Especial Eleições - Chapa 99

“Por que não uma UFRJ verde?”

 

Aline Durães

 

 Ângelo da Cunha Pinto tem vasta experiência à frente de cargos administrativos. Professor titular do Instituto de Química (IQ) da UFRJ, já foi diretor da unidade e membro do Conselho de Ensino para Graduados (CEPG) e do Conselho Universitário (Consuni). Presidiu a Sociedade Brasileira de Química e participou da coordenação das principais agências de fomento à Pesquisa do país (Capes, Faperj e CPNq).

Para o professor, sua candidatura se distingue das demais por não apresentar uma proposta fechada. Ainda não indicou os nomes que vão compor sua gestão em caso de vitória. “Em vez de indicar pessoas, traçamos o perfil dos ocupantes dos cargos. Por exemplo, em nossa opinião, um pró-reitor de Pesquisa precisa ser um bom pesquisador e conhecer, por dentro, as agências de fomento nacionais e internacionais.”

Preocupado com o desenvolvimento sustentável, defende uma mudança de postura quanto à aquisição de material e descarte de lixo na universidade. “Por que não uma UFRJ verde? Nossa meta é a emissão zero. O responsável por cada equipamento que chega à universidade deve saber o impacto desse item no aquecimento global. E, quando for o caso, pode compensar isso plantando novas árvores no campus. Espaço aqui não falta”, destaca.

Ângelo é favorável a avaliações das atividades docentes pelos estudantes e por setores da sociedade e acredita que a UFRJ pode se preparar melhor para apoiar os megaeventos esportivos de 2014 (Copa do Mundo de Futebol) e 2016 (Jogos Olímpicos). Conheça um pouco mais da proposta do candidato da Chapa 99.

Olhar Virtual: Em sua opinião, qual o perfil do profissional que a UFRJ forma e qual ele deveria ser?

Ângelo da Cunha Pinto: Em uma sociedade que sofre transformações intensas como a nossa, você forma um aluno que nunca estará totalmente preparado para enfrentar essas mudanças. O primordial é que ele tenha conhecimentos básicos, mas muito sólidos, que o preparem enquanto indivíduo. Uma formação sólida, acadêmica, que permita aos estudantes pensar o mundo em desenvolvimento.

Sou a favor de um ensino mais global, humanista. Não tem sentido alguém entrar para Física, Química ou mesmo para as Engenharias. A ideia é que os estudantes possam ingressar em um curso básico e que, depois, optem por uma especialização.

Esse modelo de ensino não é novidade. O Chile fez isso nos anos 1980, a Universidade do ABC também adota esse modo. Temos que ter um espaço aqui dentro que discuta mudanças e que aponte para o futuro.

Resistências a essa proposta vão acontecer e existem porque grupos de professores querem ter seu espaço, não desejam ser avaliados, querem manter o domínio individual. Por isso, a mudança passa por um processo de convencimento, que mostre que esse modelo não é pioneiro; ele deu certo em grandes universidades e a UFRJ está atrasada em relação a isso.

Olhar Virtual: Muito se discute sobre a necessidade de alterações no estatuto da UFRJ. Por onde essa mudança deve começar?

Ângelo da Cunha Pinto: As mudanças devem começar pela base. Devem apontar onde esse documento é incoerente. Existem, hoje, no Estatuto da UFRJ mais órgãos suplementares do que faculdades, escolas e institutos. Por exemplo, toda a área de Psiquiatria da Praia Vermelha é composta por órgãos suplementares da Medicina. Será que isso é razoável? Olhando mais a fundo, me parece que o estatuto da universidade é uma colcha de retalhos.

Não diria que sou a favor de uma “Estatuinte”. Mas afirmo que os colegiados e centros deveriam começar a fazer essa discussão. Seria interessante, por exemplo, que todo professor, ao ingressar na UFRJ, recebesse o estatuto para conhecer a instituição. Ele poderia também percorrer as Pró-reitorias, ler o regimento da sua unidade. É o que chamamos de “Curso de Minerva”, cujo objetivo é permitir ao novo docente conhecer a universidade. Hoje em dia, ele entra aqui e não conhece nossa estrutura.

Olhar Virtual: Como o senhor avalia o papel da Extensão na universidade?

Ângelo da Cunha Pinto: Dizem que a universidade é Ensino, Pesquisa e Extensão. Mas esses três itens devem ser de qualidade. Não é porque é vinculado à Extensão que o projeto tem de ser de qualidade inferior. Muitas vezes, um projeto de extensão carrega em si os demais itens: se sobrepõe à parte de Ensino e pode, inclusive, usar muitos dos resultados de uma pesquisa para  avançar.

A Extensão, assim como a Pesquisa, também deve ter avaliação. A própria sociedade deveria analisar esses programas. Se a Extensão segue em prol da sociedade, quem deve dizer se ela valeu ou não é quem recebeu esse benefício.

Temos um entorno grande, por que não receber na universidade os meninos das escolas municipais e estaduais da Maré? Isso ajudaria a quebrar barreiras e seria um projeto de Extensão fantástico.

Da mesma forma, podemos atrair mais alunos de Graduação via cursos noturnos. Esses alunos são aqueles que, geralmente, precisam trabalhar para ajudar na renda da família. Nós temos espaços enormes desocupados aqui à noite. Teríamos não como duplicar, mas até quintuplicar o número de estudantes se aproveitássemos o período da noite. Faríamos isso sem precisar mudar a infraestrutura de salas, sem ampliar ou construir nada. O aluno poderia ficar mais um ou dois anos fazendo seu curso e, ao final, teria a mesma formação do curso diurno.

Olhar Virtual: Dentro de uma estrutura administrativa da universidade, como o senhor avalia o papel da Comunicação Institucional?

Ângelo da Cunha Pinto: A Comunicação Institucional é extremamente importante para divulgar o que cada unidade faz, tanto para a sociedade, como para o corpo social da universidade. Por exemplo, quantos servidores sabem que o Instituto de Química possui um laboratório credenciado pelo Comitê Olímpico Internacional para antidopagem nas Olimpíadas? Pouca gente. E os prêmios recebidos por nossos pesquisadores? Temos muitos docentes recompensados com prêmios nacionais e internacionais. Mas poucos sabem disso. Eles são motivo de júbilo para a universidade. Essas iniciativas devem ser divulgadas. Melhoramos muito em termos de Comunicação Institucional nos últimos quatro anos, mas ainda é muito acanhada. A TV universitária, por exemplo, poderia ser mais bem aproveitada. De qualquer forma, o mundo hoje é composto de informação e de imagem e a Comunicação é uma ferramenta importantíssima.