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A bordo da Vostok 1: a largada da corrida espacial



Gabriel Demasi – agência de notícias da Praia Vermelha

Ilustração: João Rezende

Base espacial de Tyuratam-Baikonur, antiga União Soviética (URSS). Às 9h07 do dia 12 de abril de 1961 começa a viagem de Yuri Gagarin a bordo da nave Vostok 1. Em uma hora e 48 minutos, o cosmonauta russo entrou em órbita e deu uma volta completa ao redor da Terra. Seria de sua autoria a célebre frase: “a Terra é azul”. Para comemorar os 50 anos da viagem, que colocou a URSS um passo à frente dos Estados Unidos na corrida espacial, o YouTube está fazendo a estreia mundial do filme First Orbit. A intenção dos realizadores do documentário é reproduzir o que teria visto Gagarin pela escotilha de sua cápsula espacial, através de imagens em alta definição registradas pelo astronauta italiano Paolo Nespoli, a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS). Inserido no contexto da Guerra Fria, esse grande acontecimento acaba tendo sua importância eclipsada pela disputa das duas potências mundiais.

De acordo com Carlos Roberto Rabaça, professor do Observatório do Valongo, unidade de ensino de Astronomia da UFRJ, a importância do fato transcende em muito a guerra em que o mundo estava mergulhado. “É extraordinário que, com a tecnologia da época, isso tenha dado certo. Não fosse o ranço ideológico, que infelizmente teima em persistir até hoje, talvez o mundo pudesse celebrar de forma muito mais entusiástica este que certamente foi, à época, um dos maiores feitos da humanidade”, afirma o docente. Segundo ele, foi a partir da corrida espacial que foram desenvolvidas tecnologias que fazem parte do nosso dia a dia e que sequer percebemos, tais como satélites meteorológicos e de comunicação, ou mesmo a caneta esferográfica e o microondas. “Poderia continuar listando uma série de inegáveis avanços proporcionados pela exploração espacial, mas o que é irônico é que por trás dela houve uma razão política e militarista. É mais fácil para o homem desenvolver tecnologias do que compreender seu vizinho e seu planeta”, elucida o professor.

Rabaça avalia o trabalho realizado por diversos países na ISS – laboratório espacial atualmente em construção, cuja montagem em órbita começou em 1998 – como uma das maiores obras humanas. No entanto, ele se questiona sobre o futuro do projeto. “O futuro da ISS é uma incógnita. Ela vai depender da capacidade do homem de trabalhar em conjunto. Quem pagará a conta para manter e desenvolver novos módulos, em um mundo com uma economia tão combalida? E o patenteamento das soluções lá encontradas, como vai acontecer?”, indaga.

O especialista, para quem a ida do astronauta brasileiro Marcos Pontes até a ISS em 2006 foi importante, fala em unir ciência e política. “É preciso muito mais. É preciso uma política de governo que estimule a ciência, a educação e a continuidade de planos de pesquisa e desenvolvimento espacial. Isso tem de ser muito mais do que simplesmente a aplicação de recursos financeiros na área. Tem de se tornar uma visão de futuro, sustentada nas bases sólidas da educação, desde o Ensino Fundamental”, argumenta Rabaça.

Por fim, Rabaça destaca a exposição sobre a astronáutica que o Observatório do Valongo vai organizar no Centro Cultural dos Correios, de 28 de setembro a 13 de novembro. “As pessoas vão ter a oportunidade de saber um pouco mais sobre o que está envolvido nessa exploração, desde o simples olhar para o céu até a mais sofisticada tecnologia. Se o que nos resta no país é educar através da cultura, esta será uma grande oportunidade para a população se sentir estimulada a participar do desafio espacial, especialmente os jovens”, conclui o professor.