De Olho na Mídia

Humor leva “Meia Hora” à liderança no jornalismo popular

 

Guido Arosa

 

Em 2008, os atores Luana Piovani e Dado Dolabella separaram-se, depois de uma briga em uma boate carioca. Filmado pelas câmeras do local, Dado é visto empurrando Luana, o que gerou uma decisão judicial de mantê-lo a, pelo menos, 250 metros de distância da ex-namorada. Como, então, dar uma manchete engraçada ao fato, característica do jornal popular? O editor executivo do tabloide Meia Hora, Henrique Freitas, teve uma boa ideia, que impulsionou a fama do diário na mídia nacional.

Freitas, em palestra na Escola de Comunicação (ECO) no dia 29 de setembro, afirmou que se inspirou no título “Luana não tem mais Dado (foto do ator) em casa” com uma notícia do jornal O Povo. Nela, havia a figura de uma casa no lugar da palavra “casa”. Como a frase com a palavra “dado” explícita poderia causar problemas para o diário, a fotografia de Dado resolveria futuras ambiguidades, sem perder a piada. Convidado para conversar com os estudantes sobre o processo de edição das notícias e capas, Freitas diz que, passando esta manchete pelos colegas de jornal, todos acharam uma ótima capa. “A redação foi meu termômetro para as ruas”, ressalta.

Utilizando humor, sensacionalismo e vulgaridade em suas capas, o Meia Hora, do mesmo grupo empresarial de O Dia, é o líder no mercado carioca de jornais populares. Depois de seu surgimento, em 2005, por apenas 50 centavos (hoje custa 70), com tiragem de 500 mil exemplares, as Organizações Globo passaram a investir no seguimento da classe C e D, com o jornal Expresso. No entanto, Meia Hora ainda é líder de vendas nas bancas. De acordo com análise do estudante Pedro de Figueiredo e da professora da ECO Cristina Rego Monteiro, entre 29 de março e 04 de abril de 2010, o jornal vendeu mais de 234 mil exemplares, enquanto o Expresso vendeu cerca de 86 mil.

O jornal alcançou, através de suas tiradas de humor e sarcasmo, o status de referência estética na mídia. Foi notícia da edição 28 da piauí, maior revista de jornalismo literário do Brasil, e conquistou definitivamente a paixão dos blogs de humor, que se referem a suas capas recorrentemente. Além disso, conseguiu dar um ânimo ao carro-chefe da empresa, O Dia” A última do tabloide foi, em 30 de setembro, manchetar: “Gretchen abandona o 'Conga la Conga' e vira garçonete nos States”.

 

Henrique Freitas também conversou sobre outros lados da empresa, como a dificuldade encontrada pelo jornal de entrar no mercado de São Paulo. Segundo ele, na cidade, a cultura de se ler diários gratuitos, como o Metro, é muito maior. Durante nove meses o jornal circulou entre os paulistanos, mas não vingou. Outro desafio encontrado pela redação foi o caso de Milton Claudino, fotojornalista de O Dia, sequestrado e torturado por milicianos na favela do Batan, em 2008. Até hoje, ele encontra-se afastado do cargo.