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Direção Teatral e a produção cultural na UFRJ

Julia Vieira

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O curso de Direção Teatral da UFRJ foi idealizado e fundado em 1993, mas sua primeira turma só ingressou na universidade um ano mais tarde. A idéia de criar um curso de Graduação ligado ao teatro surgiu quando o então diretor da Faculdade de Letras, professor Edwaldo Cafezeiro, e o professor Lauro Góes incentivaram sua criação. Ambos não aceitaram o absurdo de uma universidade do porte da UFRJ carecer de uma atividade teatral ligada à vida acadêmica. Neste momento, a Faculdade de Letras já oferecia um curso de Pós-graduação latu sensu em teoria e prática do Teatro e, a partir desta experiência, foi implantado o curso de Direção Teatral.

Apesar de ter sido pensado na Faculdade de Letras, o curso de Direção Teatral ficou alocado na Praia Vermelha, na Escola de Comunicação (ECO). Segundo Carmem Gadelha, coordenadora do curso, esta unidade foi escolhida levando-se em conta fatores importantes. “Apesar de caber perfeitamente na Faculdade de Letras, o curso ficou na ECO por total impossibilidade de ser executado à noite, na Ilha do Fundão. O teatro é uma atividade de profunda inserção na vida cultural da cidade, se o curso fosse realizado no campus do Fundão boa parte deste contato com a rica vida cultural do Rio de Janeiro se perderia”, opina a coordenadora.

Além da importância de uma boa localização, existe ainda um outro fato que explicita a lógica de funcionamento do curso de Direção Teatral na ECO: “Na atual configuração de arte contemporânea, a Escola de Comunicação e a Direção Teatral têm um campo de estudo e exploração muito abrangente. O teatro e a comunicação são dois grandes campos de atrito e espelhamento, o que possibilita trocas muito saudáveis da cena com o mundo das imagens”, complementa Carmem.


Atividades

A graduação em Direção Teatral tem um elevado índice de procura no Vestibular da UFRJ. Segundo Carmem Gadelha, o curso de Direção Teatral é o de maior procura (aferida pela relação entre candidato e número de vagas) dentre os cursos que realizam o Teste de Habilidade Específica (THE). Além disso, é notável, apesar dos problemas de infraestrutura, a evasão escolar praticamente inexistente. “O que existe entre nós e a ECO é um jogo de disciplinas e práticas acadêmicas compartilhadas entre os cursos. Essa troca é enriquecedora para os dois lados; ambos podem contar com experiências múltiplas e variadas acerca dos assuntos abordados”, avalia a professora. Tanto o teatro como a comunicação têm natureza transdisciplinar. Atualmente, cada vez mais se evidencia a necessidade de estabelecer campos comuns de Pesquisa e Ensino, dado o hibridismo de saberes e práticas artísticas.

Divulgação de espetáculos, fotografia, produção de imagens e produção gráfica são resultados da parceria entre os cursos da ECO; onde se iniciam também laboratórios e atividades disciplinares ligadas ao jornalismo cultural, à crítica teatral etc. Vale notar o interesse manifestado pelos estudantes de Comunicação nessas atividades. Para os alunos de Direção Teatral, existe um campo de produção de pensamento ligado ao papel da comunicação no teatro, que questiona o papel da imprensa, seja em divulgação ou em crítica.

O curso de Direção Teatral consegue contemplar o tripé no qual se baseia a universidade: Ensino, Pesquisa e Extensão. O Ensino está nas matérias teóricas e práticas de créditos obrigatórios (montagens de espetáculos), que dão o embasamento para o profissional. A Extensão se consolida na execução desses projetos de encenação realizados pelo aluno diretor, pela equipe formada por estudantes da Escola de Belas Artes (Cenografia e Indumentária) e pelos alunos da ECO. Os espetáculos acontecem semestralmente. E, por fim, acontece a Pesquisa no campo da linguagem teatral e de como as atividades ligadas ao teatro podem ser inseridas na comunidade.


