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Edição 232      02 de dezembro de 2008


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Multiplicidade e integração na VIII Mostra de Teatro da UFRJ

Cinthia Pascueto – AgN/Praia Vermelha

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Em cartaz até o dia 14 de dezembro, sempre às 20h, a Mostra de Teatro da UFRJ já se tornou tradição no circuito cultural do Rio de Janeiro, encerrando as atividades anuais da Escola de Comunicação com a apresentação de peças com grande diversidade de temas e abordagens. Em sua VIII edição, o evento, que coincide com o debute do curso de Direção Teatral, aponta uma integração crescente entre a produção dos futuros diretores e os vários institutos e escolas da Universidade.

Diferente de outros cursos que apresentam monografias como trabalho de conclusão, o formando em Direção Teatral precisa produzir uma peça que envolva todos as instâncias aprendidas ao longo de quatro anos de estudos, como direção de atores, composição cênica e adaptação de roteiro. Para isso, conta com maior verba, infra-estrutura e aparato técnico, cedidos pela Universidade, além das crescentes parcerias com outras instituições da própria UFRJ.

Essa característica de integração, segundo Carmem Gadelha, diretora do curso de Direção Teatral da UFRJ, é uma das particularidades que diferenciam a Mostra de Teatro da função exclusiva de atividade curricular ou de Extensão. “Essa atividade teatral é da UFRJ, não apenas do curso”, enfatiza a professora, que complementa: “É uma atividade que, ao mesmo tempo, coloca a Direção Teatral numa espécie de ponto de cruzamento de outros cursos, atividades, setores, unidades de ensino e administrativas, e agrega a essas realizações todos aqueles que encontrarem uma conexão com a atividade teatral”.

As parcerias

Apesar de inicialmente em menor escala e pouco divulgadas, a Mostra de Teatro da UFRJ conta, desde sua primeira edição, em 2001, com o apoio e participação de outras unidades. A Casa da Ciência, por exemplo, sediou as cinco primeiras mostras, até a transferência dos espetáculos para a recém-reformada sala Vianninha, na Escola de Comunicação. Hoje, a entidade mantém a parceria colaborando com a produção e o trabalho gráfico. De mesmo modo, a conexão com a Escola de Belas Artes, com os cursos de Cenografia e Indumentária, é indispensável desde o início na produção figurinos e cenários.

O Fórum de Ciência e Cultura também integra a programação da Mostra de Teatro, contribuindo com o ciclo de palestras Nova Escrita em Cena, onde são discutidos com convidados especialistas temas ligados à dramaturgia, crítica e outras abordagens sobre o teatro contemporâneo. Ainda acompanhando o calendário da Mostra, alunos do 6º período de Direção realizam em paralelo a Amostra Grátis, encenações de 30 minutos que acontecem algumas horas antes da apresentação dos formandos, nas salas e jardins da Escola de Comunicação. A VIII Mostra de Teatro da UFRJ conta também com a exposição Tudo à Mostra, de fotografias e objetos cênicos utilizados nas apresentações de 2007.

Recentemente, o Museu Nacional da UFRJ também despontou como um parceiro em potencial, colaborando na Mostra deste ano na produção dos cenários, confeccionados em sua marcenaria. Além disso, em 2007, alguns espetáculos da Mostra Mais, realizada por alunos do 7º período de Direção Teatral ao final do primeiro semestre do ano, foram levadas para o Museu, sendo apresentadas para o público visitante.

Para Carmem Gadelha, essa excursão do teatro para o Museu Nacional, na Zona Norte do Rio, é de grande importância para integrar a região ao circuito cultural da cidade. “É uma maneira de mais uma vez efetivar a natureza extensiva do teatro, dando a ele uma tônica social muito expressiva. A região onde fica o Museu Nacional é geralmente desassistida de uma vida cultural mais constante”, afirma a professora.

— Este tipo de programa cultural conjunto deve ser mantido, incentivado, alargado, criando-se cada vez mais circunstâncias propiciadoras. Para isso, é preciso um investimento de infra-estrutura e de material. É preciso que se enxergue como uma atividade que tem alcance social e em tudo interessa ou deveria interessar a nossa universidade –, destaca Carmem Gadelha.

O trabalho desenvolvido com o Colégio de Aplicação (CAp) da UFRJ, por sua vez, realiza, desde 2003, uma apresentação dos alunos do 2º ano do Ensino Médio, dirigidos por estudantes bolsistas do 4º período de Direção Teatral, que integra a Mostra de Teatro, apesar da troca existente entre o curso e o CAp ser anterior a essa data. Neste ano, a proposta dos alunos do CAp foi o projeto Três Dias, homenagem a Dias Gomes, que condensa três peças do dramaturgo em um único espetáculo: “O Berço do Herói”, “O Bem-amado”, “O Pagador de Promessas”.

