De Olho na Mídia

Os segredos de Harry Potter

 

Júlia de Marins

 

No dia 15 de julho, chegou às telas do cinema brasileiro o último capítulo da saga que conquistou milhares de fãs em todo o mundo: Harry Potter. A produção “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte II” marca o fim da trajetória do pequeno bruxo inglês que vive, ao lado de seus amigos Rony e Hermione, grandes aventuras para cumprir sua missão de combater o grande vilão, Lord Voldemort. A história, escrita pela ex-professora britânica J.K. Rowling, foi contada em sete livros e oito filmes e transformou-se no maior fenômeno pop da última década.

Apresentado ao mundo pela primeira vez em 1997, com a publicação do livro “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, o bruxinho iniciava seu caminho para o sucesso. Apesar de os filmes terem batido recordes de público, Harry Potter constituiu-se como uma das histórias mais marcantes do meio infanto-juvenil em virtude do sucesso de seus livros, sempre aguardados com ansiedade pelos leitores nos períodos de lançamento. Para Georgina Martins - especialista em Literatura Infantil e Juvenil, escritora de livros infantis, doutoranda em Literatura Brasileira e Técnica Administrativa da Faculdade de Letras da UFRJ - , ainda que tenha sido precedido por outras histórias de enredo fantasioso, como a trilogia “O Senhor dos Anéis”, Harry Potter alcançou tamanho sucesso devido a um conjunto de fatores. Segundo a escritora, a mídia teve participação importante na aceitação do pequeno bruxo pelo público, por meio da forte divulgação feita sobre a história. No entanto, Georgina também salienta o mérito de J.K. Rowling ao escolher os elementos e a forma certa de desenvolver as aventuras de Potter. “Na minha avaliação, o que consitui o sucesso de Harry Potter entre crianças, adolescentes e até adultos, além da mídia, é a estrutura narrativa do texto, a forma como a autora o compôs, já que as aventuras são vividas por crianças  e a linguagem dos livros é muito dinâmica, como pede o nosso tempo”, afirmou.

Ainda de acordo com a especialista em Literatura, o cenário do livro também contribuiu para o fortalecimento da história, porque “representa uma mistura do dia-a-dia com o fantasioso, o que sempre agrada. Quem não desejaria estudar em uma escola mágica como aquela? Sem falar no conteúdo, imagine ir ao colégio para aprender magia?”, brincou. Segundo ela, “o enredo faz uma ponte entre a tradição e a modernidade, como se todo aquele universo mágico, além de conversar com os dias de hoje, incorporasse elementos da nossa tecnologia. Por isso, por exemplo, as varinhas e as vassouras são tão especiais”, disse.

Para Georgina Martins, J.K Rowling também acertou ao mostrar que sabe aliar seus conhecimentos literários às inspirações que recebeu de antigos escritores. “A criadora de Harry Potter demonstra conhecer os grandes autores de livros de aventura que a precederam, acrescentando também o conhecimento que possui acerca de diversas mitologias, coisa que fica muito clara nos livros”, ressaltou.

Em relação às classificações dadas aos livros de Harry Potter, o nome “fenômeno de massa”, usado por alguns especialistas e divulgado pela mídia, não é visto por Georgina como a avaliação correta. De acordo com ela, “’fenômeno de massa’ representa, para muitas pessoas, aquilo que é mais palatável, descartável e não tem tradição. Eu não concordo com a inclusão de Harry Potter nesse grupo, porque penso que o enredo tem por base toda uma tradição clássica de livros de aventuras e de contos de fadas”. Na opinião da especialista, a saga de J.K. Rowling marcou a Literatura e pode ser chamada de “fenômeno literário”.

Quanto a possíveis sucessores para o fenômeno Harry Potter, Georgina Martins afirmou que “já apareceram vários, como a saga ‘Crepúsculo’, ‘Ladrão de Raios’ e ‘Eragon’, mas acho que nenhum vai substituir o pequeno bruxo, principalmente porque, do ponto de vista da estrutura textual, são muito ruins. Não é todo dia que aparece uma J.K.Rowling”. Além disso, a especialista acredita que o mercado sozinho não consegue influenciar o aparecimento de um novo fenômeno, ainda que haja uma forte busca por um substituto tão lucrativo quanto Potter. “Para o sucesso de uma obra é preciso haver duas coisas: mercado e autor competente”, apontou a escritora.