Ponto de Vista

Por que os aeroportos brasileiros não decolam?

 

Tiago Nicacio

Ilustração: João Rezende

Preocupada com o aumento da ocupação das aeronaves neste fim de ano, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) anunciou, no último dia 22 de novembro, um plano de contingência para os aeroportos brasileiros. Dentre as medidas do plano estão a proibição do overbooking, obrigação de endosso de passagens e ocupação de todos os guichês de check-in nos horários de pico. A resolução foi tomada em conjunto com o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), a Infraero e as principais empresas de aviação comercial do Brasil.

O planejamento para o período de festas no fim do ano é práxis no setor, mas o recente histórico de problemas na aviação brasileira validou a importância das medidas. Desde a grande crise de 2006, com a venda da Varig para a VarigLog e o acidente envolvendo um Boeing da Gol, com 154 vítimas fatais, as empresas de aviação têm passado por sucessivos problemas. O setor como um todo é visto com desconfiança. No caso mais recente, a TAM foi proibida de vender passagens pela Anac por apresentar atrasos e cancelamentos de voos acima da média. Entretanto, nenhuma medida até agora se mostrou eficaz para normalizar definitivamente a aviação brasileira.

Na opinião de Elton Fernandes, professor da Coppe/UFRJ, as medidas anunciadas no último dia 22 não chegam a atingir o verdadeiro problema do espaço aéreo brasileiro. “A principal causa dos congestionamentos que estamos presenciando no Brasil é a deficiência da infraestrutura aeroportuária e a fragmentação na gestão do setor. É claro que as medidas anunciadas surtirão efeito neste período emergencial, mas não resolvem o problema em longo prazo”, analisa o professor.

Ao anunciar o plano de contingência para o final do ano, a presidente da Anac, Solange Gomes, também divulgou a previsão da agência sobre o crescimento da ocupação das aeronaves neste período, que passariam a ter de 90% a 95% de ocupação. Em resposta, a maioria das empresas formalizou a expansão do quadro de funcionários durante o período e a diminuição do número de aeronaves na reserva. Porém, conforme alerta Elton Fernandes, temos uma severa limitação de espaço nos principais aeroportos do Brasil. “Nós temos uma deficiência séria no número de pátios e terminais de passageiros nos principais aeroportos do país atualmente. Diante desse tipo de problema, não há como improvisar. É preciso ampliar os principais aeroportos para evitar ‘gargalos’ no setor de maneira perene”, enfatiza o especialista.

Outro problema apontado por Elton, a fragmentação no comando do setor, parece já ter chamado a atenção do governo. “A presidenta eleita Dilma já manifestou a intenção de criar uma Secretaria de Aviação Civil, que seria ligada à presidência e organizaria a gestão da área. Essa medida seria o primeiro passo para implementar um planejamento mais claro do setor, pois, desde a criação da Anac, a atribuição de criar um programa de crescimento para a aviação ficou diluída demais”, conclui Elton Fernandes.