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Edição 160      29 de maio de 2007


No Foco

Tecnologia e design pela preservação do meio ambiente

 

Priscilla Bastos

foto no foco

Na era da preocupação com aquecimento global, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sai na frente com dois veículos cujo combustível é o hidrogênio. Alunos e professores da Escola de Belas Artes (EBA) e do Laboratório de Hidrogênio da COPPE exemplificam, na prática, as possibilidades de cooperação inter-unidades através do desenvolvimento de um ônibus e um carro do futuro, baseados na idéia de energia limpa. O ônibus trata-se do Bus H2, projeto de design de autoria de Gustavo Guerra, primeiro brasileiro premiado no Michelin Challenge Design, em 2004, e exposto recentemente no salão de Detroit. Já o carro é uma proposta conceitual que veio como trabalho de conclusão do curso de Desenho Industrial dos alunos Carlos Fernandes Souza Leal e Davi de Oliveira Silveira Júnior, trabalho que ficou entre os cinco melhores projetos de um concurso promovido pela Volkswagen do Brasil.

A apresentação do projeto do carro conceitual, o Emperor, foi organizada pelo professor do Curso de Desenho Industrial da EBA, Roosewelt Teles, que conversou com o Olhar Virtual, já que os vencedores do prêmio não estavam no Rio de Janeiro na ocasião. Logo de início, o professor destacou a importância de dar o crédito aos responsáveis pelo excelente trabalho, o professor/orientador Sérgio Andrade e os alunos Carlos e Davi. Esclarecendo os trâmites do processo de conclusão do curso o professor Teles nos informou que "todos os estudantes, no final do curso, têm que apresentar um projeto de graduação e escolher um professor orientador para isso. O objetivo é levar o aluno a comprovar a aquisição de conhecimentos ao longo do curso, o que lhe conferirá o direito a pleitear o diploma de Bacharel em Desenho Industrial/ Projeto de produto. No Desenho Industrial, que é um curso da Escola de Belas Artes, o aluno tem a opção de escolher, quando da época da inscrição no vestibular, entre as habilitações em Programação Visual ou Projeto de Produto", esclareceu Teles. Inscritos na Disciplina de Projeto de Graduação, Carlos e Davi procuraram o professor Sérgio e apresentaram-lhe a proposta de desenvolvimento de um carro conceitual. Em paralelo a isso, a VW abriu o concurso; os alunos se inscreveram e tiveram seu projeto premiado tendo a empresa disponibilizado recursos para a construção de um modelo tridimensional em escala reduzida.

A premiação do Emperor não foi nenhuma surpresa para o professor, já que os alunos da Escola de Belas Artes costumam ganhar concursos dos mais variados tipos: "em 2005, por exemplo, tivemos cinco alunos premiados". O projeto em questão remete à idéia de futuro e foi baseado na vida do pingüim Imperador para se desenvolver o conceito de vida do carro, desde sua fase de embrionamento até o passo final. "Para tanto, os alunos pesquisaram o comportamento do pingüim no meio ambiente, as dificuldades que enfrenta, as hostilidades dos meios terrestre e aquático, o que levou a reflexões sobre o comportamento do carro em dias secos e chuvosos. A partir daí, remeteu-se ao carro ideal, num contexto de enfrentamento das dificuldades ambientais, e complementou-se com a característica de proteção que o animal dá a seus filhotes, inserindo a idéia de abrigo e conforto exigidas de um veículo. Com isso, desenvolveram vários conceitos internos e externos para diferentes aplicações", explicou Teles.

O Desenho Industrial tem a característica de inovação tecnológica e é conduzido por uma metodologia própria, a metodologia do design, que alia aspectos da metodologia científica à aspectos emocionais (estéticos) associados a parâmetros de praticidade, mercadológicos, financeiros, culturais, exigindo do designer grande habilidade interacional e criativa. "Apesar de os alunos desenvolverem coisas consideradas a princípio como utópicas em certos casos, não temos o ímpeto de limitá-los. Isto seria o mesmo que tolir a sua criatividade em meio a um tempo de exercício acadêmico, cujas as oportunidades certamente se tornarão rarefeitas na vida profissional. O design faz a interação entre a forma e a função; com isso observamos que não basta a um trabalho ser apenas bonito, uma obra de arte, e não funcional", disse Roosewelt. O professor também destacou o posicionamento do curso dentro da universidade, pois tem, à sua disposição, a secular Escola de Belas Artes, hoje privilegiadamente situada nas proximidades da COPPE, centro de excelência em tecnologia. Para Teles, "a tecnologia e a criatividade se completam.

O profissional de design trabalha em grupo, contribuindo dentro de um determinado contexto: "na profissão de Designer de Produto não há chances para o trabalho isolado. Compreendendo os atuais produtos como algo altamente complexos a atividade então exige não somente processos metodológicos adequados a essa natureza como também ações cooperativas o que remete a necessidade da participação profissional integrada, ou seja: o designer deve ser uma célula participante de um grupo de desenvolvimento de projeto ", assinala o professor da EBA.

Por se tratar de um carro conceitual e, por isso, remeter à idéia de futuro, os alunos tiveram de pensar na realidade daqui a anos. Por essa razão, eles decidiram que a motorização do veículo seria à base da propulsão do hidrogênio. "Diante da realidade do aquecimento global é uma tendência ter opções de motorização, motores à álcool, biodiesel ou movidos a outros tipos de combustível menos poluentes do que temos hoje", destacou Roosewelt. No caso do Emperor, diferentemente do que é visto em nossos veículos automotivos, os motores estão localizados nas rodas, como mostrado nas imagens, que também contam a história do projeto, a evolução do conceito e sua finalização. "Carlos e Davi escolheram a propulsão à base de hidrogênio pensando que, no futuro, isso vai se disseminar, como outros combustíveis que estão em teste hoje", alertou o professor. Na UFRJ, essa tecnologia é trabalhada pela equipe do Laboratório de Hidrogênio da COPPE, coordenado pelo professor Paulo Emílio Valadão de Miranda e que desenvolveu, em parceria com outros outros laboratórios, a exemplo do Laboratório de CAD do DI/ EBA (LabCAD), coordenado pelo professor Ricardo Wagner, o ônibus do futuro que congrega além da equipagem da motorização a hidrogênio racionalizações estruturais, ergonômicas e formais.

O motor à base de hidrogênio líquido existe em outros países e o Brasil avança muito nas pesquisas nessa área. O combustível é visto como um dos mais eficientes para substituir o petróleo e seus derivados, além de apresentar inúmeras vantagens: não é poluente, emite menos barulho e tem, como único resíduo, o vapor d'água. Além disso, sua eficiência é de 50%, enquanto que a do diesel é de apenas 30%, dando grandes esperanças aos ecologistas e àqueles preocupados com a questão ambiental.

O professor Roosewelt Teles resumiu bem o ideal do design ao dizer que "a forma segue a função". Além de seguir a função, o Emperor e o ônibus do futuro da EBA/COPPE se destacam pela beleza e pelo trabalho de ponta realizado por membros da UFRJ. Ambos confirmam a idéia de que a universidade pública se destaca não por seu capital, mas por seu material humano. Boas idéias aliadas à tecnologia e ao conhecimento geram projetos como esses, que, no futuro, terão reconhecimento e aplicação, em uma busca pela funcionalidade e, principalmente, preservação do meio ambiente - tema que preocupa, e muito, a humanidade hoje.

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