Entrelinhas

A construção da América Latina e do Terceiro Mundo

 

Nathália Machado – Agência de Notícias da Praia Vermelha UFRJ

Divulgação

 A UFRJ recebeu na última sexta-feira (19), em parceria com o Centro Celso Furtado a visita de Edgar J. Dosman, professor da Universidade de York e autor do livro “Raúl Prebisch (1901-1986) – A Construção da América Latina e do Terceiro Mundo” (Editora Contraponto. 656 páginas. R$ 64,00). O evento aconteceu no Instituto de Economia (IE-UFRJ) e contou com a participação dos professores Carlos Frederico Leão Rocha, diretor do IE, e Luiz Carlos Delorme Prado, diretor-presidente do Centro Celso Furtado.

“Em primeiro lugar o livro representa muita ajuda e força de trabalho. Agradeço a toda a equipe responsável por torná-lo possível. Prebisch possuía um carinho especial pelo Brasil. Celso Furtado foi seu amigo inseparável. Uma das mais importantes amizades da América Latina, dois gigantes economistas que influenciaram profundamente o século XX”, ressalta Dosman.

O livro caracteriza-se por ser uma biografia consistente e rica em detalhes. Nascido na Argentina em 1901 e filho de pais imigrantes, Prebisch mudou-se para Buenos Aires aos 17 anos para estudar Ciências Econômicas. “Ali vivenciou uma época de turbulências. Ao terminar seus estudos avançou rapidamente em sua carreira. Aos 21 anos foi nomeado subsecretário da fazenda”, ilustra Dosman.

Durante o Peronismo foi forçado a exilar-se em Santiago, onde começou seu trabalho sobre o desenvolvimento da América Latina e seus problemas principais. Dosman afirma: “Sua contribuição teórica gira em torno da assimetria da América Latina no mercado global. A moeda do comércio internacional é o poder, então para mudar as regras do jogo entre centro e periferia é necessário que os países negociem do mesmo patamar. Prebisch também acreditava em uma forte política social”, completa Dosman.
               
Ao ser questionado sobre o legado e a importância de Prebisch, o autor do livro cita inovações: “O Banco Central e a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) foram de fundamental importância, além de reformas institucionais. Visava sempre à questão da disciplina e do desenvolvimento no contexto global, tinha bastante preocupação com as Commodities e os Booms. Mas não era nenhum santo, cometeu erros e foi duramente criticado. Washington o considerava um esquerdista perigoso e ao mesmo tempo os comunistas o consideravam um cavalo de Troia. Sua liderança sem dúvida baseou-se no respeito e na lealdade”, conclui.
               
Em termos de metodologia de pesquisa e junção de informações para a elaboração da biografia, Dosman afirma que não foi nada fácil: “Em primeiro lugar os documentos foram queimados. Na Argentina não existem registros. Foi uma luta para encontrar documentos. Também não foi fácil mediar uma relação entre as duas mulheres de Prebisch, então vivia em guerra fria. Mas sempre que existia  energia, tempo e recursos foi possível descobrir fatos surpreendentes, através de cartas entre amigos, por exemplo. Levei mais ou menos 12 anos para escrever este livro”, finaliza o autor.

“Raúl Prebisch (1901-1986) – A Construção da América Latina e do Terceiro Mundo” foi eleita uma das melhores obras de 2009 pela revista The Economist.