Zoom

O planeta e a engenharia nuclear



Luciano Abreu

A engenharia nuclear é uma das tecnologias-chave para conter o aumento da temperatura superficial do planeta Terra. Esse dado foi apresentado pelo vice-coordenador do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), Paulo Augusto Berquó de Sampaio. O instituto é ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia e constitui uma rede de pesquisa ligada a programas de engenharia nuclear brasileiros.

O especialista proferiu a palestra “A necessidade e o futuro dos reatores nucleares”, que integrou a Primeira Semana de Engenharia Nuclear. Paulo Augusto destacou inicialmente a fatia da população mundial sem acesso à energia elétrica: entre um quarto e um terço. No Brasil, pelo mapa mostrado ao público, as regiões sudeste e nordeste, mais ao litoral, são os pontos mais iluminados do país.

A importância da distribuição da energia elétrica se deve às necessidades mais básicas, como o uso de eletrodomésticos, e à demanda de desenvolvimento tecnológico, segundo o palestrante. “A sociedade está se transformando. A ‘infosfera’ se formou e demanda muita energia, que precisa ser suprida, além de levar a lugares sem acesso a ela”, pontua Paulo Augusto. Ele também mostrou gráficos que comparam o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de população com ou sem acesso à energia. Nos países subdesenvolvidos o IDH é baixo e levar energia elétrica até eles torna-se essencial para “promover o desenvolvimento das nações, com maior igualdade e distribuição de riqueza”.

Cenários, no futuro, ligados à emissão de gás carbônico no planeta, elaborados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007, foram comparados e o pesquisador opinou sobre alguns deles. “O cenário mais real é a preocupação econômica, caminhando para a governança global, como o G7, por exemplo. O cenário em que há maior preocupação ambiental, com governança global e intercâmbio de tecnologia, é o mais utópico”, acredita.

Uma das formas de viabilizar o cenário é a engenharia nuclear, de acordo com Paulo Augusto, que disse ser o setor apontado pelo IPCC como uma chave para mitigar a temperatura superficial do planeta. Ele destacou a substituição de combustíveis fósseis pelos não-fósseis, sugerindo o hidrogênio como combustível, pela energia nuclear, para as frotas nas grandes concentrações urbanas. Como exemplo factual, Paulo Augusto citou a névoa tóxica que londrinos enfrentaram em 2002. Com o frio intenso, a formação do foggy natural e baixa incidência solar, a renovação do ar era pequena, o que resultou, segundo ele, em 12 mil óbitos.

Após percorrer uma linha de tempo do desenvolvimento de reatores nucleares desde a década de 1960, quando os primeiros reatores foram desenvolvidos, até os dias atuais, com a quarta geração, o especialista enumerou os requisitos no desenvolvimento desta geração corrente. A sustentabilidade, “usando os recursos sem comprometer as futuras gerações”, a competitividade econômica, focando no custo-benefício, a segurança, “fundamental para o setor nuclear”, e confiabilidade e resistência.

Na concretização desses objetivos, considerados “ambiciosos” pelo palestrante, o desenvolvimento científico e tecnológico é “indispensável”. “No Brasil, o futuro promissor dos reatores seria viável se assumir clara e fortemente a opção pela energia nuclear”, destaca. O fortalecimento do setor – indústria, órgão licenciador, academia – e a criação de novas usinas e projetos no ciclo dos combustíveis são outros caminhos necessários.