De Olho na Mídia

Suicídio deve ser notícia?

 

Marcelo Dantas

Ilustração: João Rezende

Agir eticamente, em todas as profissões, não implica apenas seguir uma série de condutas que assegurem o convívio saudável no interior de uma determinada classe profissional. Como toda profissão é dotada de natureza social, toda conduta assumida irá influir também na sociedade em que está inserida, organizando-a e transformando-a.

Na atividade jornalística, esse campo de interseção entre ética e influência social é bem evidente, pois as informações veiculadas pela mídia são grandes referenciadoras de uma ideia de “realidade” que, só através dessas mediações, consegue ser reconhecida como tal.  Ou seja, a sociedade apenas se reconhece como sociedade quando se depara com suas  respectivas representações.

Então, como deve agir o jornalista em situações em que o dever de informar pode vir acompanhado de uma possível influência negativa sobre o meio social? O que priorizar: a notícia ou suas possíveis repercussões?

 

Casos de suicídio

Um caso emblemático aconteceu em Viena, na década de 80. Nesse período, o metrô da cidade registrou 22 casos de suicídio em 18 meses, após uma cobertura sensacionalista de um incidente em 1986. Com o aumento das mortes, a imprensa e a Associação Austríaca para a Prevenção do Suicídio desenvolveram um manual sobre como os profissionais deveriam abordar o assunto. Com a nova orientação, a taxa de suicídio no metrô austríaco caiu 75%, em cinco anos. 

Para o professor da Escola de Comunicação da UFRJ, Maurício Schleder, a veiculação de casos de suicídio pode, sim, influenciar que outros venham a ocorrer. Isso porque existem pessoas mais vulneráveis psicologicamente e, portanto, mais sensíveis a este tipo de informação. “Além disso, o suicida pode encontrar na espetacularização da cobertura midiática uma forma de atenção que venha a suprir uma carência anterior”, afirma o professor.

Ainda assim, segundo Schleder, um caso de suicídio pode ser noticiável, mas apenas quando há alguma circunstância diferencial, um real interesse público e não apenas a notícia pelo escândalo que ela pode gerar. O professor lembra que, em todo caso, a notícia deve ser dada de forma sóbria e sem sensacionalismo, buscando preservar, ao máximo, parentes e amigos da vítima.