De Olho na Mídia

Eleições 2010: o dossiê da mídia

 

Aline Durães

Ilustração: João Rezende

No último dia 3 de outubro, mais de 135 milhões de eleitores foram às urnas para escolher deputados estadual e federal, senadores, governador e presidente. O pleito, considerado o maior da história do Brasil, envolveu 22 mil candidatos e custou cerca de 480 milhões de reais ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Os resultados obtidos nas urnas foram fruto de extensivo trabalho de partidos e de coligações. Mas, nesse processo, a imprensa também cumpriu papel crucial. Durante meses, leitores e telespectadores foram bombardeados com notícias, reportagens e artigos que, embora camuflados pelo tom de imparcialidade da mídia, visavam a formar a opinião do público acerca dos pretendentes a cargos políticos e, portanto, influenciar o voto.

Atentos a isso, professores da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ realizaram, na sexta-feira (1) anterior ao pleito, o debate “Eleições 2010: o dossiê da mídia”. A intenção do encontro, que contou também com a presença de jornalistas, sociólogos e midiativistas, foi desmistificar a aclamada neutralidade da imprensa brasileira. Os palestrantes citaram exemplos reais de como os meios de comunicação oferecem tratamento diferenciado aos diversos candidatos, tratamento esse pautado pelos interesses financeiros das corporações de mídia.

Para Giuseppe Cocco, professor da Escola de Serviço Social (ESS) da UFRJ, a mídia não permite a democratização da informação, na medida em que não preza pela pluralidade de opiniões. O cientista político pontua que, ao atacar constantemente seus adversários na política, a imprensa brasileira distorce a análise dos problemas enfrentados pelo país. “A mídia falsifica a dinâmica de transformações que o Brasil precisa. Ela divulga a prostituição infantil em Recife, por exemplo, e, tempos depois, critica o programa Bolsa Família. Mas como livrar crianças da prostituição se não através do fortalecimento da renda familiar?”, questiona.

Maurício Dias, jornalista da Carta Capital, um dos poucos veículos que declararam apoio político a determinados candidatos em seu editorial, pontua que a imprensa brasileira ainda é refém das relações comerciais com órgãos estatais: “a mídia nacional não se aceita como agente político e, por isso, se refugia nos argumentos de objetividade, imparcialidade e isenção. Ela ainda é deficiente e incapaz de sobreviver sem a participação dos anúncios estatais, como aqueles que financiam eventos esportivos transmitidos por emissoras de televisão, por exemplo”, observa.

A responsabilidade do jornalista

Marcos Dantas, professor da ECO-UFRJ e ex-jornalista econômico, acredita que o destino final dado à notícia depende, em grande parte, do comunicador. “São os profissionais de imprensa que vão buscar a notícia. Eles têm a informação e podem decidir o que sai nos jornais do dia seguinte, mas muitos renunciam ao controle da informação para tentar agradar o patrão e melhorar a carreira”, opina.

Em consonância com Dantas, Maurício Dias reforça que, em muitos casos, o jornalista sequer precisa ser orientado a seguir as normas editorias do veículo. “Os donos dos jornais e TVs não dizem o que o jornalista deve ou não fazer. Mas existe uma cultura que emana das paredes das redações que o impede de falar com a necessária naturalidade. Cada um sabe até onde pode ir”, destacou.

A onda da Internet

A internet promoveu transformações significativas não só na economia e na maneira de o homem se relacionar. Ela mudou também a forma de fazer política. Nas eleições 2010, a rede mundial de computadores foi utilizada pela maioria dos candidatos: eles criaram sites, participaram de debates on-line e administraram perfis em redes sociais para se aproximar do eleitorado. Para alguns especialistas, a internet é um ambiente democrático que dá voz a indivíduos excluídos das mídias tradicionais. “Ela tem papel fundamental. Se não tivéssemos a internet, o cenário dessas eleições seria completamente diferente”, avalia João Caribé, midiativista e dono do blog Entropia! (http://entropia.blog.br/)

Dardy Iguayara, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Rio de Janeiro, ressalta, entretanto, que, apesar de ser aberta e possibilitar o debate, a internet ainda não está acessível a todos. “Ela ainda é limitada, pois nem todos tem acesso à rede. Temos que lutar pela revolução do acesso. Essa é uma discussão que deve estar em voga nos próximos anos”, conclui.