Dificuldades

Apesar de seus 15 anos de existência, o curso ainda passa por graves problemas estruturais; um deles é a falta de espaço adequado para aulas práticas. O campus da Praia Vermelha tem em suas dependências o Teatro de Arena, localizado em um pátio interno do Instituto de Economia. A idéia de este espaço ser utilizado pela Direção Teatral já foi colocada muitas vezes em pauta, mas Carmem explica alguns fatores que inviabilizam a sua utilização. “O teatro é uma atividade barulhenta e a realização de nossas aulas e ensaios no Teatro de Arena atrapalharia o bom funcionamento das salas de aula circundantes”. Outro ponto a ser abordado é o Teatro de Arena ser um pátio interno a céu aberto, o que dificulta atividades em dias chuvosos. “O Teatro de Arena é um espaço importante e mais que desejado, mas ele, infelizmente, não se adequa a todas as nossas necessidades”, lamenta a coordenadora.

Uma das salas da ECO foi adaptada para melhor abrigar as atividades de teatro e passou a ser a Sala Oduvaldo Viana Filho, em homenagem ao grande ator, dramaturgo e diretor de televisão e teatro. Mesmo com essa providência, ainda é crucial para o curso conseguir um segundo espaço.


Companhia de Teatro

A Mostra de Teatro da UFRJ mobiliza cerca de 200 pessoas. “Nem mesmo companhias profissionais conseguem ter staff tão numeroso voltado para a produção de seus espetáculos”, afirma Gadelha.

A Mostra UFRJ é um festival de teatro que tem a capacidade de integrar diversos cursos e unidades da universidade, como a Escola de Belas Artes, outras - a Escola de Educação Física e Dança, a Escola de Música e a Faculdade de Letras - têm participado de maneira ainda incidental. A Mostra UFRJ é bastante divulgada para a comunidade externa e faz, em tempos de esvaziamento cultural das escolas de Ensino Superior, a UFRJ se inserir na produção cultural do Rio de Janeiro e assumir um importante papel.

Além da Mostra UFRJ, realizada anualmente, o curso tem também a Mostra Mais. Esta iniciativa, realizada semestralmente, é produzida por alunos de meio de curso para que se possa avaliar o desempenho e o desenvolvimento destes futuros diretores e produtores de teatro. Os espetáculos da Mostra Mais têm uma hora de duração e sua divulgação é mais voltada para o público da própria UFRJ.


Oportunidades no mercado de trabalho

Como para a maioria dos profissionais formados, o mercado de trabalho para o profissional de teatro é bastante competitivo, mas a coordenadora do curso acredita que os alunos formados em Direção Teatral pela UFRJ têm um diferencial atrativo. “Nosso curso forma um profissional multifacetado que sai da universidade como diretor de teatro, mas tem também uma boa bagagem em produção teatral”, ressalta.

Um outro diferencial é a formação intelectual dos alunos deste curso. ”Incentivamos nosso aluno a buscar sua expressão própria, a encontrar sua vocação através da liberdade de criação e experimentação estética e de linguagem. Formamos não apenas diretores de teatro,colaboramos para o desenvolvimento de pensadores do teatro”, analisa Carmem Gadelha.


Projetos e expectativas para o futuro

Existem muitos projetos a serem implementados e a coordenadora adianta os planos para 2008. A Sala Oduvaldo Viana Filho entra em obras ainda no mês de abril; espera-se que esteja pronta para a realização da Mostra da UFRJ no final do ano. Entre os dias 1° e 15 de julho ocorrerá a Mostra Mais.

Uma outra meta para 2008 é aprofundar as relações da Direção Teatral com o curso de Jornalismo, que fará uma revista para acompanhar o desenvolvimento da Mostra UFRJ. Além da revista dos alunos de Jornalismo, existe a idéia de que o evento também tenha sua cobertura divulgada em um site feito por alunos.

Depois de 15 anos de existência e de uma longa fase que Carmem classifica como de implantação e sobrevivência, o curso de Direção Teatral da UFRJ chega, enfim, à fase de consolidação. “Tudo o que construímos ao longo destes anos colaborou imensamente para dizermos, agora, que atividades de teatro com credibilidade e competência são possíveis dentro da universidade; tudo isto graças ao espírito de cooperação entre os diferentes cursos e instâncias acadêmicas e administrativas”, finaliza Carmem Gadelha.