Ponto de Vista

Vantagens e desvantagens de ser professor

Vanessa Sol

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Não há mais dúvida de que a Educação precisa ser priorizada no Brasil. No entanto, seu elemento chave, o professor, vem sendo precarizado pelos governos – que pouco investem em Educação – e desvalorizado pela sociedade – que desacredita deste profissional.

As adversas condições de trabalho, de salário, de infra-estrutura e de violência urbana atingem milhares de profissionais e escolas diariamente. As barreiras encontradas pelos docentes, no seu dia-a-dia, são inúmeras e fatores para desanimá-los não faltam.

Entretanto, apesar das adversidades, o magistério ainda consegue alcançar os corações de muitos jovens que acreditam na Educação. Outro fator de estímulo à docência é a grande oferta de vagas na área em todo país.

Para falar sobre as vantagens e desvantagens de ser professor no Brasil hoje em dia, o Olhar Virtual entrevistou a diretora da Faculdade de Educação da UFRJ, professora Ana Maria Monteiro; confira sua opinião a respeito do tema.

Olhar Virtual: A carreira de professor vem sendo, progressivamente, sucateada pelas medidas governamentais de suspensão de aumento salarial e pelas péssimas condições de infra-estrutura das escolas públicas brasileiras. Por que, apesar disso, essa é uma das poucas carreiras que possuem grande demanda no mercado de trabalho?

A carreira do professor vem sendo muito precarizada no Brasil, embora os políticos defendam a importância da Educação e a urgência de o Brasil avançar nos seus índices de inclusão na Educação básica. Contrariamente a este discurso, se vê um processo de precarização da profissão tanto no que diz respeito aos salários quanto às condições de trabalho. Além disso, há uma queixa recorrente no senso comum sobre formação dos professores; sobre uma alegação de defasagem frente às demandas da sociedade contemporânea. Acho esta uma crise muito grave, que precisa ser entendida e enfrentada considerando a complexidade dos processos educacionais e a importância estratégica da Educação básica em qualquer sociedade, não só no Brasil. Apesar desta precarização, ao longo dos anos, vem aumentado o número de estudantes que concluem a Licenciatura. Isso acontece porque o magistério é uma profissão que ainda tem emprego; os estado e os municípios sempre abrem concursos devido às suas demandas de vagas na rede pública.

Olhar Virtual: Como está a qualificação do professor atualmente?

Acho que o discurso de o professor estar desatualizado, de não saber nada, de ser incompetente, precisa ser revisto. Pela minha experiência de formar professores há muitos anos, eles são pessoas interessadas em aprender sempre mais. É claro que o professor precisa de cursos, assim como qualquer outro profissional em qualquer parte do mundo. Quem busca esta profissão hoje é porque acredita na Educação e quer contribuir de alguma maneira, quer descobrir o prazer de lidar com o jovem, de ajudá-lo a descobrir também, a torná-lo crítico. Além disso, o professor, hoje, vem sendo culpado constantemente por todos os fracassos na Educação. Eu considero isso uma injustiça contra este profissional. Este é um quadro complexo que precisa ser revisto. No Brasil como um todo, ainda há professores que não concluíram a Graduação. Mas, no eixo sul-sudeste, os professores têm o Ensino Superior completo, buscam a Pós-graduação e outros cursos de especialização e aperfeiçoamento. Existe um discurso do desqualificado que é feito para este profissional que está graduado e pós-graduado. Isso precisa ser modificado.

Olhar Virtual: Você acredita que o programa de bolsas de iniciação à docência da Capes será um diferencial na formação dos futuros professores?

É uma iniciativa muito boa. Na UFRJ, estamos tentando aperfeiçoar a política de estágios, escolhendo escolas que estejam em condições de atender nossos alunos da Licenciatura e a bolsa de iniciação à docência vai ajudar nesta questão. A Pró-Reitoria de Graduação (PR-1) está liderando este processo para definir como elas serão distribuídas na universidade.

Olhar Virtual: Faltam quase 250 mil educadores qualificados para atuar na rede pública de todo o Brasil, principalmente, no segundo ciclo do Ensino Fundamental (da 5ª a 8ª série) e no Ensino Médio. Como solucionar este déficit tão grande?

Hoje, os cursos de graduação a distância são buscados como alternativa a este problema. Os governos têm incentivado e as universidades públicas começam a assumir este trabalho. Isso é uma alternativa, mas ainda não é ideal, porque, para a formação do professor, a discussão teórica presencial é muito importante, assim como o estágio, pois é momento de troca de experiências. Só o trabalho teórico não é suficiente. Este é um desafio imenso que se tem pela frente com um país tão grande com tantos professores querendo se atualizar, e precisando fazê-lo. Outra alternativa a essa escassez, seria a ampliação dos cursos presenciais de Licenciatura em todos os estados.

Olhar Virtual: Deveria haver mais políticas públicas na área de Educação no Brasil? Como isso poderia ser feito?

Várias frentes poderiam ser adotadas. Uma delas seria dar condições às escolas de Educação básica para que elas possam funcionar, minimamente, com infra-estrutura adequada, tranqüilidade, professores em sala de aula, aulas começando no horário previsto, pagamento de salários melhores a fim de que os professores não precisem de tantos empregos e que tenham perspectiva de carreira, se estudarem e fizerem cursos. O profissional precisa se sentir valorizado pelo trabalho que faz. Os sistemas municipais e estaduais têm investido, e têm que investir mesmo, em centros de formação em serviço, cursos para professores que estão na escola. Precisamos de mais escolas (estrutura física), para acabar com a questão da improvisação (muitas escolas municipais ainda funcionam à noite como estaduais), porém isso implica maiores gastos. Se os governos acreditam e apostam em Educação, a profissão do professor deveria ser tratada com muito cuidado, mas não vemos isso. A justificativa dada pelos governantes é que se tem um contingente de professores muito grande e, então, não se pode pagar um salário maior. Mas, se é para investir, temos que investir e preciso fazer opções no que investir. Entretanto, o governo está abrindo várias frentes e projetos na área de Educação. Tem o projeto Escola Aberta que funciona nos finais de semana para que os jovens desenvolvam atividades culturais ou esportivas. Então, o governo financia universidades que tenham bolsistas para estas atividades.

Olhar Virtual: Quais são as vantagens de ser professor dos níveis Médio e Fundamental no Brasil?

É uma profissão na qual você tem liberdade para criar a partir do conhecimento; você tem a possibilidade de lidar com crianças e jovens, isso é muito bom; estimula sempre a busca pelo conhecimento; permite a transformação; ser um dinamizador cultural, ou seja, ser um professor-interlocutor das diferentes representações presentes.

Olhar Virtual: E desvantagens?

As condições nas quais a profissão vem se desenvolvendo, sejam elas de infra-estrutura ou salariais; falta de compromisso dos governos com a profissão, pois não tem o investimento que deveria ter; falta de apoio para enfrentar as situações de risco, de conflito e de violência urbana que repercutem na escola; falta de envolvimento com a família.

Olhar Virtual: Muitas vezes o professor tem seu trabalho desvalorizado. O que fazer para melhorar a auto-estima deste profissional?

O professor tem que refletir sobre a sua prática de trabalho diária e lembrar qual é o seu compromisso político com a sociedade em que ele vive. Se bem que tem pessoas que têm o compromisso político de manutenção das desigualdades, mas eu falo do compromisso de perspectiva progressista, de mudança social. As escolas têm que buscar o trabalho de equipe para enfrentamento dos problemas. Desta maneira, o professor não se sente sozinho nos seus objetivos.