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A cultura afro em movimento

Raquel Gonzalez

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Criado em 2004, no Programa Interdisciplinar de Iniciação e Profissionalização Artística – Cia. de Dança Contemporânea da UFRJ, o Núcleo de Pesquisa em Dança e Cultura Afro investiga a corporeidade e a simbologia presente nas tradições religiosas da cultura afro-brasileira e, através da Cia. de Dança, incentiva a prática de produção artística e formação de platéia, utilizando a dança como ferramenta de linguagem.

A idéia desenvolvida pelo núcleo surgiu da pesquisa de mestrado “A dança do candomblé ao corpo interpretante dilatado” da diretora do grupo e professora do curso de graduação em dança da UFRJ, Tatiana Damasceno. E também das experiências e questionamentos realizados por ela como intérprete, coreógrafa, professora de dança e seguidora da religião candomblé.

A equipe do núcleo é formada atualmente por 10 alunos da UFRJ – de cursos variados, como dança, artes plásticas e comunicação – um funcionário e duas professoras do departamento de arte corporal. De acordo com Damasceno, o importante para a participação no projeto é o compromisso assumido com os objetivos do núcleo, é “vestir a camisa”, afirma. A professora salienta ainda: uma atitude aberta e criativa para novas possibilidades de expressões e vontade de se desenvolver dentro da sua área de competência são também fundamentais para a participação.

Questionada acerca de um possível perfil de público, Damasceno afirma que não há um perfil fixo, mas os afros-descendentes conectados de alguma maneira com a cultura afro-brasileira, através da religião, da literatura ou da música (hip-hop) aproximam-se do trabalho.

A articulação do núcleo com outras unidades da UFRJ ocorre através da participação de bolsistas e professores de outros cursos da instituição na Cia. de Dança. A interação com profissionais externos à Universidade também existe e surge através de convites a professores, bailarinos e músicos para participarem de algum projeto do núcleo.

As escolhas dos espetáculos são feitas a partir de imagens religiosas ou urbanas, de poemas ou mitos africanos ou de uma dança popular tradicional, não havendo forma predeterminada, explica a professora. Os principais projetos já desenvolvidos pelo núcleo são “Poetizando o candomblé”, “Lapsos de memória”, “Limiar” e o atual “Girakandombe”. A produção dos espetáculos é desenvolvida pelos bolsistas do Programa Interdisciplinar de Iniciação e Profissionalização Artística – concedida pela Pró-reitoria de Graduação (PR-1) – em parceria com a professora do Bacharelado em Dança responsável pela disciplina Produção Cultural.

– O Girakandombe é um espetáculo de dança contemporânea que cria diálogos entre o universo mítico afro-brasileiro e o contexto cotidiano através de tensões estabelecidas entre os indivíduos no espaço urbano. O palco, transformado em encruzilhada, serve como estrutura para a manifestação da diversidade de corpos que revelam neste espaço inquietações, conflitos e desejos, explica Damasceno.

O espetáculo coreográfico será apresentado nos dias 12 e 13 de setembro, no Centro Coreográfico da Cidade do Rio de janeiro – rua José Higino, n° 115, Tijuca. O público pode esperar um espetáculo de cores, imagens e gestos impregnados de cultura popular brasileira, afirma a diretora do núcleo.

Ao falar acerca da importância do curso de graduação em dança para a UFRJ e para as demais universidades, Damasceno enaltece o reconhecimento do curso como a legitimação de uma linguagem capaz de produzir conhecimento e um saber específico. Ressalta ainda o valor do curso para a sociedade em geral e principalmente para a população menos favorecida economicamente, já que a dança ainda é, segundo a professora, elitizada. “Acho que a universidade como um todo já excluiu o pensamento de que dança é passatempo e que através dela não se produz nada. Se ela não produzisse nada os intelectuais não freqüentariam o Theatro Municipal para assistir uma peça de dança”, conclui.