão do petróleo, costumamos jogar fogo nele. Forma uma chama imensa. Tinha um colega que comentava que o dragão “tava solto” quando a chama estava alta. O quarto conto do livro, inclusive, se chama “O Dia do Dragão”.

Olhar Virtual: Como foi o processo de elaboração do livro? Houve muitos problemas?

Não foi difícil. O pessoal da COPPE já tinha editores conhecidos, caminhos e tudo o mais. Recomendaram a Synergia, que fez um trabalho eficiente.

Olhar Virtual: Qual o senhor acha que é a perspectiva para o mundo do petróleo nas próximas décadas?

Em alguns dos ensaios abordo justamente esse problema. Muita gente acha que por questões ecológicas, pelo surgimento dos biocombustíveis e por formas alternativas de energia o petróleo pode passar para um plano secundário. Acho que a desvalorização do petróleo não vai acontecer em médio prazo, mas sim em longo prazo. Os outros combustíveis têm dificuldades enormes. O etanol da cana, por exemplo, recebe críticas por prejudicar o meio ambiente e o plantio de alimentos. Concluindo, o petróleo vai perder espaço no cenário mundial, mas, pela dificuldade de substituí-lo, isso não vai acontecer logo.

Olhar Virtual: Em entrevista ao jornal O Globo, em fevereiro do ano passado, o senhor comentou, por ocasião do roubo de informações de projetos da Petrobras, que a espionagem industrial na área de petróleo e gás é muito comum. O senhor mencionou esse problema no livro?

Sim. Cito casos reais no livro. Existem pessoas honestas e desonestas em qualquer lugar, e determinadas informações técnicas valem dinheiro. No conto “Os Ovos da Serpente” eu falo sobre tentativas de roubo e desvio de material. Esses casos são até rotineiros: vão de roubo de combustível a sumiço de trator, até chegar à venda de informações para outras empresas. Isso existe em todos os cantos. É preciso ficar atento.

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