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Edição 176      18 de setembro de 2007


Entrelinhas

A República musical

Stéphanie Garcia Pires – AGN/Praia Vermelha

capa do livro

Pianista, graduado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em História Social do Brasil, Avelino Romero é o autor do livro “Música, sociedade e política: Alberto Nepomuceno e a República Musical”.

Como o próprio nome sugere, a obra é coerente com estudos do escritor, que vem gradativamente se dedicando a relacionar as questões históricas com o universo dos ritmos, canções e melodias — uma trajetória descrita por Avelino como solitária, pois a conexão da música com os fatos passados de uma nação é pouco estudada no meio acadêmico.

Dadas as características peculiares deste livro, que parte da biografia do compositor Alberto Nepomuceno para contextualizar os momentos histórico e musical do Brasil, ainda como uma República nascente, a equipe do Olhar Virtual buscou o autor para mais informações.

Olhar Virtual: O livro “Música, sociedade e política: Alberto Nepomuceno e a República Musical” é resultado da sua dissertação de mestrado. Como surgiu a idéia de criar um trabalho com este tema e qual foi o incentivo para desenvolver a dissertação em um livro?

Avelino Romero: Do nacionalismo musical europeu cheguei ao brasileiro. Lia sobre Nepomuceno como o “precursor” desse nacionalismo no Brasil e também me interessava pela formação da República brasileira. Após uma pesquisa introdutória, aproveitando a motivação do Centenário da República, decidi desenvolver o tema no mestrado. Doei cópias da dissertação à Biblioteca Nacional e à Escola de Música da UFRJ e as bibliotecárias sempre me diziam que o trabalho não parava na estante, tamanho interesse despertava. Muitas pessoas em outros estados também tiveram contato com o trabalho, ele passava de mão em mão. Outros me escreviam querendo conhecê-lo. Foi quando percebi que o tema podia render um bom livro.

Olhar Virtual: Qual seu principal objetivo ao escrever este livro e por que Alberto Nepomuceno como elo entre a música, a sociedade e a política?

Avelino Romero: Há vários aspectos importantes. Primeiro, a possibilidade de cruzar o estudo de História com Música, recolocando esta última no contexto histórico. A vida de Nepomuceno foi um bom pretexto para fazer esse “casamento”. Sua trajetória artística e profissional é muito rica, complexa, isto me permitia discutir temas relevantes como a identidade nacional, a formação, a profissionalização dos músicos, os valores estéticos e políticos implícitos no discurso e nas práticas musicais. Pude ainda revelar o cotidiano da vida e da micro-política ligadas à música, as polêmicas e as picuinhas, que mostram como as idéias “se encarnam” em comportamentos.

Também era importante marcar uma posição em relação aos estudos mais tradicionais que insistiam na imagem do Nepomuceno “precursor”; embora seja uma homenagem, acaba empobrecendo a interpretação. Rotular alguém de precursor é retirá-lo de sua própria época e deslocá-lo para uma posterior. Isso não funciona em História. Era preciso conhecer Nepomuceno na articulação com o próprio contexto em que viveu, rico e sugestionador de questões atuais, mas obediente a lógicas próprias do momento, não de outro. Por exemplo, o “nacional” de Nepomuceno não é radical e exclusivista como o “nacionalismo” posterior. É uma possibilidade, sem excluir outras. Esta é uma lição importante para hoje. Não tem sentido querer isolar a música brasileira de outras manifestações musicais do mundo. É uma contradição, porque a música no Brasil, como tudo, se desenvolve em contato com as questões internacionalmente.

Olhar Virtual: Como foi o processo de construção de sua obra?

Avelino Romero: Diversos amigos, professores da Escola de Música, como Rosa Zamith, Samuel Araújo — presente na banca da minha defesa de mestrado —, Marcelo Verzoni, André Cardoso e João Guilherme Ripper (respectivamente diretor e ex-diretor da Escola de Música da UFRJ) me incentivavam a publicar o trabalho. Mas foi por iniciativa de Ripper e de André Cardoso que ele chegou à Editora UFRJ. Ao todo foram aproximadamente sete anos de pesquisa e mais sete para publicar o trabalho. A dissertação original foi defendida em 1995 e finalmente agora chega ao formato de livro, podendo ter uma divulgação mais ampla.

Olhar Virtual: O senhor é autor de outras publicações ou já possui algum projeto futuro para escrever outro livro?

Avelino Romero: Publiquei alguns artigos sobre Nepomuceno e sobre o Hino Nacional, que ele reformou, dando origem à letra atual de Osório Duque-Estrada. Entre 1999 e 2001, fui coordenador-geral de Ensino Médio no Ministério da Educação, em Brasília, e desenvolvi trabalhos ligados à educação e às políticas educacionais. Meu interesse maior hoje é o tango argentino, que venho estudando e pesquisando desde 2000, quando, por conta de minha atuação no Ministério, como representante brasileiro junto ao Mercosul, tomei contato com a cultura argentina. Na Unirio, além da História da Música Brasileira e da Música do Século XX, também tenho oferecido disciplinas de História da Música na América Latina e de prática musical de tango; tenho tocado e incentivado meus alunos pelo conhecimento histórico, musical e coreográfico do tango.

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