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Edição 159      22 de maio de 2007


No Foco

Se ela dança, eu danço. Se ele beija, eu beijo. Se ela ficar sozinha, eu fico também

 

Kadu Cayres

foto no foco

“Saio a noite, conheço pessoas e, quando tento me relacionar, elas desaparecem”. “Sou baladeiro de plantão, costumo sair com mais de uma mulher numa noite, mas no final das contas, me sinto sozinho”. “A melhor coisa que tem, é você sair, zoar com os amigos, ‘pegar’ a mulherada e não se sentir só, pois a sua namorada está dormindo em casa”. Esse foi o relato dos jovens Viviane Salim, pedagoga de 27 anos; Wagner Castro, estudande de direito, de 26 e Rodrigo Freitas, lojista, de 26 anos. Segundo eles, a atual juventude encontra-se fadada a uma futura solidão devido à instabilidade e a falta de comprometimento nas relações amorosas.

Na visão de Jacqueline Cavalcanti Chaves, pesquisadora do Instituto de Psicologia da UFRJ, o termo “fadados à solidão” é muito forte. O que existe são novas tendências que circundam os relacionamentos amorosos entre jovens, e isso, nem de longe, representa um futuro solitário. “Acho que hoje, existem formas de relacionamentos diferentes daquelas que nós estavamos acostumados a ter e ver. As relações são mais efêmeras (o famoso “ficar”)” esclarece a pesquisadora, ressaltando que tal efemeridade encontra-se presente, também, nas relações onde a durabilidade representa um princípio permanente como, por exemplo, o casamento.

Jacqueline esclareceu, também, que antes de se questionar sobre uma possível solidão, seria importante saber o que os jovens querem; se, efetivamente, eles buscam uma relação duradoura, de compromisso com o outro; uma relação baseada em abrir mão de certas coisas, de certas escolhas individuais, de certos prazeres para estar com o companheiro(a). “Antes de ficarmos profetizando o futuro amoroso da atual juventude, devemos procurar saber dela mesma se está disposta a assumir um compromisso. Quando as pessoas falam que estão sozinhas, que não encontram ninguém, eu pergunto: ‘Até que ponto você está disposto a se envolver com alguém?’”.

Em sua tese de doutorado, intitulada “Contextuais e pragmáticas: os relacionamentos amorosos na pós-modernidade”, a pesquisadora entrevistou alguns jovens, visando avaliar qual a percepção dos mesmos sobre os relacionamentos amorosos de hoje. Na maioria das respostas, a expressão “estar disposto” apareceu com freqüência, comprovando que, na visão da juventude, é preciso ter vontade e disposição para assumir um relacionamento. O que não se tem percebido muito. “As pessoas encontram-se, cada vez mais, pouco dispostas a conviver com o diferente, a abrir mão de certas coisas. Se isso não mudar, não diria que estarão fadadas à solidão, mas que será difícil arrumar alguém, será”, afirma Jacqueline.

Descrença e falta de perspectiva no outro

Essa questão da falta de compromisso existente nas relações amorosas, afetivas e sexuais de hoje, é fruto de uma sociedade que se manifesta bastante individualista, onde os interesses e sentimentos do próximo ficam sempre em segundo plano. Viviane Salim — pedagoga citada no início da matéria — reclama dessa postura egocêntrica e afirma que diante de um relacionamento amoroso, prefere, primeiramente, atender aos seus interesses e depois aos de seu companheiro, pois, segundo ela, “todo mundo é egoísta, mesmo quando pensa no próximo”.

Mediante o que foi dito pela jovem, a pesquisadora Jacqueline responde: “essa mesma pessoa que critica a postura individualista, a reproduz o tempo inteiro. É isso o que vemos, pessoas reclamando de uma situação que elas mesmas reproduzem ou até mesmo contribuem para que aconteça. Todos estão inseridos nessa cultura e, pior, a estão fortalecendo. Reclamam, mas não fazem nada para mudar. Deixo um recado: ‘pare de se queixar e faça alguma coisa para que isso modifique’.”

Será culpa das mulheres?

Na história das sociedades, existe uma mudança no lugar da mulher e isso ocasionou alterações nos relacionamentos amorosos. Certas atitudes como, por exemplo, beijar várias pessoas e ser infiel, sempre foram mais próximas do universo masculino, e a liberdade conquistada pela mulher, ao longo das décadas, a aproximou deste universo. Já que ainda se vive numa socidade machista, onde permanece o discurso “o homem que fica com todo mundo, é garanhão; a mulher, galinha”, parece mais cômodo culpá-las por essa efemeridade nas relações.

Para Jacqueline, não devemos botar a culpa na mulher, nem na sua conquista de liberdade e igualdade. Segundo ela, se os homens acham que as mulheres estão mais “fáceis”, façam algo para que isso mude. Ficar cada um de um lado botando a culpa no outro, procurando em um o que não oferece, é que não pode. “Em termos de gênero, não há culpado. Não tem como você responsabilizar o homem ou a mulher”.

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