Orientados por José Henrique Moreira, professor do curso de Direção Teatral, e por professores do próprio colégio, os alunos-diretores desenvolvem pesquisas ligadas a atividade teatral com crianças e adolescentes. Trabalho este que tem levado também, segundo a diretora de Direção Teatral, a discussões sobre a criação de um curso de licenciatura em teatro pela UFRJ. “Estamos a algum tempo discutindo essa possibilidade, que deve ser levada com todo cuidado necessário. Ainda não temos professores suficientes para alargar dessa maneira o escopo pedagógico, apesar de já termos no CAp uma atividade um pouco mais desenvolvida, que em grande parte virá a cumprir mais da metade de um possível currículo ligados à licenciatura”, pondera Carmem, que já pensa numa integração entre o curso de direção, da Faculdade de Educação, da Escola de Belas Artes e o CAp.

Teatro e Comunicação

Apesar da proximidade física e de integrar a Escola de Comunicação da UFRJ, a troca entre a Direção Teatral e o curso de Comunicação Social é recente e ainda tímida. José Henrique conta que, apesar da colaboração esporádica de alunos das habilitações em Rádio e TV e Produção Editorial, apenas em 2007 teve início um trabalho de confecção de matérias por estudantes de Jornalismo, desenvolvido como disciplina complementar.

— Eles vão aos ensaios, fazem entrevistas com os formandos de Direção e elaboram matérias. Neste ano, foi desenvolvido um projeto com mais apuro e cuidado, que deu origem a uma revista – disse Moreira, referindo-se à revista-programa laboratorial “À Mostra”, desenvolvida sob a coordenação de Augusto Gazir, professor substituto da Escola de Comunicação, que ministra a disciplina de Jornalismo Cultural.

Para José Henrique Moreira, ainda tem muita coisa para acontecer nesse sentido. “Os alunos de Jornalismo deveriam interessar-se por escrever críticas sobre os espetáculos. A crítica teatral de qualidade é uma área jornalística que está fraca no Rio de Janeiro, para não dizer inexistente. É necessário ainda ir além do repórter e realmente assinar uma opinião crítica, uma visão estética, mais adequada ao meio jornalístico sobre espetáculos”, incentiva o professor.

Carmem, por sua vez, faz coro à fala de Moreira, afirmando que a formação do crítico precisa ser pensada e incentivada. “É um sintoma sério o jornal destinar cada vez menos espaço para a crítica teatral e de arte em geral, que acabam por confundir-se com merchandising”, lamenta a especialista, ressaltando, contudo, o surgimento de novos espaços em outros meios como possibilidades de abrangência do teatro, como a internet e o próprio ambiente acadêmico.

“O teatro é o espaço para as coisas se juntarem. Para isso que ele foi inventado. Os saberes convergem para o teatro e nada impede que isso aconteça na UFRJ”. Assim define José Henrique Moreira a importância do trabalho realizado por todas as instâncias envolvidas na realização do espetáculo. Da mesma maneira, Carmem Gadelha confere ao teatro uma particular natureza transdisciplinar, desde a sua origem.

— O que nós procuramos realizar aqui é obedecer a essa natureza imperiosa que o teatro tem. É alimentar-se dos saberes, constituir um saber e devolver-se, dar-se ao olhar – define a professora, que confere ao fato de estar numa Escola de Comunicação já indicar o olhar que o curso de Direção Teatral da UFRJ adota. “É necessário indagar qual o lugar do teatro hoje, frente a este mundo que cada vez mais se define, ganha formato e consistência a partir das questões das novas tecnologias, novas mídias”, afirma Carmem.

Para ela, essa capacidade irradiadora e ampla conferida ao teatro pode também ser estendida à Universidade, tomando como exemplo imediato a VIII Mostra de Teatro. “A UFRJ se transforma num ponto de cultura muito importante, que ultrapassa inclusive seu âmbito interno, seja por mobilizar um público grande ou envolver inclusive participantes que não são da Universidade. Isso quer dizer que complementamos de alguma maneira a formação de outros estudantes que sequer são da UFRJ”, disse a diretora, ao que Moreira completa:

— Não há um espaço mais democrático que o teatro em termos de assuntos que podem ser discutidos, de reflexões que ele pode suscitar. É o espaço mais nobre do mundo, de pensamento sendo testado, entendido, divulgado. Esse é um ganho imenso para a Universidade como um todo, não apenas para a Direção Teatral –, elogia o professor, ao que Carmem completa, alertando: “Pensar o teatro e produzi-lo, verificando suas situações de existência no momento atual é uma questão civilizatória. E com isso a responsabilidade da Universidade não é pequena. O teatro não ficar em segundo plano. Cada participante, estudante e funcionário envolvido de alguma maneira com essa atividade, precisa compreender esse papel social do teatro”, finaliza a diretora.

Programação

Confira a programação da VIII Mostra de Teatro da UFRJ para os próximos dias:

2, 3 e 4 de dezembro – A visita da velha senhora, de Friedrich Dürrenmatt. Direção de Kelly Coli, orientada por José Henrique Moreira.

5, 6 e 7 de dezembro – Chá (gelado!) das cinco, de João do Rio. Direção de Gustavo Henrique, orientado por José Henrique Moreira.

9, 10 e 11 de dezembro – Ao vento, de Diogo Liberano. Direção de Aline França, orientada por Eduardo Vaccari.

12, 13 e 14 de dezembro – Ameixa gorda de puro caldo que te inunda de doçura. Autoria e direção de Cecília Carvalhal, orientada por Adriana Schneider.

 

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