Ponto de Vista

Os efeitos psicológicos do cárcere chileno

Ana Carolina Correia

Ilustração: João Rezende

Durante os últimos 38 dias um grupo de mineiros encontra-se preso a 700 metros de profundidade em uma mina de cobre no norte do Chile, confinados  num abrigo de não mais que 50 metros quadrados, ligados ao mundo exterior por um duto de apenas 15 centímetros de diâmetro. Os especialistas preveem o resgate para daqui a, no mínimo, dois meses.

Diante de um cenário tão delicado uma das maiores preocupações são os efeitos psicológicos que o cárcere pode causar nos 33 homens. “O adoecimento do corpo desse sujeito que está vivendo situações limites, seja ela o cárcere ou a guerra,  produz efeito subjetivo das mais variadas ordens. O efeito é que o sujeito está tendo seus movimentos controlados passa a ter como foco de pensamento apenas a questão do encarceramento. É como se o encarceramento fosse o limite da vida, onde tudo aquilo que perpassa pela sua vida tem passado por essa situação” diz Pedro Paulo Bicalho, psicólogo e professor do Instituto de Psicologia. 

Segundo o professor, o que mantém o homem saudável é o fato de que existem responsabilidades a serem cumpridas, como a família e o trabalho, e prazeres a serem apreciados. “O grande problema do cárcere é que lá se  impõe um mesmo assunto para remoer o tempo todo. Desse modo,  não há outros estímulos em que  se pensar, isso é algo terrível, porque quando se foca a atenção em uma coisa só, a  situação do aprisionamento se torna mais problemática.”

Diante desse cenário a Nasa, agência espacial americana, enviou especialistas para colaborar com o resgate. Entre os esforços, estão o envio de comida, o estabelecimento de contato dos mineiros com seus familiares e a simulação de dia e noite. Tudo isso, com a intenção de manter o indivíduo saudável, física e psicologicamente. “Essa interação do sujeito com a família, através dos bilhetinhos e dos vídeos, funciona de modo a criar outras coisas sobre o que pensar. É necessário mostrar a ele que existe uma família com que se preocupar, um mundo lá fora que está funcionando e não deixa de funcionar para eles. Não basta apenas dizer que o resgate chegará em dois meses”, explica Bicalho.

Tão importante quanto prover o resgate desses homens é criar um cenário capaz de mantê-los psicologicamente saudáveis, a fim de, dentro de alguns meses, reencontrarem suas famílias e retomarem suas vidas.