De Olho na Mídia

Pelo fim do preconceito contra os indígenas

Vanessa Sol


No final do mês de abril terminou a batalha judicial entre índios e rizicultores na reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. O prazo dado pela Justiça para que os rizicultores desocupassem espontaneamente a reserva foi no último dia 30. No entanto, o Supremo Tribunal Federal permitiu que os arrozeiros terminassem a colheita até o dia 10 de maio. A região, com 1,7 milhões de hectares, localiza-se no extremo norte do estado e faz fronteira com a Guiana e a Venezuela.

Há 30 anos, a reserva vinha sendo ocupada desordenadamente por não-indígenas, que se recusavam a deixar a região. As fazendas eram exploradas por seis famílias de agricultores de arroz ligados ao agrobusiness. Um dos argumentos utilizados para a permanência na área era que a demarcação iria favorecer a internacionalização do local.

De acordo com o professor João Pacheco, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia do Museu Nacional, é um mito acreditar que a demarcação de terras para os indígenas afete a nacionalização do país. Para o professor, esse argumento é construído pelos que representam e apoiam as oligarquias agropecuárias de Roraima, Mato Grosso, Rondônia, Pará, Goiás e São Paulo.

O professor afirma ainda que a cobertura midiática realizada, no caso de Raposa Serra do Sol, foi parcial e reforça uma visão anti-indigenista. “A mídia humanizou muitas das ações deploráveis que os rizicultores tinham em relação aos índios”, destaca.

O professor ressalta ainda que a mídia tem uma visão preconceituosa do índio, tende a mostrá-lo de maneira intransigente e acaba reproduzindo a opinião do senso comum. “O leitor quer ler a versão não-oficial. Ele quer saber quais são os argumentos dos indígenas. Isso a mídia não mostra”, afirma Pacheco. Na análise do professor, quantitativamente, a mídia mostra em grande parte o índio dançando, cantando ou realizando seus ritos.

Pacheco afirma que a visão da política indigenista adotada pelo atual governo tomou um rumo positivo apenas no segundo mandato do presidente Lula, com algumas demarcações de terras, mas que ainda faltam demarcações na região nordeste e no Mato Grosso. Para o professor a questão da Raposa Serra do Sol está ligada “a interesses regionais, econômicos e políticos; por isso o desequilíbrio da cobertura midiática em relação ao caso”.