De Olho na Mídia

Mídia pode desvendar tabus nas eleições

Júlia Faria

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No próximo domingo, 5 de outubro, aproximadamente 127,4 milhões de brasileiros exercerão seu dever cívico e irão às urnas escolher representantes para o governo municipal. A escolha daqueles que governarão o município implica que o eleitor se informe acerca de suas opções, afinal os eleitos serão, por quatro anos, responsáveis pelo desenvolvimento da cidade. Para oferecer tais informações ao eleitorado, os candidatos têm a opção de utilizar a propaganda política. Porém, além desta, há ainda a mídia, que pode atuar de forma a esclarecer os eleitores acerca daqueles que aspiram a algum cargo político.

Segundo Maria-Valéria Junho Penna, professora de Ciência Política, já aposentada pela UFRJ, não é possível escolher um candidato apenas com os conhecimentos obtidos na propaganda eleitoral, o que implica, portanto, a necessidade de outros mecanismos, como os veículos de imprensa. “Além de terem um horário eleitoral restrito, os candidatos têm suas campanhas subordinadas a diversas regras impostas pelo Tribunal Eleitoral que, visando promover uma igualdade de direitos a todos os candidatos, cria diversas normas que terminam por obstruir a informação necessária à escolha do eleitor. Logo, é preciso que a imprensa tenha uma maior atuação de forma a desvendar a história política dos possíveis governantes”, aponta a professora.

Valéria afirma, porém, que a mídia, por vezes, não desempenha esse papel investigativo de forma válida. “A imprensa não oferece ao eleitorado informações suficientes para que ele realize suas escolhas. E é notável que, quando bem informado, o indivíduo sabe optar com mais consciência na hora do voto”, afirma a professora.

A cientista política enfatiza que cabe à mídia o papel de esclarecer a biografia dos candidatos. De acordo com Valéria, a imprensa deve revelar o caráter dos possíveis governantes, pois é tendo conhecimento dele que o eleitor pode escolher em quem votar. “Acredito ser importante que os jornais nos ofereçam informações acerca da trajetória de vida dos candidatos, em lugar de apenas destacarem os programas de governo com o qual eles estão comprometidos. Afinal, todos fazem as mesmas promessas”, disse a professora.

Segundo Valéria, nos Estados Unidos e na Europa, a imprensa faz um levantamento sobre a vida política e as decisões dos candidatos, apontando o que eles já fizeram e como se posicionam diante de assuntos de interesse e nos casos que possam ser considerados controversos. “A imprensa americana ou européia não permite que nada na vida do candidato passe em branco; levanta aspectos acerca de seu posicionamento diante de questões ambientais, de igualdade de gênero, de corrupção eleitoral, políticas sociais, entre outros. E o mesmo deveria acontecer no Brasil”, diz Valéria.

A professora explica ainda que não compreende a mídia como mecanismo a exercer influência sobre a escolha do eleitorado. Valéria aponta que são poucas as pessoas que lêem jornal, enquanto a maioria prefere a televisão que, no entanto, não oferece muita informação a respeito dos candidatos. “A TV costuma promover debates e esses podem vir a influenciar o voto do eleitor caso o candidato não tenha habilidades para o discurso. Mas, no geral, vejo que a imprensa televisa não efetua uma cobertura muito consistente sobre as eleições”, afirma a cientista, que completa ainda apontando que as informações a serem divulgadas pela mídia são de certa forma tolhidas pelo Tribunal Eleitoral.

— A meu ver, a imprensa deve investigar e mostrar a evolução de pensamento e das atitudes públicas dos candidatos. A população merece que alguém questione àqueles em disputa por um cargo nestas eleições acerca de episódios em seus passados, com exceção para assuntos estritamente pessoais, que não foram devidamente esclarecidos e que não revelarão muitos aspectos de seu caráter. Eleição não pode ter tabu. E a mídia deve ser esse alguém a questionar — conclui a professora.