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Edição 170      07 de agosto de 2007


Entrelinhas

Segredos Públicos – os blogs de mulheres no Brasil

Amanda Wanderley, AgN Praia Vermelha

capa do livro

O que muda entre as mulheres que há algumas décadas escreviam seus sentimentos dia-a-dia em um diário trancado e escondido no fundo do armário e as mulheres que continuam a escrevê-los e publicam na rede mundial de computadores, através de blogs, diários on-line? Luiza Lobo, professora de pós-graduação da Faculdade de Letras da UFRJ, fez um estudo que revela como o advento dos blogs transformou a relação entre público e privado do universo feminino. O resultado da pesquisa é o livro Segredos Públicos — os blogs de mulheres no Brasil, que foi lançado pela editora Rocco, na Livraria Universo Psi, do campus da Praia Vermelha da UFRJ, na última quinta-feira (2).

Confira abaixo a entrevista do Olhar Virtual com a autora Luiza Lobo.

Olhar Virtual: Segredos Públicos – os blogs de mulheres no Brasil. Qual o objetivo deste livro?

Luiza Lobo: O importante para mim, ao escrever Segredos Públicos, foi relacionar a escrita do blog com filosofia, comunicação de massa, ontologia, existencialismo. Esses são os campos que eu estudo normalmente. Consegui juntar todos eles no entendimento desse novo fenômeno que data da década de 90, quando surgiram os blogs no Brasil.

Olhar Virtual: Quais os aspectos que tornam os blogs objetos de estudo?

Luiza Lobo: Esta escrita representa a ruptura do espaço público. Os blogs podem ter caráter diurno e noturno. O diurno é aquele que as pessoas utilizam como ferramenta de trabalho, como os publicitários e os de conteúdo jornalístico. Os blogs de mulheres têm o perfil noturno, quando elas adotam uma linha existencial, de confissão. Esse é o ponto interessante, pois as mulheres estão se confessando publicamente. Isto é uma grande novidade diante dos séculos de repressão feminina. É a ruptura da noção de proibição dessa nova geração de mulheres. Elas criam seus próprios limites. Além disso, os diários na internet têm aspecto teatral e narcisista, que está representado pela tela do computador. A tela é um espelho para a mulher. Outra peculiaridade é que os blogs representam uma comunicação imediata. A instantaneidade da comunicação, o que Jameson Fredric chama de ontologia do presente, está inserido nessa mídia.

Olhar Virtual: Como surgiu a idéia de escrever sobre a relação entre mulheres e os diários on-line?

Luiza Lobo: Fui convidada por Vivian Wyler, editora da Rocco, para escrever Segredos Públicos. Ela já conhecia a minha pesquisa sobre mulheres. Eu tenho muitos ensaios sobre mulheres, contos ligados à realidade feminina. Então, ela me convidou para fazer uma análise do por que de essa relação entre blog e mulher ser distinta das outras relações que envolvem essa mídia.

Olhar Virtual: Como foi a pesquisa para a produção do livro?

Luiza Lobo: Desenvolvo um trabalho ligado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à UFRJ. É uma homepage, onde publico duas revistas: Mulheres e Literatura e Literatura e Cultura. Nela, disponibilizo a tradução de escritores brasileiros para inglês, francês, alemão, espanhol e italiano. Essa homepage é fixa, diferente de um blog em que escrevemos todos os dias. Não tenho um blog e comecei a conhecer esse novo tipo de comunicação na internet por causa do livro. Inicialmente, fiz a pesquisa acessando diversos blogs, e procurei, então, responder a pergunta “por que tantas mulheres, geralmente entre 18 e 30 anos, especificamente, escreviam tantos blogs, diários on-line?”. Tentei fazer uma investigação sobre o motivo e as característica dessa nova modalidade de escrita.

Olhar Virtual: Como você analisa o mercado editorial hoje?

Luiza Lobo: Atualmente o mercado editorial é fragmentado. Existe a possibilidade de publicar edições pequenas, de 500 a 1.000 exemplares. Antes qualquer autor era lançado com 2.000 exemplares. A fragmentação apresenta aspectos positivos e negativos. Edições pequenas dão muito espaço para novidades. Tem muita coisa aparecendo. Mas isso é bom porque abre para a especialização. Poetas com edições de 200 a 300 exemplares podem lançar seus trabalhos. A venda de livros pela internet favorece ainda mais a fragmentação. Hoje tem espaço para todo tipo de publicação.

Outros trabalhos publicados por Luiza Lobo (entre ensaios, contos e livros):

• Por trás dos muros / Arte-fábulas, Rio de Janeiro, Brasília, 1976. 78 p.

• Vôo livre, Rio de Janeiro, Cátedra/INL, 1982. 126 p.

• Épica e modernidade em Sousândrade, São Paulo, EDUSP; Rio de Janeiro, Presença, 1986. 201 p.

• A maçã mordida. Contos. Rio de Janeiro, Numen, 1992. 158 p.

• O haikai e a crise da metafísica. Rio de Janeiro, Numen, 1993. 78 p.

• Crítica sem juízo. Ensaios. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1993. 259 p.

• Literatura Comparada I. Introdução, organização, tradução, exercícios e notas. Rio de Janeiro, Coan, 1996. 127 p.

• Literatura Comparada II. Introdução, organização, tradução, exercícios e notas Rio de Janeiro, Coan, 1996. 95 p.

• Sexameron. Novelas sobre casamentos. Rio de Janeiro, Relume-Dumará, 1997. 113 p.

• Estranha aparição, in Ficções. Rio de Janeiro, Sette Letras, Ano II, n. 3. 1º semestre 1999. P. 22-33.

Para conhecer outras obras da autora, acesse http://www.litcult.net.

Confira a sinopse

Desabafar angústias ou buscar consolo e aconchego, num diário escrito à mão, e resguardado da curiosidade alheia, é coisa do passado. O amigo íntimo de papel deu lugar aos blogs, que podem ser lidos e comentados pelo mundo inteiro, sem que sua autoria seja revelada. Para Luiza Lobo, autora de Segredos Públicos: os Blogs de Mulheres no Brasil, o fenômeno, embora recente, já começa a alterar a construção da identidade feminina, pois estabelece uma nova forma de inserção social e joga por terra teorias consagradas de alguns dos maiores pensadores da comunicação. A pesquisadora avalia essa revolução e o efeito do cruzamento das vozes múltiplas que se encontram nesse diário virtual. Se antes escrever em diários era sinônimo de isolamento num mundo particular, hoje os blogs se transformaram num espaço mágico, supostamente livre, de constante interação entre escritores e leitores.

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