Entrelinhas

Modernidade na arquitetura

 

 

Tiago Nicacio

 Lançado, no último dia 24, o livro Arquiteturas em contextos de inovação trata de dois projetos arquitetônicos separados pelo tempo, mas unidos por um ideal: ser uma materialização da modernidade na Arquitetura. Anacronismos à parte, a coletânea de artigos organizados por Maria Ângela Dias, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ (FAU/UFRJ), analisa os conceitos de construção dos dois prédios do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), o primeiro iniciado em 1973, por Sérgio Bernardes, e o mais recente, em 2004, coordenado por Siegbert Zanettini.

O livro, divididos em seis capítulos, traz informações documentais sobre os dois prédios, com a visão crítica de especialistas na área. Além disso, são discutidos temas como a história da criação da Ilha da Cidade Universitária e a implantação do Cenpes no campus, com ilustrações que embasam e facilitam o argumento dos artigos. Apesar da especificidade do tema, a leitura é acessível mesmo para quem não tem a arquitetura como um de seus objetos de estudo, mas tem interesse pelo tema da Modernidade.

Para conhecer melhor o processo de organização do livro e a questão da Modernidade nos projetos atuais de Arquitetura, o Olhar Virtual ouviu a professora Maria Ângela Dias, organizadora do livro.

Olhar Virtual: Quando e como surgiu a ideia de fazer um livro baseado nos projetos arquitetônicos do Cenpes?

Maria Ângela: A ideia surgiu em 2004, quando participei do júri para a escolha do projeto vencedor entre os três finalistas, mas o apoio e incentivo veio do Cenpes.

Olhar Virtual: Um ponto  a se destacar no livro é a acessibilidade da linguagem utilizada, sem a dureza de um texto mais técnico. Todos os artigos do livro podem ser facilmente compreendidos pelo público não especializado? Há ilustrações das construções/plantas citadas durante os textos?

Maria Ângela: Este é um livro didático, escrito para contribuir com o ensino acadêmico da Arquitetura, Urbanismo e Engenharia, mas pode ser lido e compreendido por leigos. Além disso, as inúmeras fotos que ilustram os textos dão ao livro uma beleza que o confunde com uma publicação de arte da Arquitetura. É importante destacar que, no final do livro, há um encarte com a planta das duas edificações do Cenpes.

Olhar Virtual: Como é para o arquiteto trabalhar no limiar entre uma Arquitetura “ecossitêmica”, mais comprometida com o meio ambiente, e a estética tradicional? Em termos de mercado, a diferença de custo ainda é muito grande?

Maria Ângela: Cada vez mais os arquitetos e engenheiros buscam materiais e formas que permitam o melhor aproveitamento dos elementos naturais como o sol, o vento, a luz e a água. Entretanto, ainda é uma arquitetura cara, pois nem todos os componentes são industrializados. Ainda assim, podemos dizer que se trata de uma tendência na arquitetura expandir o conhecimento aplicado à geração de energia de forma mais eficiente.

Olhar Virtual: No prefácio, Gustavo Peixoto cita uma frase da senhora dizendo que “o campus da Ilha Universitária é um espaço experimental para a Arquitetura”. Por que o campus em especial?

Maria Ângela: Considero o campus da Ilha da Cidade Universitária o campus da Inovação e, por isso, um local próprio para pesquisa aplicada. Um exemplo dessa característica é que estou preparando um projeto para experimentar a construção de casas com materiais alternativos. Essas casas poderiam formar uma pequena vila no campus e servir de alojamento aos alunos e eles próprios fariam a avaliação sobre o conforto, durabilidade, segurança etc.
Outro exemplo, que já aconteceu, foi a aplicação de um tipo de asfalto no campus cuja composição foi desenvolvida na Coppe.

Olhar Virtual: A visita ao acervo da Fundação Oscar Niemeyer durante a pesquisa para o livro gerou alguma nova ideia para projetos futuros?

Maria Ângela: Sim, mas não projeto arquitetônico. A visita à Fundação foi para pesquisar o acervo do Sergio Bernardes que estava lá à época. O projeto idealizado é o de higienização e catalogação do acervo do Sergio, que está, em parte, dobrado em caixas papelão. Vamos fazer um projeto para submeter à Petrobras no sentido de salvaguardar o acervo.

Editora: Petrobrás Cenpes
Edição: 1ª impressão
Páginas: 303
Preço: O livro não está disponível para a venda. Todos os exemplares serão doados a bibliotecas de Arquitetura.