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Edição 218      26 de agosto de 2008


Ponto de Vista

Brasil nas Olimpíadas de Pequim: o que faltou?

Raquel Gonzalez

imagem ponto de vistaEncerrou-se no último domingo, 24 de agosto, a 26° Olimpíada da Era Moderna. O quadro brasileiro em Pequim não foi um dos mais animadores: terminou os jogos em 23° lugar – com 3 medalhas de ouro, 4 de prata e 8 de bronze – atrás de países como Jamaica, Quênia e Etiópia. Diante disso, surge a seguinte questão: fizemos o nosso melhor? O que falta para alcançarmos resultados satisfatórios?

Podemos perceber a cobrança que existe por melhores rendimentos dos atletas brasileiros por grande parte da população e da mídia nacional – com manchetes veiculadas do tipo “Choro como o do técnico do vôlei foi a marca da fraca participação do Brasil”. Há de se notar, contudo, que o possível fraco resultado nacional não é fruto exclusivo da falta de sorte ou competência da nossa delegação.

De acordo com dados divulgados pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), os recursos reservados às confederações nacionais, mesmo já incluídos os provenientes da Lei Agnelo-Piva – que destina, desde 2002, 2% da arrecadação das loterias federais para os comitês olímpicos e paraolímpicos do nosso país – ainda são, por exemplo, apenas cerca de 12% da verba que os Estados Unidos, segundo colocado em Pequim, destina ao esporte do seu país. A causa primeira do resultado brasileiro em Pequim é, indubitavelmente, “a incompetência da grande maioria dos gestores do esporte”, explica Waldir Mendes, diretor da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD).

O Olhar Virtual conversou com ele para discutir a participação brasileira nos Jogos Olímpicos de Pequim, entender quais os possíveis reflexos dos resultados obtidos e debater também políticas governamentais necessárias para melhorar o desempenho brasileiro nessas competições.

Olhar Virtual: O Brasil, ao final das Olimpíadas de Pequim, ficou na 23° colocação, atrás de Quênia e Etiópia. Essa colocação pode ser considerada aquém da capacidade esportiva nacional?

Embora o esporte olímpico brasileiro possua, como outras áreas no Brasil (tecnologia, ciência básica, educação, cultura etc), algumas "ilhas" de excelência e alta competitividade, quando comparado aos países mais desenvolvidos, acredito estarmos aquém do nosso potencial. Esse fenômeno não ocorre de forma isolada. Se observarmos os nossos resultados nas disciplinas da área de ciências e matemática no índice PISA veremos que os resultados são semelhantes aos obtidos pela maioria de nossos atletas.

Olhar Virtual: Qual a sua opinião sobre a atuação do Brasil nas Olimpíadas de Pequim? O rendimento observado já era esperado

Eu acho que os resultados foram bons considerando a nossa realidade. Há um conjunto de fatores que influenciam os resultados em uma competição desta natureza. Resultados em competições anteriores podem servir como uma referência para as previsões futuras, mas numa olimpíada, na disputa das medalhas, o que vale, geralmente, é a situação do atleta ou da equipe naquele momento (um bom tema de estudo para o pessoal das neurociências). Posso dar um exemplo: o recordista mundial da prova de 50 m nado livre, vencida pelo brasileiro César Cielo, é o nadador australiano Eamon Sullivan (foi medalha de ouro na prova de 100 m nado livre) que, na prova de 50 m, se não me engano, foi o sexto colocado.

Olhar Virtual: Há explicação para o pequeno quadro de medalhas? Esse resultado reflete a falta de investimentos e a não-priorização de políticas voltadas para o desenvolvimento do esporte por diversos governos brasileiros?

A explicação para o pequeno número de medalhas está na incompetência da grande maioria dos gestores do esporte, na falta de articulação das políticas públicas de apoio ao esporte educacional (escola) e de maiores investimentos na formação e preparação de atletas de alto rendimento. Cito o exemplo de casos brasileiros, um bem sucedido e um fracassado: o voleibol e o basquetebol.

Olhar Virtual: Existe no Brasil uma tradição de melhores resultados nos esportes coletivos?

Não temos essa tradição. As vitórias nos esportes coletivos foram episódicas à exceção do voleibol que, a partir dos anos 80, organizou-se e tem estado no pódio olímpico com algumas de suas representações (praia ou quadra). Nossas poucas medalhas vieram dos esportes individuais (atletismo, natação, vela e hipismo).

Olhar Virtual: Por que esportes que nos trouxeram medalhas em Pequim, como a vela feminina, são pouco valorizados no país?

Esportes como a vela são pouco praticados no Brasil porque os clubes de vela são, geralmente, caríssimos e elitistas. O material e a estrutura necessária para a formação de atletas é também inacessível.

Olhar Virtual: Que tipo de política de esporte seria necessária para melhorar o desempenho brasileiro? Quais os benefícios para o país com o desenvolvimento da área?

Esta é uma pergunta de difícil resposta uma vez que os resultados internacionais em esportes são frutos geralmente de, no mínimo, 20 anos com a manutenção de políticas e investimentos ininterruptos. Como conseguir isso no Brasil? Esse é um grande desafio. Enquanto esse momento não chega, nossos esforços e resultados serão, geralmente, isolados e sem continuidade.

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